Algumas pessoas esqueceram sua divindade tão completamente
que não têm realmente nenhum interesse. Eu mesmo, numa época, não estava
interessado em despertar, não me interessava por esse tipo de coisa. Eu tinha
outros interesses, mas não isso. De onde veio então esse interesse? Surgiu no
meu coração e de alguma forma chegou ao lugar em que se encontra agora, quando
há paz em mim, em meu coração, paz em minha mente. Não a paz vinda de algo, nem
sequer por alguma razão. É simplesmente Paz, Alegria, Silêncio e Amplitude.
Como isso surgiu em alguém tão comum como eu? Por isso,
vejo que é possível para todos, pois não sou mais especial que ninguém. A
pessoa pode parecer completamente desinteressada e até mentalmente obscura, e
no entanto, sua vida pode mudar. Ela pode chegar a uma compreensão total, ou a
um completo despertar. Este é o verdadeiro Milagre.
Uma transformação orgânica, uma mudança radical, sem que se
consiga explicar a causa. Não significa porém que algumas pessoas tenham sorte
e outras não. Aquelas que sentem que é chegado o momento de descobrir, começam
a sentir-se diferentes, sentem-se atraídas, começam a procurar por livros
espirituais, não se interessam mais por livros românticos. Querem saber sobre o
Buda. Se você lhes der um livro de viagem, elas não querem, o que desejam é
saber o que Buda disse sobre essas coisas.
O que as leva a pensar desta maneira? Não sabemos.
Simplesmente esta atração floresce dentro de seus corações, e então começam a
pensar diferente. No sonho que é a vida precisa haver esses opostos, como esquecer e lembrar. Se nunca sentíssemos ódio ou tristeza, não saberíamos o
que é o Amor ou a Felicidade. De certa forma, aprendemos através dos opostos.
Logo, se estivéssemos, como você diz, ‘todos despertos e divinos’, não
saberíamos o que é Despertar. Não saberíamos o que é a Divindade, não
saberíamos absolutamente nada. Na verdade, no estado original não sabemos
absolutamente nada, porque não há nada mais que saber. Quando você é completo
em sua harmonia natural, não sabe absolutamente nada.
O que há para saber? Qual é a razão para saber algo, você
está em completa Alegria! Quando você está feliz, você não quer saber nada,
você simplesmente está feliz, não é? Mas quando está triste você quer saber
muitas coisas. Quando estamos sofrendo e
com dor então surge essa pergunta: por que devemos sofrer dessa maneira? Não
perguntamos isso quando estamos nos divertindo. Estamos suficientemente alegres
para apenas continuar nos divertindo. Mas quando sofremos, quando sentimos dor
ou perda ou temos uma profunda ferida emocional, aí surgem essas perguntas, ‘o
que é essa vida’?, ‘por que estamos aqui?'.
Mooji
(entrevista em Buenos
Aires – 2009)