Sempre
que nos atemos a somente um lado da realidade, nos perdemos em indignação ou em
um deleite parcial. Porém, se olharmos com mais cuidado, veremos eu a realidade
só tem um lado. Estrelas ou gotas de chuva, castanhas ou cinzas, bênçãos aparentes, desastres aparentes – quando a mente está clara, tudo é ocasião para
regozijo. Isso é que é discernimento.
Stephen
Mitchell
O
Tao que não pode ser nomeado é a inteligência do universo: tudo que está
acontecendo nesse instante. A mente que capta isso é a mente do não saber,
aberta a todas as possibilidades porque não crê nos próprios pensamentos. O que
há mais para ser dito? Apenas que há um esplendor nas pessoas conectadas com as
profundezas do não saber. Isso pode ser visto nos olhos delas. Não depende do
que acontece ou deixa de acontecer. Elas encontraram o tesouro inesgotável, no
lugar mais óbvio de todos.
Stephen
Mitchell
Essencialmente, essa estrutura a mais que cobre nossa vida não é real. Ela
surgiu devido ao mau uso de nossas mentes. Não é uma questão de se livrar dela,
uma vez que não tem realidade; é uma questão de ver sua verdadeira natureza. E
à medida que vemos essa natureza, em vez de ser tão espessa e escura, essa
cobertura torna-se mais transparente: vemos através dela. Iluminação (trazer
mais luz) é o que acontece na prática. Na verdade, não estamos nos livrando de
uma estrutura, estamos vendo através dela como o sonho que ela é, e à medida
que percebemos sua verdadeira natureza, sua influência em nossa vida
enfraquece; e assim podemos ver com mais precisão o que está acontecendo em
nossa vida diária. É como se tivéssemos que fechar o círculo. Nossa vida está
sempre ok.
Charlotte
Joko Beck (1917-2011)
Para entrar nesse reino invisível e de lá lidar com o que acontece,
você tem que entrar sem motivos ou explicações. Nesse reino, quando você vê,
ouve ou age, não existe o ato de ver, ouvir ou agir. Quando percebe que há algo
a ser feito, você naturalmente faz, de maneira plena e integral. Essa é a
realidade do vazio que se aplica a tudo e a todos.
Daehaeng Sunim (1927-2012)
Quando você entrega alguma coisa incondicionalmente à sua mente fundamental,
ela desaparece. Acontece assim: quando você deixa que as coisas sigam sem se
prender a elas, essa mensagem é comunicada a todas as partes do seu corpo. A mente
então acessa sua parte mais essencial, mais espiritual, e daí para as demais
partes do seu corpo. Se você desapegar sem pensamentos do tipo “está indo tudo
bem” ou “está indo mal”, ou quaisquer outras discriminações, as coisas que foram
entregues num nível inferior de espiritualidade desaparecerão e serão substituídas
por uma nova realidade. Porque o que você entrega sem condições, desaparece sem
condições.
Daehaeng Sunim (1927-2012)
A questão toda é que a mente-intelecto, que é o ego, está condicionada
desde o início a crer que tudo deve ter um propósito. Que a vida deve ter um
propósito. Que a vida é preciosa. Você observa a Natureza e vê que a vida é
tudo, menos preciosa. A vida não tem valor. Você não sente isso? Não tem valor.
Um pássaro põe ovos e outro os come, ou então outra pessoa os come.
O verdadeiro significado da vida é que a vida não tem sentido, ela simplesmente
acontece.
Ramesh
Balsekar
Cada um de nós tem essa incrível natureza Buda sem forma, este grande
pilar que envolve tudo. Tome este pilar como seu centro e fortaleça sua
capacidade de se desapegar. Desenvolva sua capacidade de confiar tudo a ela. Desse
modo, pegue todo sofrimento, toda doença, e queime tudo nela!
Daehaeng Sunim (1927-2012)
Nós temos nossa verdadeira pessoa, mas não vivemos com nossa verdadeira
pessoa, não reconhecemos nossa verdadeira pessoa. Nossa verdadeira pessoa não
tem posição alguma, não está dentro nem fora, não é iludida pelo nascimento e
pela morte, por ir e vir, por ter ou não ter, pelo que não fazemos ou não
fazemos. Nossa verdadeira pessoa é uma maravilha, e quando podemos ver isto,
estamos bem. Ainda temos nossos altos e baixos, mas não nos identificamos com
eles, sabemos que somos mais do que isso. Nosso grande êxito como praticantes é
percebermos nossa verdadeira pessoa.
Thich
Nhat Hanh
Não fico agitado. Apenas faço o que for necessário. Não me preocupo com
o futuro. Uma reação correta para cada situação é da minha natureza. Não paro
para pensar no que fazer. Eu ajo e vou adiante. Os resultados não me afetam.
Nem mesmo me importo se eles são bons ou ruins. Eles são o que são, seja lá o
que for – se eles voltarem até mim, eu lidarei com eles novamente. Ou melhor
dizendo, acontece de eu lidar com eles novamente.
Sri
Nisargadatta Maharaj (1897-1981)
O dharma não é uma coisa a ser procurada e descoberta. Ele já está
aqui. É uma verdade que se manifesta ou não nesse momento.
Temos confiança em nós mesmos< em nossa natureza de Buda? Se
tivermos confiança, não precisaremos buscá-la em conhecimentos e conceitos. A
base do nosso sucesso é confiarmos em nós mesmos.
Thich
Nhat Hanh
Vocês
não sabem que já são budas vivos, e pensam que alcançarão a iluminação e se
tornarão budas através do acúmulo de práticas meritórias. Mas estão enganados,
e por isso seguem cegos para a verdade. Iluminação é o oposto de ilusão. Como todos
nós somos budas, não há o mínimo de ilusão em cada um de nós. Sendo assim, por
que ansiar pela iluminação?
Bankei
(1622-1693)
Vocês
acreditam que seus pensamentos realmente existem, e por isso seguem presos à
roda da vida e morte. Saibam que seus pensamentos são irreais e efêmeros, por
isso deixe que venham e partam sem retê-los ou rejeitá-los. Eles são como
imagens refletidas em um espelho, e o espelho reflete porém não retém nenhuma
imagem. A mente búdica é milhares de vezes mais brilhante que qualquer espelho e
maravilhosamente esclarecedora. Sob sua luz todos os pensamentos se esvaem sem deixar
o mínimo rastro.
Bankei
(1622-1693)
A consciência é o nosso verdadeiro eu; é o que somos. Portanto, não
temos que tentar desenvolver a consciência; simplesmente precisamos perceber
como bloqueamos a consciência com nossos pensamentos, nossas fantasias, nossas
opiniões e nossos julgamentos. Ou estamos em consciência, que é nosso estado
natural, ou estamos fazendo outra coisa. A marca dos alunos maduros é que, na
maioria das vezes, eles não fazem outra coisa. Eles estão apenas aqui, vivendo
suas vidas. Nada especial.
Charlotte
Joko Beck (1917-2011)
Eu posso estar furioso, andando de um lado para o outro. Ao mesmo
tempo, sei o que sou, um centro de sabedoria e amor, um átomo de pura
existência. Tudo se aquieta e minha mente se funde no silêncio. Na verdade, a
zanga veio e se dissolveu quando me lembrei de mim mesmo. É tudo um jogo de gunas (qualidades da matéria cósmica). Quando me
identifico com elas, sou seu escravo. Quando fico à margem, sou seu amo.
Sri
Nisargadatta Maharaj (1897-1981)
A maioria de nossas dificuldades, nossas esperanças e nossas
preocupações são fantasias vazias. Nada jamais existiu, exceto este momento.
Isso é tudo o que existe. Isso é tudo o que somos. No entanto, a maioria dos
seres humanos gasta 50 a 90 por cento ou mais do seu tempo na imaginação,
vivendo na fantasia. Pensamos sobre o que nos aconteceu, o que poderia ter
acontecido, como nos sentimos a respeito, como deveríamos ser diferentes, como
os outros deveriam ser, como é tudo uma vergonha e assim por diante; é tudo
fantasia, tudo imaginação. Memória é imaginação. Cada memória que guardamos
devasta nossa vida.
Charlotte
Joko Beck (1917-2011)
O mistério (e a dor!) De nossas vidas é que estamos onde precisamos
estar, mas não sabemos disso. A odisseia espiritual, o empreendimento mais
profundo e significativo da vida, envolve grande esforço. Isso nos leva a
muitos desastres e problemas no curso inevitavelmente distorcido de nossa vida
e crescimento, e no final nos traz de volta de onde começamos, para nós mesmos,
só que agora com uma apreciação mais experiente. Há um antigo ditado Zen:
"Antes de começar a prática Zen, as montanhas eram montanhas e os rios
eram rios. Ao entrar na prática Zen, vi que as montanhas não eram montanhas e
os rios não eram rios. Agora, novamente, após um longo esforço, vejo que as
montanhas são montanhas e rios são rios. "A odisseia espiritual é cheia de
experiências de déjà vu, cheia de ironia, profundidade, estranheza e admiração.
Cheio de paradoxo. Nela tudo muda e nada muda. E todos faremos essa jornada,
cada um à sua maneira, não importa o quanto insistamos em ignorar, negar,
esquecer ou trabalhar contra isso.
Norman
Fischer