Nada pode libertá-lo, porque você já é livre. Veja a si próprio com a
clareza não-desejante, isso é tudo.
Sri
Nisargadatta Maharaj (1897-1981)
Autolibertação é como sonhar que está preso em correntes de ferro. Se
você não sabe que está sonhando, seu cativeiro parece real, você acha que é
real, e sua experiência parece confirmar que é real. Mas se você sabe que está
sonhando, sabe que as correntes não existem de verdade, e que você não está
verdadeiramente preso por elas. A prisão na realidade não existe. No sonho,
nada precisa ser feito ou libertado — você é livre como você é. No sonho, mesmo
que pareça uma experiência de prisão, na verdade há liberdade.
Khenpo
Tsultrim Rinpoche
A meditação é o desabrochar da compreensão. A compreensão não está
dentro das fronteiras do tempo, o tempo nunca traz compreensão. A compreensão
não é um processo gradual em que se vai juntando pouco a pouco, cuidadosa e
pacientemente. A compreensão acontece agora ou nunca; é um relâmpago
destruidor.
O ego quer ser um grande meditador. O ego quer ser sábio e amoroso e compassivo. Ele se vê lá. Todos irão dizer, “Nossa, desde que você voltou daquele retiro você está tão diferente. O que você encontrou? Me conte”. Nada a ver com isso. Não há nada que encontrar. Não há nenhum lugar a ir.
Jetsunma Tenzin Palmo
A infelicidade precisa ser construída: nossa angústia por existir, por
sermos temporários, por haver finitude, por não haver certezas, nossa ansiedade
pelo futuro, nossas tristezas pelo passado, pelo que perdemos, pelo que não
volta mais – tudo isso só existe dentro de nossa própria mente. E a única
verdadeira realidade é este momento, este agora, este pássaro cantando, nosso “estar
sentados”, nossa respiração deste momento.
Por essa razão devemos ser profundamente conscientes. A felicidade está
disponível a cada momento, e isso é a única coisa que realmente existe, e ainda
assim, não podemos agarrar este instante. A infelicidade é construída com os
nossos pensamentos, nossas palavras e ações a todo momento. Sejamos senhores de
nossas mentes e, desta forma, poderemos viver este momento tal como ele é, e
sermos profundamente agradecidos por nossa consciência, pelo nosso universo girando
em volta de nosso zazen.
Monge
Genshô
Há espaço na nossa mente? Se a mente tem espaço então nele há silêncio.
Desse silêncio surge todo o resto, e então você consegue escutar, prestar atenção
sem resistência. Por isso é muito importante que haja espaço na mente. Assim
ela consegue escutar um cão latindo, o som de um trem cruzando a ponte
distante, além de conseguir estar totalmente consciente do que está sendo dito
por uma pessoa que ala com ela. A mente é uma coisa viva.
Mas, permeando todo o ensinamento de Dogen, existe um único experimento
mental: se você já é um buda, se não está se esforçando para alcançar alguma
coisa, então como você age? Como você cuida desse momento - não no sentido abstrato,
mas na maneira como se move, na maneira como segura um objeto, na maneira como
abre uma porta? Os budas sabem a resposta, e isso significa que você também
sabe. Portanto, apenas aja como o Buda que você é.
Koun
Franz
Dogen escreveu: “Praticar
o Caminho com um único coração é, em si mesmo, iluminação. Não há lacuna entre
a prática e a iluminação ou a meditação e a vida diária.” Portanto, tudo o que fazemos, cada ação que
realizamos, pode ser prática. A iluminação está embutida nela. O truque é
praticar - seja lá o que for neste momento - livre da ideia de que há alguma
recompensa.
Apenas sente-se, apenas faça reverência, apenas cante, apenas estude, apenas ande - na concepção de Dogen, estes não são meios para atingir um fim, degraus para algum objetivo espiritual. Cada coisa é apenas o que é. Cada coisa é suficiente, tal como é. Está completa.
Nós descobrimos essa completude assumindo-a de uma maneira sincera - não apenas com nossas mentes, mas também com nossos corpos. Enfrentamos este momento com as nossas mãos e com a nossa postura e com a nossa respiração, com a forma como falamos e como caminhamos. “Se você entende isso”, escreveu Dogen, “você é completamente livre”.
Koun
Franz
O ego quer ser um grande meditador. O ego quer ser sábio e amoroso e
compassivo. Ele se vê lá. Todos irão dizer, “Nossa, desde que você voltou daquele
retiro você está tão diferente. O que você encontrou? Me conte”. Nada a ver com
isso. Não há nada que encontrar. Não há nenhum lugar a ir”.
Jetsunma Tenzin Palmo
No cerne dos (muitos) ensinamentos de Dogen está a noção de
prática-verificação, às vezes chamada de prática-iluminação. Essencialmente,
isso significa que o
fruto do que fazemos é exatamente o que estamos fazendo. Em outras palavras, não praticamos para atingir a
iluminação. Nós praticamos porque a prática em si é iluminação. Como disse Dogen,
não treinamos para nos tornarmos Buda; nós treinamos como Buda.
Koun
Franz
A forma mais elevada de energia, o apogeu, é o estado da mente quando
ela não tem nenhuma ideia, nenhum pensamento, nenhum senso de direção ou motivo
– é a energia pura. E essa qualidade de energia não pode ser buscada depois.
Não há caminho até ela. Para descobrir a natureza dessa energia devemos começar
por entender a energia que é desperdiçada diariamente – a energia do falar, do
ouvir um passarinho, uma voz, do olhar para o rio, para o vasto céu e os
aldeões, sujos, desleixados, doentes, famintos, e para a árvore. A observação
de tudo é energia.
Se diante das diversas situações da vida você estiver motivado por suas
experiências passadas ou por suas expectativas para o futuro, sua resposta para
cada momento será muito estreita e provavelmente inábil. Somente quando nos
engajamos totalmente, sem sermos apanhados pelas armadilhas de nosso desejo,
podemos responder a cada encontro com uma mente liberta. É por isso que é
importante ficarmos acordados e nos integrarmos com o que realmente está
acontecendo, não com o que desejamos que aconteça ou com o que tememos que
aconteça.
O ensinamento de Dogen sobre a unidade ser-tempo, ou a própria
realidade, é vasto. A essência do ser-tempo* é a compaixão, a sabedoria e a
ação hábil. O ensinamento de Dogen sobre o ser-tempo não é um tratado
filosófico sobre a relação do tempo com o ser; é uma cartilha sobre como
aliviar o sofrimento de si mesmo e dos outros.
Shishu
Roberts
*o
ser integralmente presente, o verdadeiro ser, livre dos hábitos mentais e não
movido pelo carma ou pelo desejo.
Imagine que você está participando de uma reunião com um colega de trabalho difícil. Você entra em sua reunião hipotética com 360 graus de possíveis pontos de ação a cada momento. Sua resposta será ditada pela má vontade adquirida no passado ou você será capaz de permanecer aberto, ouvindo e respondendo?
Conforme você entra nesse momento-presente, há o passado "por trás"
de você com todas as suas experiências anteriores com seus colegas de trabalho.
No entanto, este momento não precisa ser definido por seu passado ou por suas expectativas
futuras. Uma vez que o momento em si já é livre, você tem a possibilidade de
responder sem apegos. Essa liberdade é o aspecto independente de um ser livre
do carma passado e dos desejos futuros. A libertação só pode acontecer em
resposta ao seu momento presente.
Shishu
Roberts
O aprender não aproximará de vós a Verdade. E só a mente que se acha
numa jornada de descobrimento constante, que não está acumulando, que está
morta para tudo o que ontem acumulou, e está, portanto, nova, purificada, livre
– só essa mente é capaz de descobrir o verdadeiro e promover uma revolução
neste mundo. Só ela é capaz de amor e compaixão.
Jiddu Krishnamurti (1895-1986)
Quando a mente está formulando, produzindo, não pode haver criação. Só
quando a mente está silenciosa e vazia, quando ela não está criando um
problema, somente nessa passividade alerta há criação. Ser nada não é a
antítese de ser alguma coisa. Um problema só surge quando há busca por um
resultado. Quando a busca por resultado cessa, simplesmente não existe problema.
Conhecer e esquecer as emoções, agindo pela Não Ação, eis o que é o
Verdadeiro Saber e o Verdadeiro Poder. Assim, desabrochando-se o Não Saber,
como seria possível apegar-se às emoções? Desabrochando-se o Não Poder, como
seria possível agir forçosamente? Contudo, seria inapropriado agir pela Não
Ação assemelhando-se a um montão de terra ou à poeira acumulada de silêncio
mórbido.
Guan
Yin
Lutar é a maneira da personalidade-ego manter sua existência. Quando
você deixa de lutar, a identificação com essa personalidade começa a
desmoronar, e você se conscientiza de sua vacuidade e de sua falta de limites.
A coisa mais difícil de fazer para os buscadores espirituais é parar de lutar,
de esforçar-se, de procurar e buscar. Porque na ausência de luta você não sabe
quem você é, você perde suas fronteiras, perde a sua separatividade, perde a
sua especialidade, perde o sonho que você viveu durante toda a sua vida. Por fim,
você perde tudo quanto a sua mente criou, e desperta para quem você
verdadeiramente é: a plenitude da liberdade, não limitada por quaisquer identificações,
identidades ou fronteiras.
Adyashanti
Se você não abrigar em si mesmo nenhum apego, todas as coisas se
manifestarão. Ao se mover, seja como a água. Ao permanecer em silêncio, seja
como um espelho. Ao corresponder ao mundo, seja como um eco. Esse Caminho (Tao)
segue a existência das coisas. Embora todas as coisas possam se desviar do
Caminho, este último nunca se afasta delas. Desejar seguir o Caminho por meio
da visão, da audição, da força física ou da inteligência não é apropriado.
Embora seja visto diante de nós, o Caminho pode repentinamente emergir por
detrás. Por isso, ao ser utilizado, ele preencherá todo espaço. E, quando for
abandonado, jamais saberemos o seu destino. Mesmo que a distância, ele não será
alcançado pela mente e, embora esteja próximo, não será alcançado pela Não
Mente. Somente poderá alcançá-lo aquele que, em silêncio, realizar a sua
Natureza Originária.
Guan
Yin
Uma ação sem ideia só acontece quando a mente está isenta da noção do que
pode estar experimentando. As ideias não são a verdade, e a verdade é algo que
deve ser experienciado a cada momento. Só quando se vai além do acúmulo de
ideias – além do “eu” da mente -, quando o pensamento está completamente silencioso,
há um estado de experimentação. Então se saberá o que é a verdade.
Jiddu
Krishnamurti (1895-1986)
Cada clara e cristalina manifestação do mundo inteiro é um sonho; esse
sonho não é nada mais do que todas as coisas que são absolutamente lúcidas. A
dúvida de uma pessoa sobre isso é em si mesma um sonho; a confusão da vida é um
sonho também. Neste preciso momento, todas as coisas são um sonho, estão dentro
de um sonho, ou expõem um sonho. Conforme estudamos as coisas, raízes e caules,
ramos e folhas, flores e frutos, luzes e cores – todas são um grande sonho.
Nunca confunda isso com o estado de sonho da mente.
Dogen
Zenji (1200-1253)
Sempre tenha no fundo de sua mente, “eu não sou o corpo, eu não sou o
realizador das ações, eu não sou a mente”. Sinta isso profundamente. Não se
sinta bem ou mal com isso. Não tente prolongar sua vida, isso é desperdiçar
energia. O que você chama de vida é algo que se resolverá sozinho, que sabe
mais o que fazer do que você.
Robert
Adams (1928-1997)
Devemos ter grandes feelings.
Por feeling refiro-me à qualidade da percepção, à qualidade do
ouvir, à qualidade da emoção – um pássaro cantando numa árvore, o movimento de
uma folha ao sol. Por feeling compreendo a apreciação da curva de um ramo, a
imundície, a sujeira na estrada, ser sensível ao sofrimento dos outros, ficar
em êxtase ao ver o pôr do sol. Devemos ter um forte feeling em relação à beleza, a uma palavra, ao silêncio
entre duas palavras, à escuta clara de um som. Só o feeling torna a mente extremamente sensitiva.
Jiddu
Krishnamurti (1895-1986)
Como é dito: “A
natureza última da mente é clara luz”. A consciência tem muitos níveis e, embora os níveis mais ordinários
sejam afetados por forças corruptoras, o nível mais sutil permanece livre de
negatividades grosseiras. No Vajrayana (um dos principais ramos do Budismo),
esse nível sutil de consciência é chamado de mente de clara luz. As ilusões e
aflições emocionais assim como a mente dualista de certo e errado, amor e ódio
etc., estão associadas apenas com os níveis grosseiros de consciência. No momento,
estamos totalmente absorvidos na interação desses estados grosseiros, então
devemos começar nossa prática trabalhando com eles. Isso significa
conscientemente encorajar o amor sobre o ódio, a paciência no lugar da raiva,
liberdade emocional em vez de apego, bondade por cima da violência e tudo mais.
Fazer isso traz paz imediata e acalma a mente, possibilitando assim a meditação
mais elevada. Logo, como o apego a um eu e aos fenômenos como coisas verdadeiramente
existentes é a causa de toda a vasta gama de estados distorcidos da mente, a
pessoa cultiva a sabedoria que elimina esse apego ao ego. Superar o apego ao
ego é superar toda a multidão de distorções mentais.
XIV
Dalai Lama
Quando
você se estabelece no Ser, não resta ninguém para fazer escolhas ou decidir. A
vida flui naturalmente. Você pegará as coisas necessárias e deixará de lado aquelas
que não precisa. O que escolher ou descartar não será consequência de suas
preferências, pois estas preferências já não existirão mais.
Annamalai
Swami (1906-1995)
Uma montanha é pesada?
Pode ser pesada nela mesma, mas se não tentarmos levantá-la, ela não
será pesada para nós.
Essa é uma metáfora que um dos meus professores geralmente usava ao
explicar como parar de sofrer com os problemas da vida. Você não nega a
existência deles – as montanhas são pesadas – e você não foge deles. Como ele
dizia, você lida com os problemas onde você deve e os resolve quando você pode.
Você simplesmente aprende a não carregá-los por aí. É aí que está a arte da
prática: em viver com problemas reais sem fazer com que sua realidade
sobrecarregue o coração.
Thanissaro
Bhikkhu