A consciência armazenadora opera na ausência da consciência
mental. Pode fazer muitas coisas. Pode fazer muito planejamento; pode tomar
muitas decisões sem você saber. Provavelmente temos a impressão que somos pessoas livres, ao usar nossa consciência mental para selecionar coisas das quais
gostamos. Mas isso é uma ilusão. Tudo já foi decidido na consciência
armazenadora. Naquele momento fomos capturados; não somos pessoas livres. Nosso
senso de beleza, nosso gostar ou repugnar, foi decidido certamente e muito
discretamente no nível da consciência armazenadora.
É uma ilusão que somos livres. O grau de liberdade que
nossa consciência mental tem é na verdade muito pequeno. A consciência armazenadora
dita muitas das coisas que nós fazemos, porque ela continuamente recebe,
abraça, mantém, processa, e toma muitas decisões sem a participação da
consciência mental. Mas se nós soubermos a prática, poderemos influenciar nossa
consciência armazenadora; poderemos ajudar a influenciar o modo como nossa
consciência armazenadora armazena e processa informação para tomar melhores
decisões. Nós podemos influenciá-las.
Quando você estiver ao redor de um grupo de pessoas, embora
queira ser você mesmo, você está consumindo os seus modos, e você está
consumindo as suas consciências armazenadoras. Nossa consciência é alimentada
por outras consciências. O modo que nós tomamos decisões, nosso gosto e
aversão, depende do modo coletivo de ver as coisas. Você pode não ver algo como
bonito, mas se muitas pessoas pensam que isto é bonito, então lentamente você
pode vir também a aceitar isto como bonito, porque a consciência individual é
composta da consciência coletiva.
Nós somos influenciados pelos modos coletivos de ver e
pensar. É por isso que selecionar as pessoas que estão ao seu redor é muito
importante. É muito importante se cercar de pessoas que têm bondade,
compreensão e compaixão, porque dia e noite somos influenciados pela
consciência coletiva. A consciência armazenadora nos oferece iluminação e
transformação. Esta possibilidade é contida em seu terceiro significado, sua
natureza de sempre fluir.
Thich Nhat Hanh
(em "Corpo e Mente em Harmonia: Andando Rumo à Iluminação")