segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Seis bilhões de mundos.

Lembro-me de uma tarde em que estava sentado nos degraus  do nosso monastério no Nepal. As tempestades da época das  monções haviam transformado o pátio em uma vasta  extensão de água barrenta e tínhamos construído um  caminho de tijolos para atravessá-lo. Uma amiga chegou à  beira da água, observou a cena com uma expressão  de desgosto e começou a travessia, reclamando a cada passo  que dava. Quando chegou onde eu estava, olhou para trás e  disse: “Argh… e se eu tivesse caído naquela imundice? Tudo  é tão sujo neste país…” Como eu a conhecia bem, concordei, esperando oferecer-lhe algum conforto com minha simpatia silenciosa. Poucos minutos depois, Raphaèle, outra amiga, chegou à trilha que atravessava o charco. “Hop, hop, hop”, cantou, pulando de um tijolo para outro, e, ao alcançar a terra seca, gritou: “Como isso é divertido”! Com os olhos brilhando de alegria, acrescentou: “A melhor coisa nas monções é que ficamos livres da poeira”. Duas pessoas, dois modos de olhar para a mesmo situação. Seis bilhões de seres humanos, seis bilhões de mundos.

Matthieu Ricard
(em "Felicidade - A Prática do Bem-Estar")

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