Quando a identidade aparente, mas ilusória, chamada pessoa desaparece na consciência da potencialidade total
que ela é
e sempre foi, isso se
chama iluminação.
Ramesh
Balsekar
Temos muito pouca fé no universo. Fé aqui não significa apenas ficarmos
sentados e não fazermos nada, mas sim entender a escala dos acontecimentos. Na
verdade, não temos que fazer tudo pessoalmente. Se conseguirmos nos plugar
nessa… não sei bem como chamar… nessa espécie de energia universal, as coisas
se ajeitarão por si. Porém, se tentamos fazer tudo sozinhos, essa energia
universal meio que recua e diz: “Ok, vá em frente.”
Jetsunma
Tenzin Palmo
Tornamos nossa vida muito pesada. Temos fardos incrivelmente pesados,
que carregamos conosco como pedras dentro de uma grande mochila. Pensamos que
carregar esse mochilão é a nossa segurança, pensamos que nos dá base. Não
percebemos a liberdade, a leveza de simplesmente largar, soltar a mochila. Isso
não significa abandonar os relacionamentos, não significa abandonar a
profissão, a família ou a casa. Não tem nada a ver com isso, não é uma mudança
externa. É uma mudança interna. É a mudança de deixar de segurar com muita
força para segurar bem de leve.
Jetsunma
Tenzin Palmo
Somente quando aceitarmos e entendermos profundamente em nosso ser, que
as coisas mudam de momento a momento e nunca param um instante sequer, só então
conseguiremos soltar. E, quando realmente soltamos dentro de nós, o alívio é
enorme. Ironicamente, isso dá vazão a toda uma nova dimensão de amor. As
pessoas pensam que se alguém é desapegado, é frio. Mas isso não é verdade.
Qualquer um que encontre grandes mestres espirituais, realmente desapegados,
ficará impressionado com o afeto deles por todos os seres, não só aqueles dos
quais gostam ou com quem se relacionam. O desapego libera algo muito profundo
dentro de nós, porque libera aquele nível de medo. Todos nós temos muito medo:
medo de perder, medo da mudança, uma incapacidade de simplesmente aceitar.
Jetsunma
Tenzin Palmo
Por que razão um homem liberto deveria, necessariamente, obedecer a
convenções? No momento em que se torna previsível ele deixa de ser livre. Sua
liberdade reside em ser livre para agir conforme a necessidade do momento,
obedecer aos requisitos da situação. Liberdade para fazer o que se gosta, na
verdade, é aprisionamento, ao passo que ser livre para fazer o que se deve, o
que é certo, é a liberdade real.
Sri Nisargadatta Maharaj (1897-1981)
Não podemos sair correndo das sensações, precisamos conhecê-las.
Sensações são apenas sensações, felicidade é apenas felicidade, tristeza é
apenas tristeza. Elas são simplesmente isso. Então por que precisamos nos
apegar elas? Para a mente sábia, ouvir isso já é suficiente para permitir que
seja feita a separação entre as sensações e a mente.
Ajahn
Chah (1918-1992)
Na prática Zen tratamos cada momento com a mente clara e aberta.
Subitamente você experimenta uma calma absoluta, que ilumina sua vida, enchendo-a
de luz e clareza. Sua vida então passa a ser calma e, ao mesmo tempo, dinâmica.
Isso é paz, harmonia, repouso e felicidade. Em japonês chamamos isso de anjin, “mente pacífica”.
Dainin
Katagiri (1928-1990)
Um praticante de meditação não deve trilhar o caminho da felicidade ou
da tristeza, mas deve conhecê-los. Ao reconhecer a verdade do sofrimento, ele
irá conhecer a causa do sofrimento, o fim do sofrimento e o caminho que leva ao
fim do sofrimento. E a saída para o fim do sofrimento é a meditação. Dito de
maneira simples, precisamos ser vigilantes.
Ajahn
Chah (1918-1992)
A iluminação é a remoção da identificação com o mecanismo individual
corpo-mente. Num ser iluminado, não existe um agente separado. Todos os
conceitos cessaram. Tudo o que mudou foi a atitude, a perspectiva e a
compreensão do iluminado. Um iluminado apenas testemunha, testemunha até mesmo
seu papel. Testemunha toda reação, sem se envolver. Ele não recusa e nem
aceita.
Ramesh
Balsekar
Nós realmente não vivemos, mas estamos sendo vividos. Não há nada em
qualquer lugar a não ser um Eu universal e impessoal, e nenhum objeto em
qualquer lugar tem existência independente desse Eu. Uma vez que haja uma clara
apreensão de que o ser humano individual é uma parte inseparável da totalidade
da manifestação fenomênica e que ele não pode se retirar da totalidade como uma
entidade independente e autônoma, o homem naturalmente deixa de ter intenções
pessoais. Quando ele está convencido de que viver é uma espécie de sonho em que
não pode ter nenhum controle efetivo sobre suas circunstâncias ou sobre suas
ações, todas as suas tensões cessam e uma sensação de liberdade total se
instala. Ele então aceita de boa vontade e livremente tudo o que surge em seu
caminho dentro da totalidade de funcionamento que esta vida de sonho é.
Ramesh
Balsekar
O Buda ensinou que o caminho que leva ao fim do sofrimento é fazer o dharma surgir como realidade dentro de nossas mentes. Nós
nos tornarmos aqueles que testemunharam o dharma por nós mesmos. Se alguém disser que somos bons, não
iremos nos perder nisso; se disserem que não somos bons, não nos esqueceremos
de nós mesmos. Dessa maneira, podemos ser livres. O bem e o mal são apenas dharmas mundanos, estados da mente. Se os seguirmos, nossa
mente torna-se o mundo; buscaremos às cegas na escuridão e não saberemos onde
está a saída.
Ajahn
Chah (1918-1992)
Cada momento da vida cotidiana é uma grande oportunidade para você experimentar
o samadhi, porque cada momento é o lugar onde você pode se
tornar um com o que estiver acontecendo. Ao invés de usar a
energia da vida para criar a dicotomia sujeito-objeto, use-a para unificar seu
corpo e sua mente em samadhi. Sua consciência autocentrada irá desaparecer e
você poderá reconhecer a imensidão e a grandeza de sua vida.
Dainin
Katagiri (1928-1990)
Quando você e sua respiração são um só, a vida é sentida integralmente.
Essa é a perfeita concentração: sua mente está focada, e não há brecha entre a
respiração e você. Há apenas o respirar, e esse é o ritmo da vida, isso é samadhi. Quando você medita em samadhi, sua meditação não é apenas você – ela é o ritmo
do próprio universo.
Dainin
Katagiri (1928-1990)
O homem realizado é consciente e afetuoso – com intensidade. Ele olha
para si próprio sem permitir autodefinições e identificações. Ele não se vê
como algo separado do mundo. Ele é o mundo. Ele está completamente livre de si
mesmo, como um homem que é muito rico, mas que incessantemente distribui suas
riquezas. Ele não é rico, pois nada tem, e não é pobre, pois dá abundantemente.
Ele é desprovido de ego, não se identifica com o que quer que seja. Além das
palavras e dos pensamentos, ele é.
Sri
Nisargadatta Maharaj (1897-1981)
Todos nós temos problemas constantemente, mas nossa disposição de apenas ser está muito baixa em nossa lista de prioridades, até que tenhamos praticado por tempo suficiente a ponto de ter fé em apenas ser, para que as soluções possam aparecer naturalmente. Outro sinal de uma prática amadurecida é o desenvolvimento dessa confiança e fé.
Charlotte
Joko Beck (1917-2011)
A
mente só consegue criar as qualidades de bom e mal fazendo comparações. Remova
a comparação e lá se vão as qualidades. O que permanece é o puro desconhecido:
o objeto incompreensível, o sujeito incompreensível e a luminosidade da consciência
fluindo.
O pivô do Tao é a mente livre de seus pensamentos. Ela não crê que isto é um isto e aquilo é um aquilo. Deixa Sim e Não correrem em torno da circunferência rumo a uma linha de chegada que não existe.
Mas no centro, os olhos se abrem novamente e é a doce manhã do mundo. Nada há aqui para imitá-lo, nenhum limite. De fato, não há ninguém aqui – nem mesmo você.
Stephen
Mitchell
E dizer que não há esperança não é nada pessimista. Não pode haver
esperança porque não há nada além deste exato momento. Quando esperamos,
ficamos ansiosos porque nos perdemos entre onde estamos e onde esperamos estar.
Nenhuma esperança (desapego, o estado iluminado) é uma vida de
estabilidade, de equanimidade, de pensamento e emoção genuínos. É o fruto da
verdadeira prática, sempre benéfica para si mesmo e para os outros, e vale a
pena a devoção e prática sem fim que isso acarreta.
Charlotte
Joko Beck (1917-2011)
O Mestre
não cai na armadilha dos opostos.
Ele
vê que a vida torna-se morte
e
a morte torna-se vida, que o certo
traz
em si a semente do errado
e
o errado a semente do certo,
que
o verdadeiro torna-se o falso
e
o falso, verdadeiro.
Ele
entende que nada é absoluto,
que
como todo ponto de vista
depende
de quem vê,
afirmação
e negação
não são o ponto em questão.
Chuang-Tzu
(?-286 a.C.)
Os
antigos Mestres de fato viam intimamente. Perceberam que como nada durava mais
que o instante fugidio, em última instância nada existia. Se nada existe como o
conhecemos, se tempo e espaço são categorias intelectuais, não há nada que
possamos captar de verdade, ordenar ou desordenar. Isso nos deixa livres. O mundo
todo é um palco e nós somos os não-atores. Será que a vida pode ser tão simples
quanto isso?
Stephen
Mitchell
Uma
vez que nossas mentes estiverem totalmente treinadas, tudo é bom. Na matemática
da paz mental, três é igual a quatro, um é igual a zero. Adaptar-se à realidade
significa reconhecer que nada a sustenta nem a ela se sobrepõe. O Mestre
consegue seguir dois cursos de uma só vez, como um fóton, porque sua mente é
livre. Ele é subatômico e superabundante. Sabe que todos os caminhos são o
Caminho e que no fundo ele não está vindo nem indo.
Stephen
Mitchell
Eu luto com minha vida porque em vez de apenas fazer o que precisa ser
feito, eu luto contra o medo subjacente; Tento destrancar a porta.
Paradoxalmente, a única maneira de destrancar a porta é esquecê-la.
Em vez de ficarmos obcecados com a porta trancada, precisamos cuidar de
nossas vidas, o que significa limpar a casa, cuidar do bebê, trabalhar, o que
for.
Charlotte
Joko Beck (1917-2011)