O som da chuva

No Japão, conversando com um grande mestre, comentei sobre as várias pessoas que vinham traduzindo livros sobre o Zen. Ele então disse, “É perda de tempo. Se você realmente quer entender o Zen...pode usar qualquer livro. Você pode usar a Bíblia. Pode usar Alice No País das Maravilhas. Você pode usar até mesmo um dicionário... Porque o som da chuva não precisa de tradução.

Alan Watts

Sem paciência para as agruras

Perdi a paciência para dar confiança às agruras da vida, que vão acontecendo a ver se nos tramam. Há coisas que acontecem para que eu sofra e eu não sofro. Não tenho paciência.

Valter Hugo Mãe

Vegetariano

Quando comemos carne tornamo-nos também responsáveis pelas mudanças climáticas, a destruição de nossas florestas e o envenenamento do ar e das águas. O simples ato de tornar-se vegetariano fará diferença na saúde de nosso planeta.

Thich Nhat Hanh

(em “The World We Have: A Buddhist Approach to Peace and Ecology”)

O que realmente vale

Uma sábia mulher que viajava pelas montanhas encontrou uma pedra preciosa nas margens de córrego. No dia seguinte, ela deparou-se com um andarilho que dizia estar faminto. A mulher então abriu sua sacola de viagem e pôs-se a compartilhar a comida que tinha.

O andarilho faminto viu então a pedra preciosa dentro da bolsa da mulher e pediu que ela a desse para ele. A mulher, sem qualquer hesitação, tirou a pedra da bolsa e a entregou. O andarilho se foi, satisfeito com sua boa sorte. Ele sabia que a pedra valia o suficiente para sustentá-lo com folgas pelo resto da vida.

Porém, poucos dias depois o viajante voltou e devolveu a pedra preciosa à mulher. E explicou:

“Eu estava pensando... Eu sei o valor dessa pedra, mas voltei para que você me dê algo ainda mais precioso. Por favor, me dê também isso que fez com que você se desapegasse tão facilmente dessa pedra."

Anônimo

Nada é separado

Nossa jornada individual interior é parte da jornada do mundo. Negar isto é viver dentro do véu da separação. Uma simples consciência da unidade nos unifica com toda a vida, com cada pedra, cada inseto, cada lata de refrigerante amassada no lixo. Somos a vida mesmo, respirando, sofrendo, regozijando. Somos a dor do doente e o sorriso da criança. Não somos melhores nem piores que qualquer partícula da criação. (...) Nada é separado. 

Llewellyn Vaughan-Lee (mestre Sufi)
(publicado no site Sangha Virtual)

Quem é você

Sua personalidade é uma projeção, o seu nome é só um rotulo, o seu corpo é impermanente, seu “status” é irrelevante, sua opinião é só um ponto de vista, seus pensamentos e emoções são temporários e relativos a sua experiencia.

A continuidade do seu ”eu separado” é recriada a cada milissegundo pelo seu cérebro. No tempo que você estava lendo isso, o seu cérebro criou você milhares de vezes, e deixou para trás milhares de fantasmas de você. Você morre a cada instante e um novo você nasce, mas a sua mente se apega a imagens e as idolatra, coloca-as em pedestais e as protege com toda sua força.

Você não é a vida que vive, não é o carro que tem, nem quanto dinheiro tem no banco. Você não é sua personalidade e nem os seus pensamentos.

Você é infinitamente maior do que acha que é, só esqueceu de sua essência, sua conexão, o seu amor, o verdadeiro amor!

Não se prenda a conceitos desse mundo e dessa pequena vida, vá alem!

Você é consciência pura, você é o Observador, você é o Agora!

Este estado de consciência é o que Buda chamava de "tathāgata", o verdadeiro ser, em tradução livre significa “aquele que se foi” e “aquele que chegou”, significando que está além dos fenômenos da realidade de tempo e espaço.

Quem você é, é absolutamente inimaginável…

Quando você parar de se imaginar sob qualquer forma, ocorre uma revelação que nunca foi falada, mas será experimentada diretamente.

Gangaji

Ouvindo com a mente do silêncio

Ouvindo com a mente do silêncio,

todo canto de pássaro

e todo murmúrio dos galhos de um pinheiro ao vento

falará para nós.

Thich Nhat Hanh

(em Silêncio – O Poder da Quietude Num Mundo Barulhento”)

A lua refletida no oceano

Quando nos livramos de nossas ideias, pensamentos e conceitos, abrimos espaço à nossa verdadeira mente. Na mente verdadeira há o silêncio de todas as palavras e ideias, e é muito mais vasta do que as construções mentais limitadas. Apenas quando o oceano está calmo e tranquilo, podemos ver a lua refletida nele.

Thich Nhat Hanh

(em Silêncio – O Poder da Quietude Num Mundo Barulhento”)

Transformação autêntica

Para promover uma transformação autêntica em nosso coração, precisamos entender que a meditação não serve para nos escondermos ou nos sentirmos melhor. Serve para nos envolvermos com a vida, seja como for que ela se apresente a cada momento. À medida que desenvolvemos a capacidade de estar presente em cada situação, começamos a perceber nossos padrões habituais e nos tornamos capaz de rir deles.

Brother Phap Hai
(em “Nothing To It: Ten Ways To Be At Home With Yourself”)

Meus únicos pertences

Minhas ações são meus únicos pertences.

Thich Nhat Hanh

Meu verdadeiro lar

Quantos de nós possui um lar verdadeiro? Quantos se sentem confortáveis em seu próprio país? Eu tenho um lar e me sinto muito confortável, mesmo estando exilado do meu país natal há quarenta anos. Meu verdadeiro lar não é limitado por um determinado lugar ou tempo. Meu verdadeiro lar é o momento presente, seja o que for que estiver acontecendo aqui e agora.

Thich Nhat Hanh
(em “At Home in the World: Stories and Essential Teachings from a Monk's Life”)

Me dê sua mão

Me dê sua mão.

Vamos caminhar.

Vamos somente caminhar.

Apreciaremos nossa caminhada

sem nos preocuparmos em chegar 

                              a algum lugar em especial.

Thich Nhat Hanh

Expandir o coração

Se derramarmos um punhado de sal em um copo com água, a água se tornará intragável. Mas se você derramar o sal em um rio, as pessoas poderão continuar a usar a água para cozinhar, banhar-se e beber. O rio é imenso, e por isso tem a capacidade de receber, acolher, e transformar.  Se nossos corações são pequenos, nosso entendimento e compaixão são limitados, e nós sofremos. Não conseguimos aceitar nem tolerar os outros e suas limitações, e exigimos que eles mudem. Mas quando nossos corações se expandem, nada disso nos faz sofrer. Nós temos muita compreensão e compaixão, e podemos acolher o próximo. Aceitamos as pessoas como elas são, e então todos têm uma chance de se transformar.

Thich Nhat Hanh

Cada momento é de despertar

Estamos tão convencidos de saber o que seja comer, o que seja caminhar. Achamos que sabemos o que seja sentar-se em meditação. No entanto, uma das primeiras coisas que descobrimos quando começamos a praticar é que fazemos essas coisas inconscientemente. Quando nos aproximamos conscientemente desses momentos até então descuidados e quase esquecidos, começamos a reaprender e descobrir o que realmente seja comer, caminhar, sentar-se em meditação. E assim nos tornamos mais e mais vivos. Cada momento torna-se um momento real quando nele temos a oportunidade de encontrar o Dharma.

Esses momentos em nossas vidas diárias não são desperdiçados ou perdidos. Eles são a vida em si, são nossa prática. Eles podem ser momentos de despertar, de abrirmos o coração, se permitirmos que sejam. Isso cabe somente a nós.

Brother Phap Hao
(em “Nothing To It: Ten Ways To Be At Home With Yourself”)

Tocar a paz

A paz está em torno e dentro de nós. Sempre que tocarmos essa paz, nos sentiremos curados e transformados. Isso não é uma questão de fé, mas sim de prática.

Thich Nhat Hanh

Não é você quem desperta

Por favor, entenda que não é você quem desperta; é a Realidade que desperta, a Verdade desperta. Você não está iluminado; a iluminação está iluminada. Em última análise, isso não tem nada a ver com indivíduos, uma vez que não existem quaisquer indivíduos separados.

Essa é a ilusão, de que existe algo separado da Realidade última. Quando fica claro que não há nada acontecendo que não seja a Realidade última, "caso encerrado" - a iluminação ocorre naturalmente.

Adyashanti
(retirado do facebook)

Cada passo

Cada passo que deres deve ser um novo passo que reduza completamente a cinzas a tua vida passada. Em cada estágio de crescimento – semente, rebento, caule, folhagem, flor, fruto – a planta realiza a sua natureza-Buda. Em cada estágio de nossa viagem – infância, adolescência, maturidade, velhice – realiza-se a completa natureza-Buda.

Hogen Daido
(em “No Caminho Aberto”)

Os pensamentos simplesmente surgem

Ao observarmos com cuidado a natureza dos pensamentos, e em particular o quê ou quem está observando os pensamentos que surgem, a maioria de nós assumiria que “Bem, sou eu quem estou testemunhando esses pensamentos.” “Eu” e “você”, indivíduos distintos, seriam aqueles que “pensam”. Quem mais poderia ser, afinal?

Mas se observar mais cuidadosamente, você verá que na realidade não é você quem pensa: os pensamentos simplesmente surgem. Eles surgem quer você queira ou não, e deixam de surgir quer você queira ou não. Sua mente simplesmente pensa por conta própria, e para de pensar quando quer.

Se parar de tentar controlar a mente, você reconhecerá que os pensamentos surgem de um espaço (vazio) muito amplo. Essa é uma descoberta extraordinária, porque nos mostra que há algo que existe além dos pensamentos, e que nós, na realidade, não somos aquilo que nossos pensamentos criaram.

Adyashanti
(em “Falling into Grace”)

Descansar no estado natural

A iluminação é o estado natural de consciência, o estado inocente de consciência, aquele estado incontaminado pelo pensamento, incontaminado pelo controle ou manipulação da mente. Isto é iluminação. Não podemos chegar a esta realidade da nossa natureza através da manipulação.

Não podemos ir além da falsa identidade, a identidade egoica, por meio de tentativas de mudança. Nós podemos apenas começar a deixar que a consciência desperte de sua identificação com os pensamentos e sentimentos, com o corpo, a mente e a personalidade, e nos permitirmos desde o início descansar no estado natural.

Adyashanti

(retirado do facebook)

Quando o vento sopra, a grama se curva

O Caminho é simples, fácil, mas profundamente vasto. Não pode ser alcançado por meio de práticas e nem pode ser obstruído, pois sua radiância atinge a tudo, em todas as direções. Então teu coração torna-se puro, e passas a compreender tudo o que virá e tudo que já passou.

Quando a realização é plena, teus movimentos são livres e desapegados mesmo em meio às dificuldades. Sem aferrar-se a algum conceito e não adotando nenhuma atitude planejada, livremente podes afirmar: "quando o vento sopra, a grama se curva.

Yuan-wu (1063-1135)

Meu destino a cada passo

Não me perguntes para onde vou: meu destino se encontra em cada passo que dou.

Dogen

Sério por inteiro

Quando você é sério por inteiro, você faz com que cada incidente se adeque a seu propósito, a cada segundo de sua vida. Você não desperdiça tempo e energia com outras coisas. Sua dedicação é total, quer você a chame de vontade, amor, ou pura e simplesmente, honestidade.

Sri Nisargadatta Maharaj

(em “Eu Sou Aquilo”, pág 111 - Tradução para o português de Patrícia de Queiroz Carvalho Zimbres. Editora Satsang)

Ensinamentos transmitidos em cada momento

O verdadeiro ensinamento não está contido nas palavras. O familiar ditado zen lembra-nos que os ensinamentos falados e escritos são como "um dedo apontando para a lua". Ele aponta o caminho e não deve ser confundido com a própria lua. Ensinamentos estão sendo transmitidos em cada momento — através do som do vento nas árvores, do sol quente, da nossa respiração consciente e interações corporais — se nos permitirmos estar disponíveis para eles.

Phap Hai

(monge de Plum Village (Thich Nhat Hanh), em “Nothing To It: Ten Ways to Be at Home with Yourself” – traduzido por Leonardo Dobbin no site Sangha Virtual)

A paz já está aqui

A pessoa procura a paz e não a encontra. Porque a Paz não é uma dádiva que vem do exterior. Paradoxalmente, ela vem do interior, quando aquela “pessoa” que aparenta estar buscando é reconhecida como sendo uma ilusão.

Confie. Quando existe a intenção real de descobrir a verdade, a Graça revela aquilo que a mente não consegue alcançar. Pois a Paz já está aqui, além da mente, esperando para ser reconhecida. É Presença pura, eternamente disponível. É sinônimo de seu verdadeiro Eu, mas não de seu eu condicionado. Você existe sem esse ser condicionado, mas esse ser condicionado não pode existir sem você. Volte a atenção para dentro de si e diferencie o Real do irreal.

Mooji

Sofrimento ilusório

Não existe alguém aqui que sofra. É a ideia que tenho de mim que aparentemente sofre.

Mooji
(em “Before I Am”)

A vida não é difícil

Algumas vezes, em nossas vidas, ficamos ansiosos e sentimos medo. Essa, porém, não é a verdadeira vida.

Você diz, “A vida é difícil!”. Mas a vida não é difícil.

Você a torna difícil.

Porque tudo, qualquer coisa, depende de você.

Você é a fonte da vida na qual está vivendo.

Mooji

(em “White Fire”)

Você será livre

Uma vez que deixe de se apegar e permita que as coisas sejam como são, você será livre. Você transformará tudo. E estará em paz onde quer que esteja.

Bodhidharma

Há Dharma em limpar latrinas

Quando você cantar, tente ser plenamente consciente. Se você estiver limpando uma latrina ou limpando um banheiro, não sinta que está fazendo isto como um favor para outro. Há Dharma em limpar latrinas. Não sinta que está praticando apenas quando sentado imóvel, de pernas cruzadas. Alguns de vocês reclamam que não tem tempo suficiente para meditar. Há tempo suficiente para respirar? Esta é a sua meditação: plena consciência, naturalidade no que você estiver fazendo.

Ajahn Chah

Seriedade

Como o ser vivo que é, você está preso numa situação dolorosa e insuportável, e você procura uma saída. Mas é a seriedade que liberta, não a teoria.

Sua sinceridade o guiará. A devoção à meta da liberdade e da perfeição fará com que você deixe de lado todas as teorias e todos os sistemas, e passe a ser guiado pela sabedoria, pela inteligência e pelo amor ativo.

Concentração, plena confiança, vontade pura!

Sri Nisargadatta Maharaj
(em “Eu Sou Aquilo”, pág 110 - Tradução para o português de Patrícia de Queiroz Carvalho Zimbres. Editora Satsang)

Poema de Ricardo Reis: Colhe o dia, pois és ele

Uns, com os olhos postos no passado,

Vêem o que não vêem: outros, fitos

Os mesmos olhos no futuro, vêem

O que não pode ver-se.

Por que tão longe ir pôr o que está perto —

A segurança nossa? Este é o dia,

Esta é a hora, este o momento, isto

É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora

Que nos confessa nulos. No mesmo hausto

Em que vivemos, morreremos. Colhe

O dia, porque és ele.

Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
(em “Odes”)