terça-feira, 30 de setembro de 2014

Ser a verdadeira pessoa


Diz o Mestre Linji: “Deves ser soberano de acordo com o lugar onde te encontres, ser a verdadeira pessoa onde quer que estejas, não permitindo que as condições te arrastem”.

Onde quer que nós estejamos, nosso verdadeiro eu está presente. Não ficamos diante de uma multidão fingindo-nos de dignos para depois tornar-nos desatentos quando estamos sozinhos. Na verdade, quer sozinho, quer com outros, cada um de nós ainda é seu verdadeiro ser. Quer defecando, quer ministrando uma preleção sobre o Darma, nós somos a mesma pessoa.

Thich Nhat Hanh
(em “Nada Fazer, Não Ir a Lugar Algum”) 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Olhar profundamente e descobrir a realidade

Os quatro alicerces do ser – forma, sentimentos, formações mentais e percepções – todas estão relacionadas entre si; elas intersão. Não podemos separar qualquer uma das outras três. Se soubermos a arte de olhar profundamente, descobriremos a realidade como ela verdadeiramente é. Assim nós removemos os erros e as percepções errôneas. Essa é a libertação através da compreensão e a salvação pelo conhecimento.  Se quisermos  usar o termo graça, ela é compreendida aqui como sabedoria, conhecimento e compreensão.

Muitas vezes sofremos devido a nossa ignorância, ciúme e raiva. E na origem desses sentimentos está a ignorância - não sabemos porque sofremos. No momento em que começamos a entender nossos sentimentos, eles se dissolvem. A compreensão é o que liberta, meditamos para obter essa visão libertadora. É por isso que nossas percepções são tão importantes. Devemos sempre nos voltar para elas e indagar sobre sua verdadeira natureza.

Thich Nhat Hanh
(em “Awakening of  the Heart: Essential Buddhist Sutras and Commentaries”)

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

As dores como auxílio

Quando doença, miséria, inimigos, espíritos malignos e todo mal do tipo surgir, se você não cair sob o poder deles, eles se tornam um auxílio no caminho para a iluminação. São como o vento, que pode tanto apagar uma chama quanto espalhar um incêndio pela floresta.

Kunzang Pelden

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Todas as formações são impermanentes


Uma flor é composta de vários elementos. Quando esses elementos se reúnem, uma flor se manifesta.

Entre esses elementos podemos ver o sol.  Se tocarmos a flor profundamente, tocaremos também o sol. Não podemos tirar o sol da flor. Se o fizermos, a flor não mais existirá. Por isso, a flor e o sol intersão.  Ao tocarmos a flor profundamente podemos tocar também um nuvem. Há uma nuvem no coração da flor, e não podemos tirá-la dali. Por isso, a flor e a nuvem intersão.

Se continuarmos olhando profundamente veremos a terra, os minerais, o ar e tudo mais em uma flor. Todos esses elementos se reúnem para criar aquilo que chamamos “flor”. Todas as formações são impermanentes. Se uma das condições não é suficientemente adequada, a formação se desfaz. Não haverá mais flor.

O medo é uma formação mental; é composto de vários elementos, incluindo a ignorância. Desespero, angústia, apego, amor e atenção plena são formações mentais. A respiração consciente nos aproxima de nossas formações mentais quando estas se manifestam.  Quando o medo se manifesta, a respiração consciente nos aproxima de nosso medo para que possamos abraçá-lo. Então, olhamos profundamente dentro de sua natureza para nos reconciliarmos com ele. Ao fazê-lo podemos acalmar nosso medo, reconhecendo-o e descobrindo sua verdadeira natureza. Ver a natureza de nosso medo ajuda a transformá-lo.

Thich Nhat Hanh
(em “Awakening of  the Heart: Essential Buddhist Sutras and Commentaries”)

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Sermos nós mesmos



Se não somos plenamente nós mesmos, 
  verdadeiramente no momento presente, 
         nós perdemos tudo.

Thich Nhat Hanh

Plenamente presentes

Estarmos plenamente presentes é o bastante para preencher nossas vidas por inteiro.

Thich Nhat Hanh
(em “Nada Fazer, Não Ir a Lugar Algum”) 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Praticando seriamente


No Dharma, não podemos nos limitar a uma mera compreensão intelectual. A prática séria e dedicada é indispensável. Para progredir, precisamos realmente praticar.

Os grandes praticantes do passado alcançaram rapidamente a iluminação porque abandonaram completamente os interesses mundanos. A prática do Dharma era a única coisa que importava em suas vidas, e eles estavam completamente convencidos da futilidade dos atrativos mundanos. Por isso, alguns deles alcançaram o estado de buda numa só vida. Eles não praticavam somente para atingir algum estado de calma ou para sentir-se melhor. Estavam comprometidos com algo muito mais importante: a libertação total do ciclo da existência.

Após refletir profundamente sobre a a natureza das experiências nesse mundo condicionado, eles tornaram-se profundamente convencidos de que ela é impregnada de sofrimento. Por isso, libertaram-se completamente da busca por prazeres mundanos. Para eles, o que está além dessa vida tornou-se mais importante. Reconhecendo a natureza condicionada e impermanente da chamada felicidade mundana, tomaram a irreversível decisão de concentrar-se sobre o que está além de todas as mudanças: a natureza real e imutável da mente, que é a fonte da verdadeira felicidade.

Lama Gendun Rinpoche
(em “Heart Advice of a Mahamudra Master”)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Agradecendo a cada dor


Assolados por aflições, descobrimos o Dharma
E encontramos o caminho da liberação.
Obrigado, forças malignas!

Quando tristezas invadem a mente, descobrimos o Dharma
E encontramos felicidade duradoura.
Obrigado, tristezas!

Através do dano causado por espíritos, descobrimos o Dharma
E encontramos destemor.
Obrigado, fantasmas e demônios!

Através do ódio das pessoas, descobrimos o Dharma
E encontramos benefício e felicidade.
Obrigado, aqueles que nos odeiam!

Através da adversidade cruel, descobrimos o Dharma
E encontramos aquilo que não muda.
Obrigado, adversidades!

Através daqueles que nos forçam, descobrimos o Dharma
E encontramos o significado essencial.
Obrigado a todos que nos impelem!

Dedicamos o mérito a todos vocês, para retribuir sua gentileza. 


Longchenpa

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Lidar com o sofrimento

A causa da felicidade vem raramente,
E muitas são as sementes do sofrimento!
Mas se eu não tiver dor, jamais ansiarei por liberdade.
Então, ó mente, seja firme!

Não há nada que não
Fique fácil através do hábito.
Saber lidar com pequenos problemas
Irá me preparar para tristezas maiores.

Calor e frio, vento e chuva,
Doença, prisão, espancamento –
Não irei me irritar com essas coisas,
Pois fazer isso agravaria meu problema.

Shantideva
(em “O Caminho do Bodisatva” cáp. 6 – versos 12, 14 e 16)

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O tempo é valioso

Deus está aqui, é a nossa verdadeira natureza, nosso cerne intrínseco, assim como a água é o cerne intrínseco da onda. E se a onda sabe como se refugiar na água, se sabe acreditar na água, ela perde todos os seus medos, tristezas e seu ciúme. Se nos refugiamos em nossa verdadeira natureza, não mais temeremos ganhar, perder, ter, não ter, viver, morrer, ser e não ser.

O tempo é valioso. Vamos deter a mente que corre.

Thich Nhat Hanh
(em “Nada Fazer, Não Ir a Lugar Algum”) 

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Estou em casa


Eu cheguei.
Eu estou em casa.
Meu destino está
                      em cada passo.

Thich Nhat Hanh

Cada um vivencia um mundo




O mundo no qual vivemos é uma projeção de nossas tendências cármicas, a consequência natural de nossas ações passadas através do corpo, da fala e da mente. Quando não compreendemos a condicionalidade de nosso mundo, vivemos numa liberdade ilusória. Seguimos com a certeza de que construímos nossas vidas de acordo com nossos desejos e pensamos ser capazes de garantir para sempre circunstâncias felizes para nós e evitar o sofrimento. Contudo isso não é possível, e essa ilusão nos traz somente decepções pois  não consideramos a lei do carma.

Com a atuação de tantas forças que nos influenciam de diversas maneiras, sobra muito pouco espaço para decidirmos livremente. Logo, deveríamos usar esse exíguo espaço para fazermos melhores escolhas através de nossas ações, palavras e pensamentos presentes e possibilitarmos assim um futuro melhor e mais livre para nós mesmos. Aos poucos, nos livraremos dos nossos condicionamentos e preparemos a base para uma compreensão mais profunda da realidade.

A variada mistura cármica de felicidade e sofrimento é tão variada como o número de seres. Como à cada ação individual corresponde uma consequência individual, o que cada um de nós vivencia é também uma questão pessoal. Por isso cada pessoa possui suas próprias experiências pessoais, mesmo quando vivem em circunstâncias externas semelhantes às dos outros. Cada um vivencia um mundo diferente.

Lama Gendun Rinpoche
(em “Heart Advice of a Mahamudra Master”)

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Apego ao eu onde não há eu


Esse apego a um ego onde não há ego, esse apego a um eu onde não há eu é bem sem sentido. Nossa mente é apenas um viajante, uma consciência que já nasceu antes como um deus ou qualquer coisa.

Se pensarmos sobre a origem deste nosso corpo, as atos positivos e negativos que executamos em nossas vidas anteriores são a causa principal; e a condição adicional é a consciência se inserindo entre o esperma e óvulo de nossos pais.

Então, esta mente é a mente de outro, e este corpo é o corpo de outros; e, ainda assim, concebemos isso como sendo “eu”.

Desde um tempo sem início nos habituamos a conceber este “eu” como algo existindo no passado, no presente e no futuro. Por causa disso tentamos conseguir para nós ganho, elogios, boa reputação e fama — os quatro aspectos vantajosos das oito preocupações mundanas* — reservando todo ganho e vitória para nós mesmos.

Deixamos toda perda e derrota para os outros. Dirigimos a perda, crítica, infâmia e obscuridade — os quatro aspectos desvantajosos das oito preocupações mundanas — aos outros. Como resultado desse erro, temos vagado pelo samsara até o presente.


Khenpo Ngawang Pelzang

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

As Três Mentes de Buda: Amor, Compaixão e Sabedoria



Amor, compaixão e sabedoria são a essência de qualquer prática espiritual diária. Lembre-se dessas três mentes de Buda de manhã, de dia e ao anoitecer. Transforme todas suas atividades com seu poder. Não é que você tenha que ficar sentado em meditação todo o tempo; você pode gerar essas qualidades supremas durante todas suas atividades diárias.

Considere os méritos gerados por sua prática antes de se recolher. Medite de novo de manhã para que você esteja efetivamente honrando essas três mentes todo o tempo. Estabeleça suas atividades dentro desse estado para que o que quer que faça reflita essas três qualidades preciosas.

No início, pode ser difícil realmente sentí-las constantemente, mas se pudermos aprender a iniciar nossas atividades com a disposição das três mentes de Buda, ajudamos a criar as condições em que todos os fenômenos podem ser transformados em seu estado puro. Eventualmente, você não terá que pensar sobre essas três qualidades todo o tempo para invocar sua presença em seu fluxo mental, porque cada uma de suas atividades já terá perfeitamente se fundido com a mente-buda.

Buda Shakyamuni disse que quando você tem essa atitude de bodhicitta continuamente, mesmo seus gestos casuais ficam naturalmente saturados de amor, compaixão e sabedoria. O olhar dos seus olhos revela essas qualidades; sua própria presença, movimentos e voz transmitem poder especial aos outros.

Tudo não pode ser descoberto de uma vez, mas se você continuar por esse caminho, vai cada vez mais irradiar e ampliar as qualidades puras da mente-buda, que é iluminada e perfeita, o estado último de consciência plena livre de ilusões e obscurecimentos. Ela é totalmente desperta e brilha de modo desobstruído por todas as direções, para que todos possam receber suas bênçãos. Com prática, você pode viver no mundo e ser de ajuda para os outros enquanto continua a manter essa realização.

Kenchen Palden Sherab Rinpoche
(em ““Door to Inconceivable Wisdom and Compassion”” - retirado do blog darma.info)



sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O verdadeiro herói

Entre aquele cujos instáveis sentidos estão controlados –
estes seis sentidos que nunca param de se arremessar às coisas –
E aquele que combateu e derrotou muitos inimigos,
O primeiro é o verdadeiro herói.

Nagarjuna
(em “Carta a um Amigo”)

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A impermanência é uma boa notícia

Se você sofre, não é porque as coisas são impermanentes. É porque você crê que as coisas são permanentes. Quando uma flor morre, não sofremos muito, porque entendemos que as flores são impermanentes. Mas você não pode aceitar a impermanência de uma pessoa amada, e sofre profundamente quando ela morre. Se você olhar a impermanência em profundidade, fará o melhor que puder para fazer essa pessoa feliz agora. Consciente da impermanência, você se torna positivo, amoroso e sábio. Impermanência é boa notícia. Sem impermanência nada seria possível. Com impermanência toda porta é aberta para a mudança. Em lugar de lastimar, deveríamos dizer: Longa vida para a impermanência. Impermanência é um instrumento para nossa liberação.

Thich Nhat Hanh
(em “Cultivando a Mente de Amor”)

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A melhor escolha

Estamos todos buscando a felicidade e tentando evitar o sofrimento, cada um de nós fazendo o possível para tornar a vida mais confortável e se livrar de tudo que consideramos incômodo ou que nos faça sofrer. Em meio a esse conflito de interesses, não há muita liberdade de escolha. Cada situação foi tecida pelos nossos próprios pensamentos, palavras e atos acumulados ao longo de incontáveis vidas e espalharam as sementes do carma que experimentamos agora. Nos encontramos presos na teia do carma amadurecido e por isso, quer gostemos ou não, somos levados pela força dos eventos, sofrendo ainda mais porque o que tiver que acontecer, acontecerá, apesar de nossos desejos em contrário.

O Buda nos disse que se quisermos saber o que fizemos no passado devemos simplesmente olhar para a nossa vida no presente, e se quisermos saber o que será de nós no futuro devemos olhar para as ações que praticamos agora. Esta é uma declaração importante, porque nos permite entender o motivo pelo qual passamos pelas situações que surgem.

A verdadeira realidade significa optar por reagir positivamente ao que quer que esteja ocorrendo, assegurando que a atitude que adotarmos será virtuosa e por isso definirá o tipo de experiências que teremos no futuro. Sabendo que o sofrimento se origina nas más ações e a felicidade tem origem nas boas ações, cabe a nós fazermos a escolha correta. Por exemplo, se alguém é agressivo conosco, isso se deve ao amadurecimento do carma que acumulamos previamente e não há nada que possamos fazer para evitar. Se optarmos por reagir agressivamente, isso apenas perpetuará essa situação. Por outro lado, se agirmos com paciência e mostramos gentileza para com a outra pessoa, criamos as causas para a felicidade futura. Teremos feito a melhor escolha.

Lama Gendun Rinpoche
(em “Heart Advice from a Mahamudra Master“)

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Praticando a impermanência

Os antigos mestres da linhagem Karmapa meditavam todos os dias sobre a impermanência. Quando bebiam chá, diziam a si mesmos: “É grande fortuna eu poder beber minha xícara de chá hoje. Ninguém sabe se isso me será concedido amanhã”. E todas as noites, antes de dormir, colocavam sua xícara ao lado da cama com a boca para baixo, conscientes de que a morte poderia vir naquela noite. Ao despertar na manhã seguinte, desviravam a xícara e diziam: “Que sorte tenho por poder viver mais um dia! Muitos morreram nessa noite. Preciso aproveitar essa oportunidade e, sem hesitar, agir positivamente hoje”. Dessa maneira, praticavam a impermanência, a natureza mutável de todas as coisas.

Lama Gendun Rinpoche
(em “Heart Advice of a Mahamudra Master”)

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Submetendo-se ao presente

Todos já estivemos nessa situação. É muito perigoso quando não há espaço para avançar ou recuar. Podemos sentir que estamos a ponto de morrer. Não há saída e estamos paralisados. Como sobrevivemos?

Então, como escapamos? Não podemos. Tudo o que podemos fazer nessa situação é submeter-nos e estar no momento completamente, sem tentar fingir que sabemos como sair dela. Nesta contradição nós achamos a verdade. Assim que nos submetemos à situação, nós vemos a senda. Onde antes estávamos presos, agora estamos livres.

Thich Nhat Hanh
(em “Nada Fazer, Não Ir a Lugar Algum”) 

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

É melhor fluir com o rio

Nossos pensamentos e sentimentos fluem como um rio. Se tentarmos interromper o fluxo de um rio, encontraremos a resistência da água. É melhor fluir com ele, e depois conseguiremos guiá-lo pelos caminhos que queremos que percorra. Não devemos tentar detê-lo.

Tenha em mente que o rio precisa fluir e que vamos segui-lo. Precisamos estar conscientes de todos os pensamentos, sentimentos e sensações que surgem em nós – da sua origem, duração e desaparecimento. Você percebe? Agora a resistência começa a desaparecer. O rio das percepções ainda está fluindo, porém não mais na escuridão. Ele flui agora na luz da consciência. Manter esse sol sempre brilhando dentro de nós, iluminando cada regato, cada seixo, cada curva do rio, é a prática da meditação.

Thich Nhat Hanh
(em “O Sol meu coração, da atenção à contemplação intuitiva”)

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Não é fácil, mas devemos continuar

Somos muito privilegiados e muitas vezes não percebemos o tamanho do privilégio, da sorte que temos. Não deixar de praticar é um grande desafio. Todos podem sentir que tem algo para ser encontrado, criado, dentro de nossas mentes. A vida é difícil, ser disciplinado não é fácil, praticar não é fácil, trabalhar não é fácil, esquecer-se de si mesmo, jogar fora seu orgulho e vaidade, não é fácil, não deixar que pensamentos negativos nos governem, o medo, a raiva, paixões, ambições pequenas, não deixar que isso tudo nos governe. Temos que ser superiores a esses sentimentos se quisermos estar mais perto de Buda. Reverenciamos Buda como um modelo, um grande mestre, ele mostrou que era possível, por isso tantos o seguiram. Somos maus alunos. Frequentemente vejo minhas falhas, mas pelo menos estamos tentando e isso que é ser praticante.

Monge Genshô
(em seu blog “O Pico da Montanha é onde estão os meus pés”)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A esperança rouba o momento presente

A primeira Nobre Verdade do Buda é que, quando sentimos sofrimento, não significa que alguma coisa está errada. Que alívio! Finalmente alguém disse a verdade! Sofrimento é parte da vida e nós não precisamos achar que ele está acontecendo porque nós, pessoalmente, fizemos a escolha errada. No entanto, na verdade quando sentimos o sofrimento, acabamos achando que algo está errado. Como estamos viciados em esperança, sentimos que podemos abafar nossas experiências, ou avivá-las, ou modificá-las de alguma forma. E continuamos sofrendo muito.

No mundo da esperança e do medo, nós sempre temos que trocar de canal, trocar a temperatura, trocar de música. Porque algo está ficando desconfortável, algo está ficando impaciente, algo está começando a doer. E nós continuamos buscando alternativas. Em um estado mental não-teísta, abandonar a esperança é uma afirmação. O começo do começo.

Esperança e medo vêm da sensação de que nos falta algo. Eles vêm de uma sensação de pobreza. Nós não conseguimos simplesmente relaxar em nós mesmos. Nós nos agarramos à esperança. E a esperança nos rouba o momento presente. Sentimos que alguém sabe o que está acontecendo, mas que há algo faltando em nós, algo está em falta no nosso mundo.

Em vez de deixar a negatividade tirar o melhor de nós, podemos reconhecer que agora mesmo nos sentimos mal. Essa é uma coisa compassiva a se fazer. Essa é a atitude corajosa a tomar. Podemos cheirar o mal que nos sentimos, podemos sentir! Qual é a textura, a cor e a forma? Podemos explorar a natureza do sentimento. Podemos conhecer a natureza do desgosto, vergonha, e não acreditar que há algo errado nisso. Podemos abandonar a esperança fundamental de que existe um eu melhor, que um dia vai emergir. Nós não podemos simplesmente pular por cima de nós mesmos, como se não estivéssemos lá. É melhor dar uma olhada direta em nossas esperanças e medos. Então, uma espécie de confiança, nossa sanidade básica, surge.

Pema Chodron
(em "Quando Tudo se Desfaz")

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Cada experiência muda o cérebro

Se eu observar cada pensamento, cada sentimento e cada sensação que passar pela minha mente, a sensação de um self limitado se dissolverá, sendo substituída por uma consciência muito mais calma, ampla e serena. E o que aprendi com os cientistas é que, como cada experiência muda a estrutura neuronal do cérebro, ao observarmos a mente dessa maneira podemos transformar a fofoca interior que alimenta nossa convicção de ter um self.

Yongey Mingyur Rinpoche
(em "The Joy of Living")

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Seis bilhões de mundos.

Lembro-me de uma tarde em que estava sentado nos degraus  do nosso monastério no Nepal. As tempestades da época das  monções haviam transformado o pátio em uma vasta  extensão de água barrenta e tínhamos construído um  caminho de tijolos para atravessá-lo. Uma amiga chegou à  beira da água, observou a cena com uma expressão  de desgosto e começou a travessia, reclamando a cada passo  que dava. Quando chegou onde eu estava, olhou para trás e  disse: “Argh… e se eu tivesse caído naquela imundice? Tudo  é tão sujo neste país…” Como eu a conhecia bem, concordei, esperando oferecer-lhe algum conforto com minha simpatia silenciosa. Poucos minutos depois, Raphaèle, outra amiga, chegou à trilha que atravessava o charco. “Hop, hop, hop”, cantou, pulando de um tijolo para outro, e, ao alcançar a terra seca, gritou: “Como isso é divertido”! Com os olhos brilhando de alegria, acrescentou: “A melhor coisa nas monções é que ficamos livres da poeira”. Duas pessoas, dois modos de olhar para a mesmo situação. Seis bilhões de seres humanos, seis bilhões de mundos.

Matthieu Ricard
(em "Felicidade - A Prática do Bem-Estar")