Nossa identidade, que parece tão confiável,
tão concreta, na verdade é muito fluida, muito dinâmica. As possibilidades do
que pensamos e sentimos e o modo pelo qual podemos experimentar a realidade são
ilimitados. Temos o que é necessário para nos libertar do sofrimento de uma
identidade fixa e nos conectar com a natureza fugidia e misteriosa do nosso
ser, que não tem identidade fixa. Seu senso de você mesmo – de quem pensa que é
no nível relativo – é uma versão muito restrita de quem realmente é.
Mas a boa nova é que sua experiência imediata
– quem você parece ser nesse momento preciso – pode ser usada como entrada para
sua verdadeira natureza. Por meio do pleno envolvimento com esse instante
relativo do tempo – o som que ouve, o cheiro que sente, a dor ou conforto que
sente agora – estando totalmente presente em sua experiência, você entra em
contato com a abertura ilimitada do seu ser. Todos os nossos padrões habituais
são esforços para manter uma identidade previsível: “ Sou uma pessoa raivosa”;
“Sou uma pessoa amistosa”; “sou um verme”. Podemos trabalhar com esses hábitos
mentais quando eles surgem e ficam com nossa experiência, não só quando estamos
meditando, mas também no cotidiano. Estejamos a sós ou na companhia de outros,
não importa o que estejamos fazendo, a inquietude pode vir para a superfície a
qualquer instante. Podemos achar que esses sentimentos pungentes, penetrantes,
sejam sinais de perigo, mas na verdade são sinais de que acabamos de entrar em
contato com a fluidez essencial da vida. Ao invés de nos escondermos desses
sentimentos, ficando na bolha do ego, podemos deixar passar a verdade de como
as coisas realmente são. Esses momentos são grandes oportunidades. Mesmo que
estejamos cercados de gente – numa reunião de negócios, digamos – ao sentirmos
a inquietude surgindo, podemos simplesmente respirar e encarar os sentimentos.
Não é preciso entrar em pânico e nos fecharmos em nós mesmos. Não é preciso
reagir do modo habitual. Não é preciso lutar ou fugir. Podemos ficar envolvidos
com os outros e ao mesmo tempo reconhecer o que estamos sentindo.
Pema Chodron
(em “A Beleza da Vida”)
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