sexta-feira, 30 de maio de 2014

Sabedoria e ignorância



Sabedoria é reconhecer que o eu não existe. É reconhecer que todos os elementos e também seu corpo físico são meras imagens de um sonho, gotas d’água erguidas pelo vento e pelas ondas. Ignorância é insistir em acreditar que esse eu individual existe, esquecendo-se de que o corpo não poderá evitar seu próprio desaparecimento. Elimine esse eu e milhões de sofrimentos e confusões desaparecerão.  “Minhas coisas, meus pensamentos, minha fama, o que eu desejo...” tudo isso aprisiona você como se dentro de um barril.


Daehaeng Sunim
(em “No River to Cross – Trusting The Enlightenment That’s Always Right Here”)

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Viciados em esperança

A diferença entre teísmo e não-teísmo, não é sobre acreditar ou não acreditar em deus. É uma questão que se aplica a todo mundo, incluindo budistas e não-budistas. Teísmo é uma convicção, profundamente enraizada, de que existe uma mão pra segurarmos. Se nós fizermos as coisas certas, alguém vai nos apreciar e cuidar. Isso significa pensar que sempre vai haver uma babá disponível quando precisarmos. Todos nós somos inclinados a abdicar de nossas responsabilidades e dedicar nossa autoridade a algo fora de nós mesmos.

Não-teísmo é relaxar dentro da ambigüidade e incerteza do momento presente, sem tentar alcançar nada que possa nos proteger. Às vezes pensamos que Dharma é algo fora de nós. Algo para se acreditar, algo para se medir. No entanto, Dharma não é uma crença, não é um dogma. É uma total apreciação da impermanência e da mudança. Os ensinamentos se desintegram quando tentamos agarrá-los. Temos que experimentá-los sem esperança. Muitas pessoas corajosas e compassivas os experimentaram e os ensinaram. A mensagem é: “Sem medo”. Dharma nunca significou uma crença que nós seguimos cegamente. O Dharma não nos dá nada, mesmo, para segurarmos.

Não-teísmo é finalmente perceber que não há uma babá com que você possa contar. Você acaba de conseguir relacionamento bom e logo ela (ou ele) se foi. Não-teísmo é perceber que não apenas babás vêm e vão, mas toda a vida é assim. Essa é a verdade, e a verdade é inconveniente. Para aqueles que querem algo pra segurar, a vida é ainda mais inconveniente. Desse ponto de vista, teísmo é um vício. Somos todos viciados em esperança. Esperança de que a dúvida e o mistério irão desaparecer. Esse vício tem um efeito doloroso na sociedade. Uma sociedade baseada em montes de pessoas viciadas em conseguir terra firme para pisar não é um lugar muito compassivo.


Pema Chodron


quarta-feira, 28 de maio de 2014

Reflexo do sol na água

O tolo vê o reflexo do Sol na água de um jarro e pensa que ele é o Sol. Enredado na ignorância de sua ilusão, o homem vê o reflexo da Pura Consciência nos invólucros e o confunde com o Eu verdadeiro. Para olhar o Sol, deves afastar-te do jarro, da água e dos reflexos do Sol na água. O sábio sabe que estes só são revelados pelo reflexo do Sol, que brilha por si mesmo. Não são o próprio Sol. O corpo, o invólucro do intelecto, o reflexo da consciência sobre ele - nada disso é o Atman. Atman é a testemunha, a consciência infinita, o revelador de todas as coisas, mas difere de todas elas, quer sejam grosseiras ou sutis. É a realidade eterna, onipresente, que a tudo permeia, a mais sutil das sutilezas. Não tem interior nem exterior. É o Eu verdadeiro, oculto no santuário do coração.


Shankara

terça-feira, 27 de maio de 2014

Enganando a si próprio


Eu já cheguei a acreditar que as pessoas ansiavam por liberdade. Mas então eu vi que o que a maioria das pessoas está buscando na realidade é a realização de seus desejos. Elas estão mergulhadas em suas mentes, mas a mente apenas finge que deseja a liberdade. Ela não deseja a Liberdade absolutamente. É a última coisa que ela deseja, porque a Liberdade elimina a própria mente condicionada.

Mooji

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Não é preciso fazer nada para SER



E é preciso que haja essa flexibilidade, essa abertura – a qual está presente no ser – para de fato escutar e ver o sentido disso naquele momento.
Ver que, mesmo que se tenha que fazer algo para ver aquilo, não é preciso fazer nada para SER aquilo.
Então isso é um tipo de paradoxo que parece acontecer.
E na maioria das vezes somos molestados por esses pensamentos de que algo está obstaculizando.
Assim, há momentos em que vou lhe dizer: sim, às vezes essas coisas parecem estar no meio do caminho.
E aí eu também te pergunto, no caminho do que?
E o que está testemunhando o senso dessa obstrução no caminho de algo?

Quando a mente está em completo descanso, significando que ela não está carregando qualquer intenção, qualquer noção de que exista algo a ser obtido a fim de ser algo.
Ela é espontaneamente una.
Aí ela mesma é o Ser.
Abandone toda noção de que algo o impede de ser isto.
É apenas uma noção surgindo “nisto”.
Por que tão logo haja uma busca, há um sentimento de que algo está faltando.

E é por essa razão que existe a busca.

Mooji

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Desistir de todos os esforços





Todo esse conhecimento que adquirimos chamado “conhecimento espiritual” é apenas um espelho para o atemporal ver a si mesmo.
E por que razão?
Por nenhuma outra razão senão que de certa forma ele está fascinado por seu próprio reconhecimento.
Às vezes falamos também com um sentimento de que precisamos captar algo mais precisamente.
Então eu digo: “não, não há nenhuma necessidade no Ser”; ou então “tudo é o Ser”.

Se você desistir de todas as suas noções, de todos os esforços para chegar a algum lugar.
Simplesmente abandone-os aqui e agora, por que você tem esse poder.
Abandone-os!
Não deixe entrar os pensamentos de que “existe algo que eu tenho que fazer para estar mais presente”.
E no momento que você fica sem esse pensamento… uuufff!

O reconhecimento está aqui. 

Mooji

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Uma consciência contínua da impermanência

Precisamos incutir em nós mesmos uma consciência contínua da impermanência, que esteja viva momento a momento. Isso porque a vida é uma corrida contra a morte, e a hora da morte é desconhecida. Contemplar a aproximação da morte muda as nossas prioridades e nos ajuda a abrir mão do envolvimento obsessivo com coisas ordinárias. Se permanecermos sempre conscientes de que cada momento pode ser o nosso último, iremos intensificar a nossa prática para não despediçarmos nem fazermos mal uso da nossa preciosa oportunidade humana. À medida que amadurece  contemplação dessa verdade, será fácil aprendermos os mais elevados, os mais profundos ensinamentos budistas. Vamos ter alguma compreensão de como funciona o mundo, como as apaências surgem e se transformam. Vamos passar de um mero entendimento intelectual da impermanência para a compreensão de que todas as coisas sobre as quais baseávamos nossa crença na realidade são apenas um cintilar de mudança. Começaremos a ver que tudo é ilusório, como um sonho ou uma miragem. Embora os fenômenos apareçam, na verdade nada estável está de fato presente.

Chagdud Tulku Rinpoche
(em “Portões da Prática Budista”)
 

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Pedir a uma nuvem que interprete o céu.



A Consciência não é um objeto,
Não é uma coisa
Não pode ser estudada
Porque todo o resto ocorre na Consciência
E passa através da Consciência
De fato, seria como pedir a uma nuvem
Que interprete o céu
Ou mesmo que muitas nuvens se reúnam
Para transmitir uma compreensão
Ou expressar a realidade do céu infinito
Não é possível, porque o céu é permanente
E as nuvens não são, vem e vão.
Então, se temos um pensamento ou idéias
Sobre quem somos
São como nuvens
Não são permanentes

Estão mudando constantemente.

Mooji

terça-feira, 20 de maio de 2014

Prazer na espera

Se aprendermos a ter prazer na espera, não precisamos esperar para ter prazer. Se o deleite se torna imediato, a maior parte dos problemas na vida passa.

Kazuaki Tanahashi
(em “O Coração do Pincel”)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Mais simples do que o simples



Assim, meu desafio para você é: e se você não tiver que fazer nada a respeito de nada?
Nada mesmo. Nada a fazer, coisa alguma a fazer sobre nada.
Sim, pode preparar um chá, porque isso não causa nenhum problema.
O que quer que você tenha que fazer.
Responder o telefone, tomar notas, bla, bla, bla…
Mas isso não é seguido pela idéia de que haja algo que eu preciso fazer para tornar-me estável na Pura Consciência.
Porque, eu lhe digo, isso é uma armadilha! Esqueça isso.
Se você tocar nessa idéia você imediatamente a torna real então você tem que acreditar em outra idéia para remover essa.
Então porque não abandonar ambas em primeiro lugar e ficar onde você está?
Você está simplesmente aqui, dentro do qual tudo aparece para você inclusive o sentimento de espiritualidade. Esqueça a espiritualidade!
Esqueça a iluminação. Esqueça tudo. Esqueça você.
E o que permanece aqui?
Aquilo do qual não se pode se livrar permanece.

É só isso. Mais simples do que o simples.

Mooji

sexta-feira, 16 de maio de 2014

O que significa estar desperto?



O que significa estar desperto?
É simplesmente estar desperto para a nossa natureza eterna,
O nosso ser eterno
Compreender que não somos nossos condicionamentos.
Compreender isto não só intelectualmente ou mentalmente,
Mas ser uno com esta compreensão


Dentro de nosso coração.

Mooji

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Deixar de ser



Há quase trinta anos, no Japão, quando eu era um artista iniciante (e ainda sou), tomava chá com um velho mestre zen-budista e um escultor de renome. O escultor disse: “Estou passando por uma crise. Não consigo mais criar. O que fazer?” O velho mestre replicou: “Parece que o problema é você ser um escultor. Por que não abandona a escultura? Se você deixar de ser um escultor, terá chance de se tornar um verdadeiro escultor.” “Roshi”, disse eu ao mestre zen, “o senhor não acha que é tempo de deixar de ser um mestre zen para que possa ser um verdadeiro mestre zen?” “Você me pegou meu jovem”, tornou ele, “mas será que você não sabe que eu já deixei de sê-lo há muito tempo? Ha, há, há, há!” “Puxa”, exclamei, “o senhor se saiu bem.”

Kazuaki Tanahashi
(em “O Coração do Pincel”)

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Quando o "eu" vem primeiro


Em geral, vivemos nossas vidas nos termos do mundo que percebemos. Quando agimos assim, enfatizamos a nós mesmos. Colocamos o “eu” em primeiro lugar. Em outras palavras, rebaixamos tudo aos nível de nossas próprias opiniões e sentimentos. Agindo assim, nunca esquecemos de nós.

É por isso que frequentemente nos sentimos irritados e ansiosos. E quanto mais pusermos o “eu” em primeiro lugar, mais irritação, ansiedade, sofrimento e medo nós sentiremos.

Dainin Katagiri
(em “You Have to Say Something”)


terça-feira, 13 de maio de 2014

Morrer a cada momento



Mudar a cada momento significa morrer a cada momento. E também significa renascer a cada momento. Os tolos se agarram aos momentos que passaram e assim vivem vidas fúteis, ao passo que os sábios, compreendendo que tudo muda a cada instante, aplicam esse princípio em suas vidas e vivem livremente.

Nada no universo permanece o mesmo, nem por um instante. Há apenas mudança e manifestação, portanto não há nada que possa ser carregado por você. Por isso, quando não há pensamentos fixos sobre o “eu”, até mesmo o sofrimento deixa de existir. E mesmo não havendo nada que possa ser carregado, você acredita que sustenta algumas cargas e se compromete com essas ideia fixa.

Mas quando você reconhece que tudo muda a cada instante, que tudo é vazio, então não há nada ao qual se prender. As formas são vazias, os pensamentos são vazios, as palavras são vazias, nome e títulos são vazios – tudo é vazio.


Daehaeng Sunim
(em “No River to Cross – Trusting The Enlightenment That’s Always Right Here”))

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Manifestando o self original


Quando se compreende profundamente a vida humana, não há nada a dizer. Em outras palavras, a natureza original do self não é apenas uma ideia a se ter em mente.

O self verdadeiro se manifesta na vida diária. Como podemos manifestar esse self original? Com plena concentração e desapego. Um outro nome para o desapego é sabedoria – o conhecimento profundo que mantém a vida equilibrada, com paz e harmonia. E plena concentração significa fundir-se ao zazen quando fizer zazen, fundir-se à reverência quando fizer reverência, e assim por diante.

Fundir-se ao zazen não é fácil, requer uma grande determinação. Em outras palavras, você deve entregar-se completamente ao zazen. Dogen Zenji nos diz para abandonar os conceitos de bom e mau, certo e errado – e não ter nem mesmo qualquer desejo de iluminar-se. Quando você se torna inteiramente um com o zazen, não existe apego. Essa é a verdadeira mente pacífica, harmoniosa.

Dainin Katagiri
(em “You Have to Say Something”)

sexta-feira, 9 de maio de 2014

A vida como um rio


A água do rio flui sempre, sem cessar. Flui rápida, não para um só instante e se vai. Seu murmúrio evoca em mim o eco do tempo.

A água do tempo brilha no leito do Universo, sempre correndo, fluindo. Pedras, árvores, casas e cidades também fluem vagarosamente nesta correnteza, assim como os pensamentos, as civilizações, nossas vidas e as vidas de todos os seres. Tudo isso pode parecer imutável, mas na verdade essa ideia não passa de uma ilusão.

Apenas nós, seres humanos, acreditamos que tudo é imutável. Esforçamo-nos para não sermos levados pela correnteza, e lamentamo-nos por tudo que se vai. No entanto, mesmo sofrendo e desdobrando-nos por evitar, caindo sete vezes e nos levantando oito, não há como parar o fluir, que envolve também nossa dor e nossa luta.

Ao invés disso, é melhor ver as coisas como são e nos juntarmos a essa correnteza, com suavidade. Apenas assim poderemos encontrar prazer na fugacidade das coisas, uma vez que é justamente essa fugacidade que tece as mais diversas figuras na tapeçaria da vida.

Shundo Aoyama Roshi
(em “Para Uma Pessoa Bonita – Contos de Uma Mestra Zen”)

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Escutar o rio


 
Quando as ondas da nossa mente se acalmam, podemos ouvir o sermão sem palavras da água, das gotas, das ervas das árvores, dos seixos e das montanhas nos ensinando a transitoriedade de todas as coisas.

Quando o olhar da mente é límpido, vemos tudo como realmente é, de modo natural. Mas assim que os olhos se distraem com objetos externos, não vemos mais.

Se escutarmos o rio sem atenção, a água que corre parece ter um ritmo constante e ininterrupto. Entretanto, nenhuma gota d’água passa duas vezes pela mesma pedra.

A vida humana não é diferente. Acreditar que ontem é igual a hoje é resultado de nossa insegurança e insensibilidade. São nossos olhos deludidos que veem o passado igual ao presente. Os olhos iluminados veem claramente a imagem das coisas em eterno movimento e reconhecem que  um instante é diferente de qualquer outro.

Shundo Aoyama Roshi
(em “Para Uma Pessoa Bonita – Contos de Uma Mestra Zen”)

quarta-feira, 7 de maio de 2014

A natureza original

Sua natureza original* é como uma gigantesca fornalha. É essa fornalha que age com o poder espiritual de todos os Budas, englobando todos os reinos visíveis e invisíveis. Ela existe em você. Assim como o ferro numa fornalha, suas lágrimas transformam-se em compaixão, e todas as suas dores renascem como gratidão. Qualquer tipo de desastre ou carma doloroso é um floco de neve diante dela. Essa natureza original é a mente misteriosa e profunda que todos possuem e que detém o incrível poder de Buda.

*em coreano: juingong

Daehaeng Sunim

(em “No River to Cross”)

terça-feira, 6 de maio de 2014

A existência não termina nessa vida


Satisfações temporárias não resolvem o problema fundamental. Você precisa saber que nossa existência não termina ao fim dessa vida. Além do mais, tudo, mesmo a menor coisa que faça em segredo, retornará a você como carma.



Daehaeng Sunim
(em “No River to Cross – Trusting The Enlightenment That’s Always Right Here”)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Tocar o momento

Se você penetrar no fundo do sofrimento, perceberá a ausência de ego e o vazio que está ali. Então reconhecerá a impermanência como sendo a Realidade. Isso se chama sabedoria. A sabedoria é uma compreensão muito profunda. É maravilhosa. Mas você não deve repousar na Realidade que alcançou, pois terá que seguir o fluxo da impermanência, sendo sempre inteiro a cada momento. Se parar, morre, pois sua vida se tornaria água estagnada.
Tocar o momento significa tocar a Realidade.

Dainin Katagiri
(em “Each Moment is the Universe”)
 

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Eterno, sem manchas, precioso

Tudo no universo, os reinos visíveis e invisíveis, estão conectados e se relacionam como um só. Nada existe separado de tudo o mais: a mente de todos os Budas é sua própria mente, e o Dharma de todos os budas é a sua própria vida diária.

Quando o “eu” - a obscurecida ilusão do self - é completamente abandonada, surge algo que é eterno. É a natureza de Buda, o self eterno que nunca nasceu e jamais morrerá. É o self sem manchas e que transcende todo  sofrimento. É o self precioso e bem-aventurado além de qualquer comparação, que jamais surge ou desaparece, que nunca aumenta ou diminui, e nunca é sujo ou limpo. Mas as pessoas comuns não são capazes de perceber esse self eterno porque não conseguem fugir da prisão de seus próprios conceitos.

Daehaeng Sunim
(em “No River to Cross”)