sexta-feira, 15 de abril de 2022

 

Na minha opinião, a ideia de que lavar pratos é desagradável só pode ocorrer quando você não os está lavando. Uma vez que você está na frente da pia com as mangas arregaçadas e as mãos na água morna, é realmente muito agradável.

Gosto de tomar um tempo com cada prato, estar plenamente consciente do prato, da água e de cada movimento das minhas mãos. Sei que se me apressar para terminar, a fim de sentar-me mais cedo e comer a sobremesa ou tomar um chá, a hora de lavar a louça será desagradável e não valerá a pena ser vivida. Seria uma pena, pois cada minuto, cada segundo de vida é um milagre. A louça em si e o fato de eu estar aqui lavando são milagres!

Se sou incapaz de lavar os pratos com alegria, se quero terminá-los rapidamente para ir tomar uma sobremesa ou uma xícara de chá, serei igualmente incapaz de saborear minha sobremesa ou meu chá quando finalmente os tiver.

Se com o garfo na mão, fico pensando no que fazer a seguir, a textura e o sabor da sobremesa, junto com o prazer de comê-la, se perderão. Serei constantemente arrastado para o futuro, perderei completamente a vida e nunca serei capaz de viver no momento presente.

Cada pensamento, cada ação à luz do sol da consciência torna-se sagrado. Sob essa luz, não existe fronteira entre o sagrado e o profano.

Devo confessar que demoro um pouco mais para lavar a louça, mas vivo plenamente cada momento e sou feliz.

Lavar a louça é ao mesmo tempo um meio e um fim. Lavamos a louça não apenas para ter louça limpa, mas também lavamos a louça apenas para lavar a louça, para viver plenamente cada momento enquanto a lavamos e para estarmos verdadeiramente em contato com a vida.

 

Thich Nhat Hanh

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