Nada pode libertá-lo, porque você já é livre. Veja a si próprio com a
clareza não-desejante, isso é tudo.
Sri
Nisargadatta Maharaj (1897-1981)
Autolibertação é como sonhar que está preso em correntes de ferro. Se
você não sabe que está sonhando, seu cativeiro parece real, você acha que é
real, e sua experiência parece confirmar que é real. Mas se você sabe que está
sonhando, sabe que as correntes não existem de verdade, e que você não está
verdadeiramente preso por elas. A prisão na realidade não existe. No sonho,
nada precisa ser feito ou libertado — você é livre como você é. No sonho, mesmo
que pareça uma experiência de prisão, na verdade há liberdade.
Khenpo
Tsultrim Rinpoche
A meditação é o desabrochar da compreensão. A compreensão não está
dentro das fronteiras do tempo, o tempo nunca traz compreensão. A compreensão
não é um processo gradual em que se vai juntando pouco a pouco, cuidadosa e
pacientemente. A compreensão acontece agora ou nunca; é um relâmpago
destruidor.
O ego quer ser um grande meditador. O ego quer ser sábio e amoroso e compassivo. Ele se vê lá. Todos irão dizer, “Nossa, desde que você voltou daquele retiro você está tão diferente. O que você encontrou? Me conte”. Nada a ver com isso. Não há nada que encontrar. Não há nenhum lugar a ir.
Jetsunma Tenzin Palmo
A infelicidade precisa ser construída: nossa angústia por existir, por
sermos temporários, por haver finitude, por não haver certezas, nossa ansiedade
pelo futuro, nossas tristezas pelo passado, pelo que perdemos, pelo que não
volta mais – tudo isso só existe dentro de nossa própria mente. E a única
verdadeira realidade é este momento, este agora, este pássaro cantando, nosso “estar
sentados”, nossa respiração deste momento.
Por essa razão devemos ser profundamente conscientes. A felicidade está
disponível a cada momento, e isso é a única coisa que realmente existe, e ainda
assim, não podemos agarrar este instante. A infelicidade é construída com os
nossos pensamentos, nossas palavras e ações a todo momento. Sejamos senhores de
nossas mentes e, desta forma, poderemos viver este momento tal como ele é, e
sermos profundamente agradecidos por nossa consciência, pelo nosso universo girando
em volta de nosso zazen.
Monge
Genshô
Há espaço na nossa mente? Se a mente tem espaço então nele há silêncio.
Desse silêncio surge todo o resto, e então você consegue escutar, prestar atenção
sem resistência. Por isso é muito importante que haja espaço na mente. Assim
ela consegue escutar um cão latindo, o som de um trem cruzando a ponte
distante, além de conseguir estar totalmente consciente do que está sendo dito
por uma pessoa que ala com ela. A mente é uma coisa viva.
Mas, permeando todo o ensinamento de Dogen, existe um único experimento
mental: se você já é um buda, se não está se esforçando para alcançar alguma
coisa, então como você age? Como você cuida desse momento - não no sentido abstrato,
mas na maneira como se move, na maneira como segura um objeto, na maneira como
abre uma porta? Os budas sabem a resposta, e isso significa que você também
sabe. Portanto, apenas aja como o Buda que você é.
Koun
Franz
Dogen escreveu: “Praticar
o Caminho com um único coração é, em si mesmo, iluminação. Não há lacuna entre
a prática e a iluminação ou a meditação e a vida diária.” Portanto, tudo o que fazemos, cada ação que
realizamos, pode ser prática. A iluminação está embutida nela. O truque é
praticar - seja lá o que for neste momento - livre da ideia de que há alguma
recompensa.
Apenas sente-se, apenas faça reverência, apenas cante, apenas estude, apenas ande - na concepção de Dogen, estes não são meios para atingir um fim, degraus para algum objetivo espiritual. Cada coisa é apenas o que é. Cada coisa é suficiente, tal como é. Está completa.
Nós descobrimos essa completude assumindo-a de uma maneira sincera - não apenas com nossas mentes, mas também com nossos corpos. Enfrentamos este momento com as nossas mãos e com a nossa postura e com a nossa respiração, com a forma como falamos e como caminhamos. “Se você entende isso”, escreveu Dogen, “você é completamente livre”.
Koun
Franz
O ego quer ser um grande meditador. O ego quer ser sábio e amoroso e
compassivo. Ele se vê lá. Todos irão dizer, “Nossa, desde que você voltou daquele
retiro você está tão diferente. O que você encontrou? Me conte”. Nada a ver com
isso. Não há nada que encontrar. Não há nenhum lugar a ir”.
Jetsunma Tenzin Palmo
No cerne dos (muitos) ensinamentos de Dogen está a noção de
prática-verificação, às vezes chamada de prática-iluminação. Essencialmente,
isso significa que o
fruto do que fazemos é exatamente o que estamos fazendo. Em outras palavras, não praticamos para atingir a
iluminação. Nós praticamos porque a prática em si é iluminação. Como disse Dogen,
não treinamos para nos tornarmos Buda; nós treinamos como Buda.
Koun
Franz
A forma mais elevada de energia, o apogeu, é o estado da mente quando
ela não tem nenhuma ideia, nenhum pensamento, nenhum senso de direção ou motivo
– é a energia pura. E essa qualidade de energia não pode ser buscada depois.
Não há caminho até ela. Para descobrir a natureza dessa energia devemos começar
por entender a energia que é desperdiçada diariamente – a energia do falar, do
ouvir um passarinho, uma voz, do olhar para o rio, para o vasto céu e os
aldeões, sujos, desleixados, doentes, famintos, e para a árvore. A observação
de tudo é energia.
Se diante das diversas situações da vida você estiver motivado por suas
experiências passadas ou por suas expectativas para o futuro, sua resposta para
cada momento será muito estreita e provavelmente inábil. Somente quando nos
engajamos totalmente, sem sermos apanhados pelas armadilhas de nosso desejo,
podemos responder a cada encontro com uma mente liberta. É por isso que é
importante ficarmos acordados e nos integrarmos com o que realmente está
acontecendo, não com o que desejamos que aconteça ou com o que tememos que
aconteça.
O ensinamento de Dogen sobre a unidade ser-tempo, ou a própria
realidade, é vasto. A essência do ser-tempo* é a compaixão, a sabedoria e a
ação hábil. O ensinamento de Dogen sobre o ser-tempo não é um tratado
filosófico sobre a relação do tempo com o ser; é uma cartilha sobre como
aliviar o sofrimento de si mesmo e dos outros.
Shishu
Roberts
*o
ser integralmente presente, o verdadeiro ser, livre dos hábitos mentais e não
movido pelo carma ou pelo desejo.
Imagine que você está participando de uma reunião com um colega de trabalho difícil. Você entra em sua reunião hipotética com 360 graus de possíveis pontos de ação a cada momento. Sua resposta será ditada pela má vontade adquirida no passado ou você será capaz de permanecer aberto, ouvindo e respondendo?
Conforme você entra nesse momento-presente, há o passado "por trás"
de você com todas as suas experiências anteriores com seus colegas de trabalho.
No entanto, este momento não precisa ser definido por seu passado ou por suas expectativas
futuras. Uma vez que o momento em si já é livre, você tem a possibilidade de
responder sem apegos. Essa liberdade é o aspecto independente de um ser livre
do carma passado e dos desejos futuros. A libertação só pode acontecer em
resposta ao seu momento presente.
Shishu
Roberts
O aprender não aproximará de vós a Verdade. E só a mente que se acha
numa jornada de descobrimento constante, que não está acumulando, que está
morta para tudo o que ontem acumulou, e está, portanto, nova, purificada, livre
– só essa mente é capaz de descobrir o verdadeiro e promover uma revolução
neste mundo. Só ela é capaz de amor e compaixão.
Jiddu Krishnamurti (1895-1986)
Quando a mente está formulando, produzindo, não pode haver criação. Só
quando a mente está silenciosa e vazia, quando ela não está criando um
problema, somente nessa passividade alerta há criação. Ser nada não é a
antítese de ser alguma coisa. Um problema só surge quando há busca por um
resultado. Quando a busca por resultado cessa, simplesmente não existe problema.
Conhecer e esquecer as emoções, agindo pela Não Ação, eis o que é o
Verdadeiro Saber e o Verdadeiro Poder. Assim, desabrochando-se o Não Saber,
como seria possível apegar-se às emoções? Desabrochando-se o Não Poder, como
seria possível agir forçosamente? Contudo, seria inapropriado agir pela Não
Ação assemelhando-se a um montão de terra ou à poeira acumulada de silêncio
mórbido.
Guan
Yin
Lutar é a maneira da personalidade-ego manter sua existência. Quando
você deixa de lutar, a identificação com essa personalidade começa a
desmoronar, e você se conscientiza de sua vacuidade e de sua falta de limites.
A coisa mais difícil de fazer para os buscadores espirituais é parar de lutar,
de esforçar-se, de procurar e buscar. Porque na ausência de luta você não sabe
quem você é, você perde suas fronteiras, perde a sua separatividade, perde a
sua especialidade, perde o sonho que você viveu durante toda a sua vida. Por fim,
você perde tudo quanto a sua mente criou, e desperta para quem você
verdadeiramente é: a plenitude da liberdade, não limitada por quaisquer identificações,
identidades ou fronteiras.
Adyashanti
Se você não abrigar em si mesmo nenhum apego, todas as coisas se
manifestarão. Ao se mover, seja como a água. Ao permanecer em silêncio, seja
como um espelho. Ao corresponder ao mundo, seja como um eco. Esse Caminho (Tao)
segue a existência das coisas. Embora todas as coisas possam se desviar do
Caminho, este último nunca se afasta delas. Desejar seguir o Caminho por meio
da visão, da audição, da força física ou da inteligência não é apropriado.
Embora seja visto diante de nós, o Caminho pode repentinamente emergir por
detrás. Por isso, ao ser utilizado, ele preencherá todo espaço. E, quando for
abandonado, jamais saberemos o seu destino. Mesmo que a distância, ele não será
alcançado pela mente e, embora esteja próximo, não será alcançado pela Não
Mente. Somente poderá alcançá-lo aquele que, em silêncio, realizar a sua
Natureza Originária.
Guan
Yin
Uma ação sem ideia só acontece quando a mente está isenta da noção do que
pode estar experimentando. As ideias não são a verdade, e a verdade é algo que
deve ser experienciado a cada momento. Só quando se vai além do acúmulo de
ideias – além do “eu” da mente -, quando o pensamento está completamente silencioso,
há um estado de experimentação. Então se saberá o que é a verdade.
Jiddu
Krishnamurti (1895-1986)
Cada clara e cristalina manifestação do mundo inteiro é um sonho; esse
sonho não é nada mais do que todas as coisas que são absolutamente lúcidas. A
dúvida de uma pessoa sobre isso é em si mesma um sonho; a confusão da vida é um
sonho também. Neste preciso momento, todas as coisas são um sonho, estão dentro
de um sonho, ou expõem um sonho. Conforme estudamos as coisas, raízes e caules,
ramos e folhas, flores e frutos, luzes e cores – todas são um grande sonho.
Nunca confunda isso com o estado de sonho da mente.
Dogen
Zenji (1200-1253)
Sempre tenha no fundo de sua mente, “eu não sou o corpo, eu não sou o
realizador das ações, eu não sou a mente”. Sinta isso profundamente. Não se
sinta bem ou mal com isso. Não tente prolongar sua vida, isso é desperdiçar
energia. O que você chama de vida é algo que se resolverá sozinho, que sabe
mais o que fazer do que você.
Robert
Adams (1928-1997)
Devemos ter grandes feelings.
Por feeling refiro-me à qualidade da percepção, à qualidade do
ouvir, à qualidade da emoção – um pássaro cantando numa árvore, o movimento de
uma folha ao sol. Por feeling compreendo a apreciação da curva de um ramo, a
imundície, a sujeira na estrada, ser sensível ao sofrimento dos outros, ficar
em êxtase ao ver o pôr do sol. Devemos ter um forte feeling em relação à beleza, a uma palavra, ao silêncio
entre duas palavras, à escuta clara de um som. Só o feeling torna a mente extremamente sensitiva.
Jiddu
Krishnamurti (1895-1986)
Como é dito: “A
natureza última da mente é clara luz”. A consciência tem muitos níveis e, embora os níveis mais ordinários
sejam afetados por forças corruptoras, o nível mais sutil permanece livre de
negatividades grosseiras. No Vajrayana (um dos principais ramos do Budismo),
esse nível sutil de consciência é chamado de mente de clara luz. As ilusões e
aflições emocionais assim como a mente dualista de certo e errado, amor e ódio
etc., estão associadas apenas com os níveis grosseiros de consciência. No momento,
estamos totalmente absorvidos na interação desses estados grosseiros, então
devemos começar nossa prática trabalhando com eles. Isso significa
conscientemente encorajar o amor sobre o ódio, a paciência no lugar da raiva,
liberdade emocional em vez de apego, bondade por cima da violência e tudo mais.
Fazer isso traz paz imediata e acalma a mente, possibilitando assim a meditação
mais elevada. Logo, como o apego a um eu e aos fenômenos como coisas verdadeiramente
existentes é a causa de toda a vasta gama de estados distorcidos da mente, a
pessoa cultiva a sabedoria que elimina esse apego ao ego. Superar o apego ao
ego é superar toda a multidão de distorções mentais.
XIV
Dalai Lama
Quando
você se estabelece no Ser, não resta ninguém para fazer escolhas ou decidir. A
vida flui naturalmente. Você pegará as coisas necessárias e deixará de lado aquelas
que não precisa. O que escolher ou descartar não será consequência de suas
preferências, pois estas preferências já não existirão mais.
Annamalai
Swami (1906-1995)
Uma montanha é pesada?
Pode ser pesada nela mesma, mas se não tentarmos levantá-la, ela não
será pesada para nós.
Essa é uma metáfora que um dos meus professores geralmente usava ao
explicar como parar de sofrer com os problemas da vida. Você não nega a
existência deles – as montanhas são pesadas – e você não foge deles. Como ele
dizia, você lida com os problemas onde você deve e os resolve quando você pode.
Você simplesmente aprende a não carregá-los por aí. É aí que está a arte da
prática: em viver com problemas reais sem fazer com que sua realidade
sobrecarregue o coração.
Thanissaro
Bhikkhu
Quando você corre atrás dos seus pensamentos, você é igual um cachorro
atrás de um pedaço de pau: cada vez que o pedaço de pau é jogado, você corre
atrás. Ao invés disso, seja como um leão, que ao invés de correr atrás do
pedaço de pau, se volta para aquele que jogou. Para um leão, você só joga um
pedaço de pau uma vez.
Jetsun
Milarepa (1052-1135)
Seja o seu Eu. Desperte do sonho. Recuse-se a continuar jogando.
Observe-se o dia inteiro. As situações pelas quais você está passando não fazem
a mínima diferença. A única coisa que importa é o que está acontecendo dentro
de você. Você foi colocado nessa Terra como um corpo para ter experiências
cármicas. Portanto, a experiência pela qual você está passando é parte da
ilusão. Não pense sobre essas coisas. Isso é importante. Você precisa deixar
isso de lado. Esqueça isso. Como se você soubesse que nada jamais pode lhe
acontecer. Você sempre viveu. Você é consciência. Identifique-se com sua
existência. Funda-se com a existência do nada.
Robert
Adams (1928-1997)
A beleza surge quando
existe liberdade total. Sem liberdade não há paz. A paz não é algo que você
compra ou o estado entre dois conflitos, mas surge quando a mente não é mais
atormentada, não é mais movida por um impulso, não está preocupada com sua
atividade egocêntrica. Só assim há liberdade. Essa liberdade é difícil de
conseguir. A menos que essa liberdade exista, há busca, questionamento, coleta
de informações, conhecimento e experiência eternos, acumulando memória
indefinidamente.
Jiddu Krishnamurti
(1895-1986)
Aqueles que não encontraram sua verdadeira riqueza, que é a radiante
alegria do Ser, e a profunda inabalável paz que vem com ela, são mendicantes,
mesmo se tiverem grande patrimônio material. Eles estão procurando no exterior
por sobras de prazer e satisfação, por validação, segurança ou amor, enquanto
tem um tesouro dentro de si, que não só inclui todas essas coisas, mas é
infinitamente maior do que qualquer coisa que o mundo possa oferecer.
Eckhart
Tolle
Quando não há esforço
para mudar ou aceitar a imagem, mas apenas o fato como é, sua a constatação provoca
uma mudança radical no próprio fato. Isso só pode ocorrer quando o observador é
o observado. Não há nada de misterioso nisso. O mistério da vida está além da
imagem, além do esforço, além da atividade centralizada, egoísta, subjetiva,
egocêntrica. Existe um vasto campo de algo que nunca pode ser encontrado por
meio do conhecido. O esvaziamento da mente só pode ocorrer quando não há
observador e nem o observado. Tudo isso exige uma atenção tremenda, uma
consciência que não é concentração.
Jiddu Krishnamurti
(1895-1986)
Quando a mente está envolvida com o mundo, está destinada a colidir com
as coisas; e uma vez que colidir, ela será sacudida e rolada para frente e para
trás, assim como pedras arredondadas num grande amontoado rolam para frente e
para trás. Portanto, não importa o quão boas ou más outras pessoas possam ser,
não armazenamos essas coisas em nossa mente para dar origem a sentimentos de
gostar ou desgostar. Descarte-os completamente como sendo problema deles e não
nossos.
Ajahn
Lee Dhammadaro
Basta deixar ir. Observe a mente e o corpo conscientemente, mas não
tente conseguir qualquer coisa. Apenas observar como a prática se desenvolve
naturalmente. Quanto mais você vê, mais claramente você vai ver. Se você
aprender a prestar atenção totalmente, então você não precisa se preocupar com
qual estágio você ter atingido; apenas continue na direção certa, e as coisas
vão se desenrolar para você naturalmente.
Como posso falar da essência da prática? Andar para a frente não é
correto, andar para trás não é correto, e ficar parado não é correto. Não há
maneira de medir ou categorizar a libertação.
Ajahn
Chah (1918-1992)
A meditação é um
processo extenuante que exige intensa atenção o tempo todo. Quando a mente está
completamente quieta, existe uma dimensão diferente que o pensamento não pode
imaginar ou experimentar. Está além de toda busca. Uma mente que está cheia de
luz não busca nada. É apenas a mente embotada e confusa que busca e espera
encontrar, e o que ela encontra é o resultado de sua confusão.
Jiddu Krishnamurti
(1895-1986)
Acomode seu pequeno eu em seu grande Self, renda-se ao ritmo do universo, e permaneça assim
sempre, em todas as circunstâncias. Seus olhos se abrirão naturalmente, e você perceberá
sua vida envolta em paz e harmonia. Você assim estará no Caminho. Estar no
Caminho significa que há transparência entre o universo e você, qualquer objeto
e você, sua respiração e você. Isso é samadhi, a compreensão de que tudo é Um. Esse é o sublime estado
do ser que estamos buscando.
Dainin
Katagiri (1928-1990)
Em todas as suas ações o Sábio parecia unificado com tudo o que o
cercava; com os outros, com a Natureza e com o próprio Cosmos.
Os seus movimentos nos menores detalhes eram harmônicos e elegantes. Nada
em si denotava ansiedade, inquietude, tudo era paz e ausência de conflitos
internos.
Um jovem questionou-o:
– Diga-me, qual o segredo da sua serenidade, dessa Paz que nada parece
abalar?
Respondeu o velho Sábio:
– A irrestrita cooperação com o inevitável.
Anthony
de Mello
O medo e a ansiedade são os estados psicológicos dominantes da mente
humana. Por trás do medo está um desejo constante de ter certeza. Temos medo do
desconhecido. O desejo da mente por confirmação está enraizado em nosso medo da
impermanência. O destemor é gerado quando você pode apreciar a incerteza,
quando você tem fé na impossibilidade de esses componentes interconectados
permanecerem estáticos e permanentes. Você se descobrirá, na verdade,
preparando-se para o pior e, ao mesmo tempo, permitindo o melhor.
Dzongsar
Khyentse Rinpoche
A mente é essencialmente pura. Dentro de si mesma ela já está em paz.
Que a mente não esteja em paz nestes dias é porque ela se deixa levar pelos
humores. Isso não tem nada a ver com a mente, é simplesmente (um aspecto da)
natureza. A mente se torna pacífica ou agitada porque os humores a enganam. A
mente que não é treinada, é tola. As sensações surgem e a ludibriam com a
alegria ou a tristeza, felicidade ou sofrimento, mas a verdadeira natureza da
mente não é nenhuma dessas coisas. Na realidade essa nossa mente já está imóvel
e tranquila, realmente tranquila!
Tal como uma folha que está imóvel até que o vento sopre. Se surge o
vento, a folha se agita. A agitação se deve ao vento – a agitação se deve a
essas sensações; a mente as segue. Se a mente não as seguir, não ficará
agitada. Se conhecermos a verdadeira natureza das sensações, não ficaremos
agitados.
Ajahn
Chah (1918-1992)
A verdade só pode ser encontrada de momento a momento em todo
pensamento, em toda palavra, em todo gesto, em um sorriso, em uma lágrima. Se
conseguirmos encontrar esse momento e vivenciá-lo, vamos ser seres humanos criativos
– não seres humanos perfeitos, mas criativos.
Jiddu
Krishnamurti (1895-1986)
A pergunta do meu pai, dirigida a
cada um de nós, era: o que você vai fazer em meio a sons assustadores? Ou em um
trem lotado e fedorento? Ou em um ataque terrorista, ou em uma guerra, ou,
ou... em qualquer um dos incontáveis eventos indesejáveis da vida: um
diagnóstico de saúde debilitada, um pneu furado, uma percepção de ser
menosprezado, desrespeitado ou rejeitado? O que você vai fazer quando sentir
sua vida sendo interrompida por circunstâncias indesejáveis? Conseguirá manter
uma mente estável capaz de acolher o que não deseja, e ainda ser de benefício a
si mesmo e às outras pessoas? Ou implodirá de medo, raiva ou descontrole? Como
agimos quando não obtemos o que queremos ou quando não queremos o que temos?
Estou no bardo do renascimento agora, entre a morte do velho eu e o nascimento
do que vem a seguir. Vir a ser e renascer, sempre no bardo do desconhecido, o
incerto, o transitório.
Yongey Mingyur Rinpoche
Assim é a vida. Não sabemos de nada. Dizemos que algo é bom, dizemos
que algo é bom mas, na verdade, simplesmente não sabemos.
Quando tudo se desfaz e nos encontramos à beira sabe-se lá de que, o desafio que se apresenta a cada um de nós é o de permanecer nesse limiar, sem buscar alguma ação concreta. O caminho espiritual não tem nada a ver com o paraíso, com chegar finalmente ao céu. Na verdade, esse modo de encarar a vida é que nos mantém infelizes. Pensar que podemos encontrar algum prazer duradouro e evitar a dor é o que o budismo chama de samsara, o ciclo inútil que gira e gira, infinitamente, e nos causa tanto sofrimento. A primeira nobre verdade que o Buda nos apresenta chama nossa atenção para o fato de o sofrimento ser inevitável para nós, seres humanos, enquanto acreditarmos que as coisas permanecem — que não se desintegram e que podemos contar com elas para satisfazer nossa ânsia de segurança.
Pema
Chodron
Em tudo, em todas as
pessoas, existe a totalidade, a completude da vida. Por completude me refiro à
liberdade de consciência, liberdade da individualidade. Essa completude em cada
um não é algo a ser progressivamente conquistado, ela é absoluta. Quando você
não é nada, você é tudo.
Jiddu Krishnamurti
(1895-1986)
No momento em que a
mente consciente está completamente quieta, sem qualquer movimento de prazer,
experiência ou conhecimento, não há inconsciência. Você pergunta como isso pode
ser alcançado. O "como" é a pergunta mais perniciosa porque, ao
perguntar como, você quer um sistema ou método, e no momento em que segue um
sistema, método ou prática, você já está preso nisso e, portanto, nunca
descobre. Mas se você realmente vê que apenas a mente completamente quieta é
capaz de observar, se você entende isso, vê a verdade disso, então não há
inconsciência.
Jiddu Krishnamurti
(1895-1986)
Deixe estar. Se não tivesse confiado
totalmente nas minhas próprias experiências e nos ensinamentos que recebi, de
que a mudança é constante e que nunca estamos separados da mente espaçosa, que
é como o céu, minha coragem para continuar poderia ter fracassado. Agora, mais
do que nunca, sem amigos, sem abrigo, sem atendente, sem alunos, sem o papel de
professor, a minha mente era a minha única proteção.
Yongey Mingyur Rinpoche
Quando tudo se desintegra, somos submetidos a uma espécie de teste, e
também a um certo processo de cura. Achamos que o sentido está em passar no
teste e superar o problema, mas a verdade é que as situações não têm uma
solução definitiva. Elas se compõem e desmoronam. E mais uma vez se compõem e desmoronam.
É simplesmente assim que funciona. O processo de cura ocorre ao deixarmos
existir espaço para que tudo isso aconteça: espaço para o pesar, para o alívio,
para a angústia e a alegria. Pensamos que algo vai nos trazer prazer, mas, na
verdade, não sabemos exatamente o que vai acontecer. Achamos que algo vai nos
trazer infelicidade, mas também não sabemos. Acima de tudo, o mais importante é
deixar espaço para o não saber. Tentamos fazer aquilo que achamos que vai nos
trazer alívio, mas é impossível ter certeza. Nunca sabemos se vamos nos sair
muito bem ou se vamos falhar redondamente. Quando sofremos uma grande decepção,
nem sempre chegamos ao final da história. Esse pode ser, simplesmente, o início
de uma grande aventura.
Pema
Chodron
Em abril de 2020 experimentei (não ‘eu’, pois não havia um ‘eu’ experimentando) a ausência de identificação com o
ego e o corpo como descrita pelos sábios. ‘Eu’ não fazia alguma coisa; havia apenas o fazer. ‘Eu’ não era testemunha dos fatos; havia apenas o testemunhar do que ocorria. Eu e tudo o mais éramos um.
Tudo era curiosamente... cômico. Testemunhando assim, do alto, com
amplitude, havia a percepção da tolice daquilo tudo. Nada, pois mais sério que
parecesse, realmente o era.
Esse estado durou poucos dias (dois? três?) e há uma profunda gratidão
por tê-lo vivido, mas também (o meu ‘eu’ sente) melancolia por não o sentir agora, pelo véu
de ilusões que permiti cobri-lo.
Devo evocar essa lembrança a cada manhã, antes de iniciar o dia. Antes
de meditar. A lembrança do que é ser tudo. E não ser nada. De ver do alto da montanha a relatividade e a
pequenez de tudo aquilo que julgamos achar tão importante. E que não é. Só tem
importância em nossa ilusão.
É preciso trazer essa pérola à lembrança. Sempre.
eu
A mente meditativa é
silenciosa. Não é o silêncio que o pensamento pode imaginar; é o silêncio que
vem quando o pensamento cessa completamente. A mente meditativa é a explosão do
amor – de um amor que não conhece a separação. Um estado de amor no qual toda
divisão desaparece. A mente meditativa só atua a partir do silêncio.
Jiddu Krishnamurti
(1895-1986)
Deixar estar nos possibilita ver que a nossa verdadeira natureza está livre de problemas, angústia e sofrimento — e que sempre esteve. Quando paramos de tentar acalmar a superfície — e aceitamos que a própria natureza do oceano é a mudança —, começamos a experienciar essa liberdade interior. Mas não se trata de estarmos livres do sofrimento e da ansiedade. Trata-se da liberdade que pode ser vivenciada com o estresse e a ansiedade. Somos liberados do sofrimento ao perceber corretamente a realidade; isso significa que temos o insight e a experiência para saber que a nossa mente é muito mais vasta do que geralmente pensamos. Não somos do tamanho e da forma das nossas preocupações. Reconhecer a realidade como ela é torna o reconhecimento e a liberação simultâneos
Yongey Mingyur Rinpoche
A mente superficial,
percebendo que é superficial, buscou profundidade. Ele percebe que o buscador é
o criador da superficialidade. Por ser superficial, a mente se encheu de
atividade e essa atividade a tornou extraordinariamente viva, mas ainda é
superficial. Ainda é a atividade do pensamento e, portanto, é superficial. A
atividade de buscar profundidade é o conteúdo da mente, e a busca de
profundidade ainda é superficial.
Jiddu Krishnamurti
(1895-1986)
Mesmo quando as coisas vão bem, ou mesmo quando vão mal, mesmo que o
seu papel na vida pareça sem sentido, ou mesmo que pareça importante -
independentemente de ser homem ou mulher, sofisticado ou desajeitado, rico ou
pobre, jovem ou velho - quando você avança centrado em torno deste grande pilar
da mente, sua vida flui como água. Uma roda que está centrada em seu eixo nunca se
solta.
Daehaeng
Sunim (1927-2012)
Assim como uma roda gira em torno de seu eixo, devemos fazer de nossa
mente fundamental o centro de nossas vidas. Temos que viver com essa
grande mente em nosso centro, pois não importa o que aconteça, essa
mente não vacila nunca. Ela é capaz de proporcionar uma energia vasta e inimaginável.
Portanto, tenha fé em sua essência, em seu centro, apoie-se nele e confie tudo a
ele, incondicionalmente! Liberte essa energia e vá em frente, aplicando-a em
tudo em sua vida.
Daehaeng
Sunim (1927-2012)
Não há uma só coisa que seja fixa ou permanente. Tudo está
incessantemente mudando, transformando-se, e fluindo para longe. Por isso dizemos
que tudo é vazio. Mesmo o “eu” não existe. Dentro do seu corpo, o “eu” é uma coleção de células e vidas que estão sempre
fluindo e mudando incessantemente. Fora do seu corpo, esse “eu” também faz parte de um todo maior em constante
mudança. Cada mínima coisa está fluindo e se transformando, sem nada permanente
o qual possamos separar e rotular. Tudo é vazio.
Daehaeng
Sunim (1927-2012)
Se você compreender como tudo funciona como um só por meio de nossa mente
fundamental e aplicar essa verdade à sua vida diária, mesmo que continue a
viver nesse mundo você será capaz de agir num nível mais elevado que os demais.
Ou seja, enquanto cuida de suas responsabilidades habituais neste reino material,
também atua através do reino invisível para ajudar a solucionar problemas,
visíveis e invisíveis, no mundo todo.
Daehaeng
Sunim (1927-2012)
Esse estilhaçar do
velho, do cristalizado, não é um processo que ocorre num dia; precisa ser
constante, uma não-escolha consciente. Não-escolha consciente é a
consciência a cada momento de tudo que está ocorrendo dentro de si, sem
qualquer esforço para controlar ou mudar isso. Um estado de pura observação, de
percepção, que resultará em mudanças sem qualquer esforço.
Jiddu Krishnamurti
(1895-1986)
Quando saiu em busca de ajuda,
Milarepa não tinha ideia de para onde estava indo. Porém, tinha algo que
poderíamos chamar de fé, alguma confiança em sua própria capacidade de
encontrar seu caminho. A confiança não pode amadurecer sem a aceitação da
incerteza — uma lição que eu estava apenas começando a aprender.
Yongey Mingyur Rinpoche
Quando estiver realmente ciente de como tudo flui e manifesta-se ao
mesmo tempo como um todo, então tudo o que você fizer será naturalmente livre
de qualquer traço de discriminação ou distinção entre "você" e "os
outros". Assim, as coisas que você faz e diz não criarão mais carma ou
sofrimento. Portanto, ame os outros, mas faça-o incondicionalmente. Ouça os
outros, mas faça-o deixando de lado quaisquer vestígios de “eu”. Aprenda e
estude, mas faça isso enquanto deixa de lado qualquer pensamento de “eu sei”.
Daehaeng
Sunim (1927-2012)
As pessoas veem ou escutam alguma coisa e começam a falar e falar sobre
ela. Elas sempre têm muitas opiniões a respeito. As coisas querem fluir, mas as
pessoas não deixam. É preciso estar ciente de que tudo está se manifestando e fluindo
como unidade. Portanto, se for dizer alguma coisa, diga sem deixar traços do eu, diga sem julgamentos ou recriminações.
Daehaeng
Sunim (1927-2012)
Se
quiser estudar o Caminho, é preciso ter uma fé firme para que a mente não oscile
diante das situações boas ou ruins. A fé na mente original é capaz de destruir
as raízes das aflições e de focar nas virtudes da natureza búdica. Ela elimina o apego aos objetos. Por ela dar a perspectiva ampla das
dificuldades, vê-se que elas não existem verdadeiramente. A fé na mente transcende
as numerosas estradas ilusórias e mostra o Caminho para a iluminação profunda.
Ta
Hui (mestre Ch’an 1089-1163)
Apenas a mente limitada
faz escolhas. Por inteligência refiro-me à profunda inteligência da mente, emoção
e vontade. Um homem verdadeiramente inteligente não tem escolha porque sua
mente só pode estar ciente do que é verdade, e assim ele só pode escolher o
caminho da verdade. Ele na verdade não tem escolha. Só as mentes limitadas têm
livre-arbítrio.
Jiddu Krishnamurti
(1895-1986)
Um rio recebe tudo – o esgoto,
os cadáveres, a sujeira das cidades por onde passa, e ainda assim limpa a si
mesmo em poucos quilômetros. Ele recebe tudo e permanece sendo ele mesmo, não
se importando nem discriminando o puro do impuro. São apenas as lagoas, as
pequenas poças d’água que logo são contaminadas, pois elas não são vivas,
correntes, como os rios largos e fluentes de cheiro doce. Nossas mentes são
pequenas poças d’água, logo se tornam impuras. É a pequena poça, chamada mente,
que julga, pesa, analisa, e ainda assim permanece a pequena poça de
responsabilidade.
Jiddu Krishnamurti
(1895-1986)
Meditamos para conhecer nossa mente. Mas isso não significa que
pensamos: “Tenho que ficar em paz!” Se pensarmos e nos apegarmos dessa forma,
tenderemos a ficar irritados conosco mesmos quando não estivermos em paz. Nosso
objetivo é apenas conhecer a mente. E quando estamos trabalhando para
desenvolver a consciência constante, isso inclui momentos em que não estamos
muito pacíficos, quando há pensamentos e distrações surgindo. Então, nós apenas
sabemos: “Oh, agora a mente está distraída”. Haverá também momentos em que
nossa atenção plena e concentração serão fortes e os obstáculos desaparecerão.
Nessas horas, estamos cientes de que, “Agora a mente está em paz. Agora a mente
está calma e concentrada.” Seja qual for a experiência, sabemos o que é. Esse é
o nosso objetivo.
Ajahn
Chah