segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Huang Po: Ser livre dos falsos conceitos




Ser completamente livre dos falsos conceitos é ter a Sabedoria do Desapego. A cada dia, quer você esteja andando, parado, sentado, deitado, falando, siga desapegado de tudo no âmbito dos fenômenos. Quer esteja falando ou meramente piscando os olhos, faça-o com completo desapego.

Você deve abandonar qualquer doutrina que pregue a existência ou não–existência, pois a Mente é como o sol, eternamente vazia, brilhando espontaneamente. Brilhando sem intenção de brilhar. Isso não é algo que se possa compreender sem esforço, mas somente quando você alcança o ponto de não se apegar a nada – nem ao esforço – estará agindo como um Buda. Estará de acordo com a sentença: “Desenvolver uma mente que não repouse em nada”.  Esse é exatamente o puro Dharmakaya, também chamada a perfeita e suprema Iluminação.


Huang Po



sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Huang Po: Qualquer concepção é ilusória


No ensinamento dos Três Veículos é claramente explicado que tantos mentes comuns como mentes iluminadas são ilusões. Vocês não entendem isso.  Ocorre que qualquer apego à uma ideia existente, a um conceito (ilusão, iluminação), só serve para confundir o vazio com a verdade. Por isso, qualquer concepção é ilusória. E por ser ilusória, esconde a Mente Autêntica de você.

Apenas quando abandonar os conceitos de mente comum e mente iluminada, você descobrirá que não existe outro Buda que não seja o Buda que reside em sua própria Mente. Quando Bodhidharma veio para o Ocidente, ele afirmou que a substância da qual são compostas todas as pessoas é o Buda.

Huang Po

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Huang Po: Quando todas as formas são abandonadas


Quando todas as formas são abandonadas, há o Buda.

As pessoas comum buscam fora de si, e os seguidores do Caminho olham para a própria Mente. Mas o verdadeiro Dharma é abandonar a ambos!

O Vazio é o reino do Dharma real. Essa natureza iluminada é sem começo,  antiga, não sujeita ao nascimento e à destruição, nem existente nem não-existente, nem pura e nem impura, nem barulhenta e nem silenciosa, nem velha e nem jovem. Não ocupa qualquer espaço, não possui interior ou exterior, tamanho ou forma, cor ou som. Não pode ser vista ou escutada, compreendida pelo estudo, explicada por palavras, tocada ou alcançada por méritos. 

Huang Po


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Auxiliando todos os seres



No plano relativo, tomar refúgio no Buda, no Dharma e na Sangha nos protege dos problemas que possamos encontrar aqui e agora nesse mundo. Num nivel mais alto, tomar refúgio possibilita que nos libertemos plenamente dessa existência condicionada através da prática. Tomar refúgio nos permite então, pouco a pouco, adquirir liberdade real e aplicá-la a serviço dos outros. Um sincero, altruístico desejo de progredir para ajudar aos outros é um pré-requisito básico para entrar no caminho do despertar e alcançar o estado de buda. Desenvolvemos, do fundo do coração, o desejo de libertar todos os seres do sofrimento, e para isso dedicamos a força da nossa aspiração no estudo do Dharma, refletindo sobre ele e praticando com nossa mente, fala e corpo. É isso que dá à nossa vida seu verdadeiro significado: praticar o Dharma para poder liberar todos os seres do sofrimento. Somente com essa intenção devemos iniciar o caminho espiritual.

Se realmente desejarmos auxiliar todos os seres, alcancemos a iluminação. Só então poderemos conduzir os outros para essa direção.

Lama Gendun Rinpoche
(em “Heart Advice of a Mahamudra Master”)


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Huang Po: Abrir mão de tudo


Despertar para a realidade de que sua própria Mente é o Buda, e que não há nada para ser alcançado ou qualquer ação a ser feita, esse é o Caminho Supremo. Isso é realmente ser um Buda!

A cada instante, não acreditar na forma; a cada instante, nenhuma atividade intencional – isso é ser um Buda! Se vocês, praticantes do caminho, desejam tornar-se Budas, não precisam estudar qualquer doutrina mas somente aprender como evitar buscar fora de si e apegar-se ao que quer que seja.

Abrir mão de tudo é o Dharma, e aquele que compreende isso é um Buda.

Huang Po

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Huang Po: A prática maior


Nenhuma prática se compara à eliminação imediata do pensamento conceitual, no saber que não existe nada que possua existência absoluta, nada a qual se possa agarrar, nada no qual apoiar-se, nada a reverenciar, nada subjetivo ou objetivo.  É superando o surgimento do pensamento conceitual que você se ilumina; e quando isso acontece, você estará realizando o Buda que sempre existiu em sua Mente! Eras infinitas de lutas provaram ser de esforços inúteis. Por isso o Buda afirmou: “Eu verdadeiramente não alcancei nada, ..."

Huang Po

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Huang Po: A Mente Pura


Essa Mente Pura, a fonte de tudo, brilha eternamente sobre tudo com a intensidade de sua perfeição. Mas as pessoas não despertam para isso, considerando  apenas aquilo que vêem, escutam, sente e conhecem como sendo a realidade. Se elas eliminassem o pensamento conceitual por um instante, essa substância original manifestaria-se como o sol iluminando o vazio e o universo inteiro, sem barreiras ou limites.

Acima, abaixo e em torno de você, tudo está espontaneamente existindo. Não há qualquer lugar onde não esteja a Natureza de Buda.


Huang Po

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Enganando a nós mesmos

Intelectualmente nós sabemos tudo isso, mas o nosso contínuo apego aos assuntos mundanos mostra que não estamos verdadeiramente conscientes da inexorável impermanência de nossa existência. Ignoramos o fato de que a morte pode nos surpreender a qualquer momento e preferimos acreditar que ainda teremos tempo suficiente para isso ou aquilo. Continuamos a projetar nossas esperanças no amanhã e a sonhar com uma vida melhor. Acreditamos que o destino olhará por nós. Na verdade, estamos enganando a nós mesmos: se não fizermos algo decisivo agora, nosso futuro não será diferente.

Lama Gendun Rinpoche
(em “Heart Advice of a Mahamudra Master”)

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Momentos de felicidade


Nós podemos reconhecer os momentos de felicidade que estão disponíveis todas as horas e todos os dias.

Isso é a prática da mente atenta. Somente com a mente atenta nós podemos reconhecer a nossa felicidade. Muitas vezes a felicidade está disponível, mas não a reconhecemos. Com a prática da respiração consciente, somos capazes de reconhecer os muitos momentos de felicidade que ocorrem em nosso dia a dia. Podemos estar apenas lavando vegetais ou fervendo água para preparar um chá; com a mente atenta, podemos reconhecer que esse é um momento feliz, e assim a felicidade se instala.

A prática da mente atenta, a prática de concentração e insight podem nos prover com momentos de felicidade sempre que quisermos e onde quer que estejamos. Um momento de felicidade é sempre possível com mente atenta, concentração e insight.

Thich Nhat Hanh
(em “One Buda is Enough” – sobre um retiro organizado pela comunidade de monges de Plum Village, do mestre Thich Nhat Hanh)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Morrer incondicionalmente



Eu sempre digo às pessoas que vêm aqui pela primeira vez: “Primeiro, é preciso morrer! Aceite o que vier e confie!” Mas para onde devemos deixar as coisas irem? Deixamos que sigam para a nossa mente fundamental, nossa verdadeira natureza. Por existir, você experimenta diversos tipos de coisas. Porém a sua mente fundamental está diretamente conectada com a origem de tudo, e por isso você pode lidar com o que quer que aconteça quando se entrega à ela.

Você deve aceitar tudo que apareça na sua vida – solidão, pobreza, ansiedade, doença – confie tudo à seu alicerce e viva livremente. Confiar tudo é desapegar-se; é isso que estamos chamando de morrer. “Primeiro é preciso morrer” significa aceitar tudo incondicionalmente, aquilo que você entende e aquilo que não entende. Significa aceitar sem recorrer a motivos ou desculpas.

Se as coisas vão bem, você deve aceitá-las com gratidão. Se não vão bem, você também deve aceitá-las, pois sabe que “Nada é permanente, por isso essa situação pode mudar. Meu alicerce, meu verdadeiro self, é o único capaz de cuidar de tudo. Ele me conduzirá em segurança ao longo do caminho.” Siga em frente assim. Pois somente quando morre incondicionalmente é que você descobre o seu verdadeiro self, sua raíz que é eterna

Daehaeng Sunim
(em “Wake Up and Laugh”)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Por favor, me chame pelos meus verdadeiros nomes

Em Plum Village, onde vivo na França, recebemos muitas cartas dos campos de refugiados de Cingapura, da Malásia, Indonésia, Tailândia e das Filipinas. Centenas a cada semana. E muito triste ler essas cartas, mas temos de fazê-lo, temos de nos manter em contato. Fazemos o possível para ajudar, mas o sofrimento é tamanho que às vezes desanimamos. Dizem que metade dos refugiados que fogem em barcos morre no mar. Só metade chega às costas do sudeste da Ásia, e mesmo nesse caso eles podem não estar em segurança.

Muitas meninas, dos refugiados em barcos, são violentadas por piratas. Muito embora as Nações Unidas e muitos países tentem ajudar o governo da Tailândia a acabar com essa pirataria, os piratas continuam a infligir muito sofrimento aos refugiados em barcos. Um dia recebemos uma carta de um refugiado que nos contava a história de uma menina num pequeno barco que foi violentada por um pirata tailandês. Ela só tinha doze anos. Jogou-se no oceano e morreu afogada.

Quando você ouve uma história dessas pela primeira vez, você sente raiva do pirata. Naturalmente toma o partido da menina. A medida que examinar o assunto com maior profundidade, verá tudo de um modo diferente. Se você tomar o partido da menina, é fácil. Basta pegar uma arma e matar o pirata. No entanto, não podemos agir assim. Na minha meditação, vi que, se eu tivesse nascido na aldeia em que o pirata nasceu e tivesse sido criado como ele foi, haveria uma grande probabilidade de que eu me tornasse pirata também. Vi que muitos bebês nascem nas costas do golfo do Sido, centenas a cada dia. Se os educadores, os assistentes sociais, os políticos e outras pessoas não fizerem algo para mudar sua situação, daqui a vinte .e cinco anos uma quantidade deles vai ser pirata. Isso é líquido e certo. Se você ou eu nascêssemos hoje numa daquelas aldeias de pescadores, dentro de vinte e cinco anos poderíamos nos tornar piratas. Quem pega a arma e mata o pirata está matando a todos nós, porque todos nós até certo ponto somos responsáveis por esse estado de coisas.

Depois de uma longa meditação, escrevi o seguinte poema. Nele, há três pessoas: a menina de doze anos, o pirata e eu. Será que podemos olhar um para o outro e nos reconhecer no outro? O título do poema é "Por favor, me chame pelos meus verdadeiros nomes", porque eu tenho muitos nomes. Sempre que ouço um desses nomes, tenho de dizer, "Sim".

Não diga que amanhã partirei pois mesmo hoje eu ainda estou chegando.

Olhe profundamente: eu chego a cada segundo
para ser o botão num ramo de primavera,
para ser o pequeno pássaro, com suas asas ainda frágeis,
aprendendo a cantar em meu novo ninho,
para ser a lagarta no coração da flor,
para ser a jóia oculta numa pedra.

Continua a chegar para rir e chorar,
para ter medo e esperança.
O ritmo de meu coração são o nascimento e a morte
de tudo o que vive.

Eu sou o inseto que se transforma na superfície do rio,
e sou o pássaro que, quando chega a primavera,
surge à tempo de comer o inseto.

Eu sou o sapo nadando alegremente na água clara do poço,
e sou também serpente d’água que, aproximando-se em silêncio,
engole o sapo.

Eu sou a criança de Uganda, toda pele e ossos,
minhas pernas finas como palitos de bambu,
e sou o mercador que vende armas mortais para Uganda.

Eu sou a menina de 12 anos refugiada no pequeno barco,
que se atira no oceano depois de violentada pelo pirata,
e eu sou o pirata, meu coração ainda incapaz
de enxergar e amar.

Eu sou um membro do Politburo com muitos poderes nas mãos,
e sou o homem que tem que pagar seu “débito de sangue” a seu povo,
morrendo lentamente num campo de trabalho forçado.

Minha alegria é como a primavera, calorosa e que faz
brotarem flores em todos os campos da vida.
Minha dor é como um rio de lágrimas, tão caudaloso que
inunda os quatro oceanos.

Por favor, me chame pelos meus verdadeiros nomes,
para que eu possa ouvir os meus prantos e risos agora,
para que eu veja minha alegria e minha dor
como sendo uma só.

Por favor, me chame pelos meus verdadeiros nomes,
para que eu possa acordar,
e assim a porta de meu coração permaneça aberta,

a porta da compaixão.

Thich Nhat Hanh

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A essência de tudo é uma só



Nossa mente fundamental é capaz de se comunicar e conectar com tudo. Por não ter uma forma definida, ela age como um tipo de de energia, como a eletricidade e o magnetismo. Por isso, cada lado absorve automaticamente o que é dito pelo outro. Como a eletricidade ou um telefone celular, as mentes se comunicam sem deixar rastros desse ir e vir. Tudo isso é atividade do Dharma profundo.  E onde está esse profundo e misterioso Dharma? Em cada parte e cada instante de nossa vida diária.

Como Buda disse, em meio a essa impermanente vida, onde tudo incessantemente flui e se transforma, há algo que é eterno. As coisas materiais podem mudar a cada momento, mas suas raízes permanecem para sempre. Cultivamos nossas mentes para realizar a essência eterna dessa raíz e viver livremente.

Se você compreender que a essência de sua mente está diretamente conectada com a essência do universo, será capaz de verdadeiramente ouvir, ver e avaliar tudo que é visivel e invisivel.  Pois essa capacidade é própria da nossa essência.

Quando se escuta algo radicalmente novo, algo sobre o qual nunca se imaginou, provavelmente pensa-se que é absurdo. Mas não é absurdo afirmar que a essência dos seres humanos está conectada com a essência de tudo no universo. Preste atenção como funciona o mundo a seu redor. As pessoas tendem a unir-se de acordo com suas afinidades cármicas semelhantes e encaixam-se no ritmo uns dos outros. Mas a vida em grupo nem sempre é prazeirosa, certo? Quando não conhecem a conexão fundamental que as une, as pessoas brigam entre si. Para elas a vida é uma guerra, embora não se dêem conta disso.

Daehaeng Sunim
(em “Wake Up and Laugh”)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Transmitir amor

Segundo a psicologia budista, existem a consciência mental e a consciência armazenadora. E há ainda uma terceira consciência, chamada manas*. A consciência armazenadora e manas trabalham noite e dia: mesmo se você estiver em coma, elas continuarão trabalhando. A consciência mental pode ser interrompida e parar de trabalhar, mas as outras duas consciências jamais param. A consciência pode ser encontrada em cada célula de nosso corpo – até mesmo diversos cientistas já confirmaram isso. Por isso, quando transmitimos amor, compaixão e energia pacífica para aqueles que amamos, mesmo se estiverem em coma, as células de seus corpos as recebem graças à consciência armazenadora e à manas.

Brother Phap Niem
(em “One Buda is Enough” – sobre um retiro organizado pela comunidade de monges de Plum Village, do mestre Thich Nhat Hanh)



*Manas é um produto da razão, privilégio dos seres humanos. A razão age procurando ordem e leis simplificadoras no emaranhado das sensações e dos estímulos que recebemos continuamente do ambiente em que vivemos. Representa a infindável busca do homem pela decifração do enigma da vida, tarefa angustiante e insaciável, mas que o impele continuamente à conquista dos segredos do universo. Nesse mister, a matéria prima com que ele trabalha não se limita às sensações que recebe do ambiente através dos sentidos durante toda a sua atual existência, mas inclui também, e principalmente, toda a experiência adquirida em existências anteriores, incluído aí o carma positivo ou negativo que traz consigo. A sétima consciência, ou manas, juntamente com a oitava consciência, ou alaya, têm grande influência em nossa vida. A consciência manas comanda as nossas sensações, percepções e os nossos preconceitos (a visão cármica). É uma função do pensamento, opera por nossa própria iniciativa, independentemente das condições externas e está profundamente ligada ao nosso ego. A consciência manas corresponde aos estados de erudição e absorção por sua propensão ao egoísmo, à arrogância e ao auto-apego. Nessa consciência é que manifestamos, por exemplo, a maneira como concebemos um determinado fato ou como nos comportamos ante uma determinada situação. Ela é conhecida também como a consciência do "apego" e do "amor-próprio". Associada à tendência cármica, que se encontra na oitava consciência, é a consciência manas que nos leva a reagir de determinado modo em cada situação.


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Confiando em sua Mente Fundamental

A Mente Fundamental não é a mente que surge e desaparece. Pelo contrário, é tranquilo e inabalável, e tem capacidade infinita para abranger todo o universo. Ele é a fonte de energia ilimitada, que você pode usar livremente sempre que quiser. 

A Mente Fundamental está dentro de você, é a fonte de sua existência e levou-lhe ao longo das eras. Assim, é nisso que você tem que acreditar e confiar. Dinheiro, fama, relacionamentos, etc podem lhe dar alguma satisfação, mas essa será de curta duração. Só conhecendo a sua verdadeira natureza você será capaz de conhecer a verdadeira satisfação.

Daehaeng Sunim

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Vencer


Segundo o Buda, toda situação tem uma saída.

O Buda ensina-nos que primeiro precisamos ter autodomínio. Para podermos agir, temos de esfriar essas brasas debaixo de nós. Vencer não significa derrotar a quem nos causa sofrimento, mas à nossa ignorância e ao nosso ressentimento.

Se não pudermos achar a felicidade nesse solitário cume, também não a acharemos no vale lá embaixo.

Thich Nhat Hanh
(em “Nada Fazer, Não Ir a Lugar Algum”)