Manhã.
No ônibus, indo para o trabalho.
Acompanhado de minha já costumeira melancolia, essa que
sinto há tempos e da qual me envergonho.
Afinal, por que essa tristeza? Estou bem, tenho emprego,
família, saúde. Dentro do possível, estão todos bem. Nada me falta (a não ser
mais tempo disponível, mas não isso seria um luxo nesses dias atuais?).
Vinhamos nós, eu e a nuvem cinzenta que mantenho à minha
volta (“mantenho”? é correto afirmar isso?) quando, exatamente num momento em
que, apesar da tristeza, lia um divertido trecho de um livro, a vida resolveu
esbofetear-me a face.
Ao passar em frente ao Hospital Antonio Pedro, vi um jovem
muito alto, muito magro. Sua magreza não era saudável: as roupas sobravam no
corpo. Apesar da evidente condição de enfermo, era um jovem bonito, tinha um
belo rosto, ainda que sua cabeça estivesse completamente nua, sem um fio de
cabelo sequer. Químio, talvez.
Foram apenas dois segundos. O ônibus passava e eu vi. Seu
rosto contraído (de dor? de tristeza? um choro que se aproximava?) voltado para
baixo, onde uma senhora pequenina, miúda, o olhava enternecidamente e tinha seu
braço esticado a fim de tocar-lhe a face, ou a testa.
Os dois segundos foram breves demais, mas não para
testemunhar a emoção daquele momento. Naqueles dois segundos fui testemunha de
uma cena real de dor, medo, angústia, amor, tristeza, sofrimento. De impotência
diante de um futuro incerto e possivelmente sombrio. A dor real e palpável daqueles dois seres atingiu-me como um soco.
E eu chorei.
Por eles e por sua dor.
Por mim e por minha ingratidão e mediocridade.
(29.06.2016)