Lembro-me de uma tarde em que estava sentado nos
degraus do nosso monastério no Nepal. As
tempestades da época das monções haviam
transformado o pátio em uma vasta
extensão de água barrenta e tínhamos construído um caminho de tijolos para atravessá-lo. Uma
amiga chegou à beira da água, observou a
cena com uma expressão de desgosto e
começou a travessia, reclamando a cada passo
que dava. Quando chegou onde eu estava, olhou para trás e disse: “Argh… e se eu tivesse caído naquela
imundice? Tudo é tão sujo neste país…”
Como eu a conhecia bem, concordei, esperando oferecer-lhe algum conforto com
minha simpatia silenciosa. Poucos minutos depois, Raphaèle, outra amiga, chegou
à trilha que atravessava o charco. “Hop, hop, hop”, cantou, pulando de um
tijolo para outro, e, ao alcançar a terra seca, gritou: “Como isso é
divertido”! Com os olhos brilhando de alegria, acrescentou: “A melhor coisa nas
monções é que ficamos livres da poeira”. Duas pessoas, dois modos de olhar para
a mesmo situação. Seis bilhões de seres humanos, seis bilhões de mundos.
Matthieu Ricard
(em "Felicidade - A Prática do Bem-Estar")
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