Práticas budistas são técnicas que usamos para lidar com
nosso auto-acariciamento habitual. Cada uma é projetada para atacar hábitos
individuais até que a compulsão de se agarrar a um “eu” seja completamente
erradicada. Então, embora uma prática possa parecer budista, se ela reforça o
apego a si, na verdade é muito mais perigosa que qualquer prática abertamente
não-budista.
O objetivo de um número excessivo de ensinamentos hoje em
dia é fazer as pessoas “se sentirem bem”; alguns mestres budistas estão até
começando a soar como apóstolos New Age. Suas palestras são inteiramente
voltadas para validar as manifestações do ego e apoiar a “nobreza” de nossos
sentimentos, coisas que não têm nada a ver com os ensinamentos que encontramos
nas instruções essenciais.
Então, se você está preocupado apenas em sentir-se bem,
será muito melhor receber uma massagem corporal completa ou ouvir alguma música
enaltecedora, ou do tipo “viva a vida!”, do que receber ensinamentos do darma —
que definitivamente não foram projetados para te animar. Pelo contrário, o
darma foi tramado especificamente para expor suas falhas e fazer você sentir-se
horrível.
Para Kongtrul Rinpoche, quando um praticante para de
considerar uma grande coisa aquilo que costumava dar muito importância o tempo
todo, esse é um sinal de que a prática do darma está dando frutos. Por exemplo,
antes de se tornar um genuíno praticante, receber um elogio sobre seu cabelo
iria te intoxicar de deleite, enquanto a mera sugestão de que ele estava um
pouco menos que perfeito imediatamente te jogaria na espiral descendente da
depressão.
Nem chegar a reagir em qualquer uma das situações é um
sinal de que a prática está dando frutos e que você está se tornando um
praticante autêntico do darma, e isso é muito melhor do que ter um milhão de
elogios, sonhos encorajadores ou sensações de êxtase.
É um grande erro pressupor que praticar o darma irá nos
ajudar a acalmar e a levar uma vida sem problemas; nada poderia estar mais
distante da verdade. Darma não é uma terapia. É bem o oposto na verdade: o
darma é algo sob medida para virar sua vida de cabeça para baixo — é justamente
isso que você encomendou.
Então, quando sua vida sai completamente do planejado, por
que você reclama? Se sua prática e sua vida não capotarem, esse é um sinal de
que o que você está fazendo não está funcionando.
É isso que distingue o darma de métodos New Age envolvendo
auras, relacionamentos, comunicação, bem-estar, a Criança Interior, ser um com
o universo e abraçar árvores. Do ponto de vista do darma, tais interesses são
os brinquedos de seres samsáricos — brinquedos que rapidamente nos entediam até
a letargia.
Dzongsar Khyentse Rinpoche