Na minha opinião, a ideia de que lavar pratos é desagradável só pode
ocorrer quando você não os está lavando. Uma vez que você está na frente da pia
com as mangas arregaçadas e as mãos na água morna, é realmente muito agradável.
Gosto de tomar um tempo com cada prato, estar plenamente consciente do
prato, da água e de cada movimento das minhas mãos. Sei que se me apressar para
terminar, a fim de sentar-me mais cedo e comer a sobremesa ou tomar um chá, a
hora de lavar a louça será desagradável e não valerá a pena ser vivida. Seria
uma pena, pois cada minuto, cada segundo de vida é um milagre. A louça em si e
o fato de eu estar aqui lavando são milagres!
Se sou incapaz de lavar os pratos com alegria, se quero terminá-los
rapidamente para ir tomar uma sobremesa ou uma xícara de chá, serei igualmente
incapaz de saborear minha sobremesa ou meu chá quando finalmente os tiver.
Se com o garfo na mão, fico pensando no que fazer a seguir, a textura e
o sabor da sobremesa, junto com o prazer de comê-la, se perderão. Serei
constantemente arrastado para o futuro, perderei completamente a vida e nunca
serei capaz de viver no momento presente.
Cada pensamento, cada ação à luz do sol da consciência torna-se
sagrado. Sob essa luz, não existe fronteira entre o sagrado e o profano.
Devo confessar que demoro um pouco mais para lavar a louça, mas vivo
plenamente cada momento e sou feliz.
Lavar a louça é ao mesmo tempo um meio e um fim. Lavamos a louça não
apenas para ter louça limpa, mas também lavamos a louça apenas para lavar a
louça, para viver plenamente cada momento enquanto a lavamos e para estarmos
verdadeiramente em contato com a vida.
Thich
Nhat Hanh