quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Aceitando tudo que surgir




Não perca tempo ruminando a respeito das coisas que eventualmente o aborrecem. Se você apenas as deixar passar uma a uma à medida que surgirem, sua essência original as acolherá completamente. Siga em frente aceitando tudo o que surgir como se fosse uma lição do próprio Buda. Aceite tudo que ocorrer dessa maneira. Faça de sua mente um lar onde budas e bodhisattvas habitem em união com os demais seres do universo. Seguiremos em frente como praticantes do dharma pelo puro prazer de estar ali.

Daehaeng Sunim
(em “Touching the Earth”)

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Maturação Cármica



A maturação cármica das boas e más ações não desaparece por éons, portanto tenha cuidado até mesmo com a mais sutil forma de causa e efeito!

Padmasambhava
( em “Ensinamentos do Mestre que Nasceu do Lótus”)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O zazen correto


Tentar eliminar os pensamentos que surgem é como lavar o sangue com sangue; embora o sangue inicial possa ser removido, o sangue com o qual se lava também manchará; não importa o quanto você lave, a mancha não será removida. A mente real é originalmente não-nascida, imortal e sem ilusões; não reconhecendo isso e acreditando que os pensamentos realmente têm substância, você seguirá vagando em meio a rotina de nascimentos e mortes.

Ao reconhecer que os pensamentos são apenas aparências temporárias, você deve deixá-los surgir e desaparecer, ir e vir, sem apegar-se a eles ou rejeitá-los. São como imagens refletidas em um espelho; uma vez que o espelho é claro e brilhante, ele reflete o que estiver à frente, mas não retém as imagens. A mente iluminada é infinitamente mais brilhante e límpida que um espelho e também é radiantemente consciente, para que todos os pensamentos se dissolvam em sua luz sem deixar rastros. Se você pode acreditar e confiar nesta verdade, não importa o quanto os pensamentos surjam – eles não serão obstáculos. 

Bankei 


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Cada aflição mental é a base da sabedoria

“Os pavões comem veneno e o veneno que eles comem é transformado em belas penas.”


Tendo passado a maior parte da minha infância preso em uma pequena bolha de medo e ansiedade, sei como as aflições mentais podem ser fortes. Passei 13 anos pensando que morreria – e algumas vezes desejando morrer só para me livrar do medo que sentia. Depois que entrei no retiro e precisei encarar essas aflições, aprendi que a ignorância, o apego e a aversão constituíam o material que me foi dado trabalhar, que, como o veneno que os pavões comem, acabaram revelando-se fonte de uma grande benção.

Cada aflição mental é, na verdade, a base da sabedoria. Se ficarmos presos a nossas aflições ou tentarmos reprimi-las, acabaremos criando mais problemas para nós mesmos. Se, em vez disso, olharmos diretamente para elas, as coisas que achamos que nos matarão aos poucos se transformam nos suportes mais poderosos para a meditação que jamais poderíamos imaginar.

As aflições mentais não são nossas inimigas. Elas são nossas aliadas.

E esta é uma verdade difícil de aceitar. Mas, a cada vez que você sentir um impulso de fugir delas, pense no pavão. O veneno não tem um sabor muito bom. Mas, se você o engolir, ele se transforma em beleza.

À medida que analisamos essas práticas, passamos a reconhecer que o nível no qual qualquer experiência repele, assusta ou parece nos enfraquecer é igual ao nível no qual as mesmas experiências podem nos tornar mais fortes, confiantes, abertos e capazes de aceitar as infinitas possibilidades de nossa natureza búdica.

Yongey Mingyur Rinpoche
(em “Alegria de Viver”)

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Olhar-nos cada vez como se fosse a primeira vez



Autoconhecimento não significa acumular conhecimentos sobre si próprio; significa observar a si próprio. Se aprendo acumulando conhecimentos, nada aprendo a respeito de mim mesmo.

Temos, pois, de "aprender o que somos", observando-nos sem condenação, sem justificação, observando simplesmente nossa maneira de andar, de falar, as palavras que empregamos, os diferentes "motivos", propósitos, intenções: estando totalmente vigilantes, sem escolha. E esse percebimento não significa acumulação, mas, sim, estar vigilante de instante em instante. Se, em qualquer momento, deixardes de estar vigilante, não vos preocupeis: começai de novo. Vossa mente está, assim, sempre nova. A auto-observação, pois, não se limita ao nível superficial, mas penetra o nível mais profundo, o chamado "nível inconsciente", "oculto". Como observar uma coisa que se acha mui profundamente radicada, oculta, fechada? Nossa consciência é tanto superficial como oculta; e temos de conhecer todo o conteúdo dessa consciência, uma vez que o conteúdo integra a consciência. Não são coisas separadas: o conteúdo é a consciência.

Por conseguinte, para se compreender o conteúdo deve haver observação sem o "observador". Esta é uma das coisas mais fascinantes: descobrir como olhar a vida de maneira nova. Para observarmos o "oculto", precisamos de olhos não condicionados pelo passado; não devemos ser hinduístas, cristãos, etc. Devemos olhar-nos cada vez como se fosse a primeira vez e, por conseguinte, sem acumular. Se puderdes observar-vos dessa maneira, observar vossas ações, seja no trabalho, seja no lar; observar vossos apetites sexuais, vossa ambição - observar sem condenar, sem justificar, observar simplesmente - vereis que nessa observação não há conflito de nenhuma espécie.

Jiddu Krishnamurti
(em “O Novo Ente Humano”)

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Espalhando o Dharma



Ao refletir sobre os nove dias que passamos com Thay no hospital, foi uma experiência única para todos nós. Foi maravilhoso ver quantas vidas foram tocadas por Thay enquanto ele estava hospitalizado. Durante sua estada ali, Thay usou seu tempo de forma efetiva e eficiente. Muito amor e compaixão foram transmitidas através de suas atitudes. Sua sabedoria estava sempre fluindo como uma cascata. O Dharma estava presente onde quer que Thay estivesse, não somente através de suas palavras mas também, silenciosamente, por meio de seus pensamentos e gestos.

Thay estava sempre muito equilibrado, repousando no momento presente e profundamente capaz de viver com alegria, pacificamente, e feliz no aqui e agora. Isso ficou muito claro ao longo desses nove dias. E  ao viver essa experiência, pudemos constatar os benefícios em se viver e ver a vida de maneira otimista. A chave para isso, como Thay sempre nos diz, é viver com a mente atenta em cada momento, repousando pacificamente no aqui e agora.

Brother Phap Nguyen
(em “One Buda is Enough” – sobre um retiro organizado pela comunidade de monges de Plum Village, do mestre Thich Nhat Hanh)

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Quando nos protegemos do sofrimento





Quando nos protegemos do sofrimento, achamos que estamos sendo bondosos conosco mesmo. A verdade é que apenas nos tornamos mais amedrontados, endurecidos e alienados. Percebemos a nós mesmos como separados do todo. Essa separação transforma-se em uma espécie de prisão- uma prisão que nos encerra em nossas próprias esperanças e medos, que nos leva a nos importarmos apenas com aqueles que estão mais próximos. O curioso é que, antes de mais nada, estamos tentando nos proteger do desconforto e, com isso, sofremos. Já quando não nos fechamos e permitimos que a dor toque nosso coração, descobrimos nossa afinidade com todos os seres. Sua Santidade, o Dalai Lama, descreve dois tipos de pessoas egoístas: as sábias e as tolas. As tolas pensam apenas em si mesmas, o que resulta em confusão e dor. As sábias acreditam que estar ali, apoiando os outros, é a melhor coisas que podem fazer por si mesmas. Como resultado, sentem alegria.

Pema Chodron
(em”Quando Tudo se Desfaz”)

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Manter a perseverança




Nós somos encorajados a meditar todos os dias, mesmo que seja por pouco tempo, para manter a perseverança em nós. Sentamos sob quaisquer circunstâncias – seja quando nos sentimos saudáveis ou doentes, seja com bom ânimo ou depressivos, seja quando achamos a meditação boa ou dispersiva. À medida em que sentamos veremos que meditar não diz respeito a fazer corretamente ou atingir algum estado especial. Refere-se a ser capaz de estar inteiramente presente consigo próprio. É incrivelmente claro que não nos libertaremos de nossos padrões autodestrutivos a menos que desenvolvamos uma compreensão amorosa a respeito deles.

Pema Chödrön
(em “A Beginner’s Guide to Meditation”)

sábado, 19 de setembro de 2015

Sobre escrever a própria vida

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Fernando Teixeira de Andrade


Criar o sentido de sua própria vida não é fácil, mas ainda é permitido, e eu acredito que você será mais feliz se se der o trabalho de tentar.


Bill Watterson (criador de "Calvin e Haroldo")

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Não tenha medo. A noite passa.





Sem a Grande Determinação não vamos conseguir atravessar a noite escura. Se falhar a nossa determinação, vamos acabar “voltando para trás”, em lugar de completar esta etapa da jornada. Não vamos chegar até o raiar do novo dia, aquele pedaço de Iluminação que seria resultado de nosso questionamento, fé e determinação.

Se a nossa determinação for fraca, vamos falhar. Se a nossa determinação depende de outras pessoas para nos apoiar, vamos falhar. Pois a noite escura da alma é exatamente isto: é um momento em que nos sentimos totalmente sós – a nossa dúvida nos consumindo, a autoconfiança cambaleada, a nossa fé no limite –, só vemos escuridão e é somente a nossa determinação que nos segura no caminho. Afinal, o momento mais escuro da noite é o momento logo antes do nascer do Sol. E é a mesma coisa na jornada espiritual.

No meio da noite escura da alma, passamos por uma fase de ficar só enxergando as perdas, as “mortes”. Talvez percamos contato com a nossa fé. Talvez nos entreguemos ao medo. Talvez não resistamos às pressões e voltemos correndo, tentando voltar à nossa “zona de conforto” anterior, voltar à “harmonia conhecida”, voltar às amizades e relacionamentos antigos que não queremos arriscar perder, buscando apoio externo na falta de nosso próprio apoio interno. Quantas e quantas pessoas fraquejam neste ponto, justo quando estão quase lá, quase vencendo esta fase da jornada. Que tristeza! É como se vendessem a alma, caíssem em “tentação”.

É por isto que todas as tradições espirituais falam da dificuldade da jornada. Todas as tradições espirituais têm a sua forma de descrever o processo de passar pela “noite escura da alma”. . A tradição budista nos fala da determinação de Buda quando ele sentou em baixo da figueira, decidido a não se levantar dali até que encontrasse a resposta, a Iluminação. Fala, em linguagem simbólica, dos ninhos que pássaros construíram em seu cabelo, das teias que as aranhas teceram, das plantinhas que cresceram entre os dedos dos seus pés, tudo para nos ajudar a imaginar uma determinação tão firme, inquebrantável, que permitisse que ficasse lá, sentado em meditação o tempo suficiente e com a “imobilidade” – firmeza de propósito – suficiente para atingir a Iluminação.

Lembro-me de momentos de dúvida (dúvidas que pareciam bastante grandes para mim, na época), em que toda a minha fé foi posta à prova e em que parecia que a minha determinação não ia aguentar, e lembro-me dos raiares do sol que vieram ao final daquelas noites escuras da alma. Não posso dizer que eu tenha atingindo qualquer GRANDE Iluminação, mas com certeza, sinto que posso dizer que cheguei a algumas pequenas iluminações, de acordo com a minha capacidade de ter uma dúvida, de cultivar a fé e de achar dentro de mim mesma a determinação de prosseguir até a hora do Sol nascer.

Como será que isto vai acontecer? Como será o momento da virada, de uma pequena iluminação? Vai ser o seu momento, único, totalmente diferente dos meus momentos – e nem para mim um momento será igual ao outro. Só posso compartilhar que, para mim, a virada vinha muitas vezes quando eu finalmente parava de lutar contra os acontecimentos e me entregava totalmente. Sabia que a gente tem todo o direito de espernear e reclamar tudo que quiser neste universo? Só que o Darma simplesmente vai continuar procurando nos ensinar. Então não precisa se sentir culpado por passar por uma fase de “briga com o Universo” antes de chegar a uma entrega! Outras vezes, a virada veio quando finalmente percebi a “comédia dos absurdos” numa situação e caí nas gargalhadas, de corpo e alma. De qualquer forma, a virada vinha quando algo dentro de mim mudou. A mudança nunca vinha de fora, só de dentro. Este que é o detalhe importante: a mudança tem que vir de dentro.

A noite passa. O novo dia nasce. A Luz retorna. Portanto, se você estiver atravessando uma noite escura da alma, não abra mão de sua fé, não vacile na sua determinação. Não tente voltar ao “conforto” ou “harmonia” ou “segurança” anterior. Se, no seu coração você sabe que está ouvindo a voz de sua Natureza Buda, prossiga firme. Mergulhe, deixe que a Grande Dúvida lhe “consuma” até os ossos, até a medula, até restar somente o grande Vazio. Estique a sua fé, mantenha a sua determinação – e atinja mais um pedaço da Iluminação. O importante é sempre manter-se firme na busca de Sabedoria e Compaixão.

Se você está com mais Sabedoria e Compaixão, mais Paz e Tranquilidade no “dia seguinte”, saberá que atravessou a noite. Mas, se está com alguma raiva, algum mal-estar, alguma inquietação, saberá que ainda não terminou a travessia ou, pior, saberá que desistiu no meio do caminho e voltou para trás. Mesmo assim, não perca esperanças, não se critique, não se julgue. Você fez o seu melhor. Aprenda com o processo. Veja onde “falhou”, onde “errou” e comece de novo. A vida sempre nos oferece novas oportunidades. Temos todo o tempo do Universo para nos iluminar – kalpas e kalpas estão à nossa disposição!

Então, não tenha medo. A noite passa.

Isshin-sensei
(missionária internacional da Sōtō Zen e orientadora da sangha Águas da Compaixão – texto retirado do site sobrebudismo.com.br )

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Um senso de extraordinária quietude


Existe um senso de extraordinária quietude, por alguns dias já. A mente está muito alerta, mas silenciosa, tranquila; está vazia com plenitude. A partir disso, o coração se tornou simples.

Nesta vasta, imensurável tranquilidade, existe uma pequena e tão infinitesimal faísca – que, no entanto, cobre o mundo como essa Presença imensurável, uma luz, uma vida, um Amor, algo que penetra o mundo. Está aí, nunca não esteve aqui. Eu me admiro e me pergunto o que impede a percepção disso.  

Jiddu Krishnamurti
(manuscrito sem data)

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Longevidade






Sem fronteiras entre o sagrado e o profano



Para mim, achar que lavar louça é desagradável só pode nos ocorrer quando não estamos fazendo isso. Quando você está em pé na frente da pia, com as mangas arregaçadas e as mãos mergulhadas na água quente, lavar louça é algo realmente agradável. Gosto de me alongar em cada prato, mantendo-me plenamente consciente dele, da água e dos movimentos que faço com as mãos. Sei que se eu me apressar para comer a sobremesa, o tempo que passarei lavando a louça será mais desagradável e indigno de ser vivido. Isso seria uma pena, pois cada minuto, cada segundo da vida é um milagre. Os pratos em si e o fato de eu os estar lavando são milagres!

Se eu for incapaz de lavar louça alegremente, se quiser terminar a tarefa logo a fim de comer a sobremesa, serei igualmente incapaz de desfrutar minha sobremesa. Com o garfo na mão, estarei pensando no que vou fazer a seguir, e a textura e o sabor da sobremesa, juntamente com o prazer de prová-la, serão perdidos. Estarei sendo sempre empurrado para o futuro, sem nunca ser capaz de viver no momento presente.

Cada pensamento, cada ação à luz da consciência torna-se algo sagrado. À essa luz, não existem fronteiras entre o sagrado e o profano. Devo confessar que demoro mais tempo lavando pratos, mas eu vivo plenamente no momento, e sou feliz. Lavar pratos é ao mesmo tempo um meio e um fim – ou seja, não apenas lavamos os pratos para ter pratos limpos, como também os lavamos por lavar, para viver plenamente em cada momento enquanto os lavamos.

Thich Nhat Hanh
(em “Peace is Every Step”)

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Todo momento é importante

Cada uma de nossas ações é válida em si mesma. Não estamos “treinando”, “preparando”, “conseguindo” nada. Estamos respirando, fazendo, vivendo. E com isso estamos revalorizando nossa vida e cada um de seus momentos em sua simplicidade e entrega ao que se apresenta, ao que chega a nós. Todo momento é importante. Todo encontro é surpresa. Todo rosto é revelação. Essa atitude devolve a importância a cada instante, traz novidade ao dia, refresca a vida.

Carlos G. Vallés
(em “Elogio da Vida Cotidiana”) 

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Como Um Místico Amarra Os Seus Sapatos?





Um discípulo do famoso peregrino judeu Maggid von Mesritsch nos legou a seguinte frase: “Não fui procurar o Maggid para estudar o Torá, mas para observar como ele amarra os cadarços dos seus sapatos”.

E subitamente todo o filme começa a rodar mais devagar. O famoso sábio amarra os cadarços dos sapatos. Um discípulo o observa. Ninguém fala nada. Como em câmera lenta, o discípulo toma consciência de cada movimento do mestre. Olha com atenção, para não perder nada. Deixa-se emocionar pelo que vê. Não lhe interessa a lição abstrata, mas a vida concreta. Ele busca o encontro com uma pessoa que vivencia o que ensina. No caminho que passa pela prática, ele espera aprender alguma coisa sobre o que move e sustenta esse Maggid. E quem sabe: com esse ato de amarrar os sapatos talvez ele aprenda mais sobre o mistério da vida do que com o estudo de uma escritura sagrada.

Os místicos e místicas são como eu e você. Com a pequena diferença de que eles descobrem e fundamentam as histórias mais profundas da vida, que normalmente permanecem ocultas para nós. Essas viagens de conhecimento ao interior do ser podem se realizar de diversas maneiras no seu dia-a-dia. Posso imaginar que alguns místicos amarram os cadarços dos sapatos com uma enorme atenção e tranquilidade, e consideram essa pequena tarefa como um exercício para o caminho interior. 

O lugar em que se deve refletir e meditar sobre as grandes questões da vida deve ser sempre ali onde se está naquele momento.

Lorenz Marti
(em “Como Um Místico Amarra Os Seus Sapatos”)

sábado, 12 de setembro de 2015

O Sabor das Coisas

Quando penso no que estou dizendo, digo menos, porque é mais significativo. Quando não penso no que estou dizendo, eu digo mais coisas, porque elas perderam o sabor. E quando não tenho sabor nas coisas que eu vivo e faço, eu multiplico as coisas que vivo e faço. E falo mais. E saio mais. E faço mais festas. E tenho mais amigos. E viajo mais, e não paro de viajar pois como eu não consigo estar comigo eu quero estar em todos os lugares do mundo. Pois não tolero estar em minha casa ou pensativo, então eu tenho que estar no stress do aeroporto e visitando...Ou seja, é uma vida. Uma vida para rodar, rodar, rodar.. até que eu fique tão tonto que eu perca a consciência de mim mesmo. Por isso que nós viajamos mais do que jamais viajamos no passado, porque não estamos vendo mais nada.


Leandro Karnal

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Uma Constante Revelação - Jiddu Khrishnamurti


Como o mergulhador desce fundo no mar,
Pela pérola,
Arriscando sua vida na busca do transitório,
Deves tu mergulhar profundamente dentro de ti mesmo,
Na busca da eternidade.

Como o alpinista aventureiro que escala para conquistar,
Assim tu deves subir até aquela altura vertiginosa,
De onde todas as coisas são vistas em suas verdadeiras proporções.

Como o lótus que, rompendo o lodo, ao céu se eleva
Assim tu deves colocar de lado todas as coisas transitórias
Se queres descobrir esse reino de felicidade.

Como a árvore majestosa cuja força depende de suas raízes ocultas
E brinca com os vendavais que passam,
Assim tu deves assentar tua força oculta profundamente em ti mesmo,
E brincar com o mundo que passa.

Como a corrente de água rápida conhece sua fonte,
Assim tu deves conhecer teu próprio ser.

Como o manso lago azul cuja profundidade nenhum homem conhece,
Assim deve tua profundidade ser insondável.

Como os mares contêm um sem-número de coisas vivas,
Assim estão em ti os segredos escondidos dos mundos.

Como na encosta da montanha, nas várias altitudes, diferentes flores crescem,
Assim em ti existem gradações de beleza.

Como a terra é cheia de tesouros escondidos que o homem jamais viu,
Assim em ti há segredos ocultos, desconhecidos de ti mesmo.

Como os ventos possuem uma força imensa e inesgotável,
Assim em ti se encontra uma grande e invencível energia.

Como os cumes das montanhas dançam à luz do sol,
Assim tu deves dançar à luz do conhecimento de ti mesmo.

Como existe uma visão que sempre vai mudando na trilha tortuosa da montanha,
Assim em ti há uma constante revelação.

Como a estrela distante que cintila na noite escura,
Assim é aquele que descobriu a si mesmo.

Jiddu Krishnamurti
(em “A Busca”)

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Compreender a Realidade

Aqueles que compreendem a Realidade dispensam as palavras e retém o essencial.
Aqueles que não compreendem falham em ver a Realidade e tagarelam em vão.

Wang Tao
(citado por Red Pine em “LaoTzu’s Taoteching”)

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Elimine suas emoções negativas



A alternância entre pensamentos felizes e infelizes, ou de desejo e aversão, nada mais são que brincadeiras da luminosa amplitude da mente. Sem afetar-se com o que quer que surja, observe a natureza de seus pensamentos e você verá que por trás deles há uma grande bem-aventurança.

Dedique-se totalmente a praticar o supremo dharma enquanto ainda possui essa natureza humana.

As milhares de distrações que surgem jamais terão fim. Elas são fúteis, ocas, desprovidas de substância. Renuncie a elas! Quando você subjuga um oponente, mil outros surgem para serem superados. Por isso, elimine suas emoções negativas; elas são os inimigos que residem em sua mente.

Minling Terchen Gyurme Dorje
(citado por Matthieu Ricard em “On The Path of Enlightenment: Heart Advices from The Great Tibetan Masters”)

terça-feira, 8 de setembro de 2015

A revolução interior deve ocorrer agora




Compreender a mim mesmo não é uma questão de tempo. Posso fazer isso nesse exato momento. Se eu disser “compreenderei a mim mesmo amanhã”, estou provocando caos e sofrimento. Compreender deve ser agora, não amanhã. O amanhã é para a mente preguiçosa, a mente morosa, a mente que não se interessa. Quando estamos interessados em algo, a compreensão é instantânea, a transformação é imediata. Se você não  muda agora, nunca mudará, porque a mudança que acontece no amanhã é uma simples modificação, não é transformação. A transformação só pode ocorrer imediatamente, a revolução deve ser agora, não amanhã.

Quando isso acontece, você descobre que não tem problema algum, porque então o ser não está preocupado consigo mesmo; você se põe fora do alcance da onda de destruição.

Jiddu Krishnamurti
(em ”A Primeira e Última Liberdade”)

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Em harmonia com a vida



Aqueles que se libertam da necessidade de serem sempre atendidos vivem com humildade e evitam adulações. Aqueles cuja mente é vazia e livre de conceitos atingem o mais profundo. Aqueles que ajudam aos outros sem esperar recompensa são realmente gentis. Aqueles cujas palavras estão em harmonia com sua mente dizem a verdade. Aqueles que não exigem dos outros mais do que a si mesmos produzem paz. Aqueles capazes de fluir de acordo com as circunstâncias são hábeis. Aqueles que agem quando é o momento de agir e repousam quando é hora de repousar movem-se em harmonia com a vida.

Sung Ch’ang-Hsing
(citado por Red Pine em “LaoTzu’s Taoteching”)

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Meditação, a brisa que entra




Se nos esforçamos para meditar, não estamos meditando. Se nos esforçamos para ser bons, a bondade não floresce. Se cultivarmos a humildade, ela fica ausente.

A meditação é a brisa que entra quando deixamos a janela aberta; mas se deliberadamente a mantemos aberta, com o propósito de atrair a brisa, ela não aparece.

Jiddu Krishnamurti
(em “Meditações” - Editorial Presença)

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Dar significado à própria vida

Shechen Gyaltsap


O que quer que você faça – caminhar, comer, sentar, etc – faça-o sem indolência, preguiça, apatia ou distração. Uma vez que você inicie sua caminhada para a libertação, não se comporte de maneira ordinária, mas observe sua mente o tempo todo com vigilância e lucidez. Caso tenha cometido algum ato negativo, arrependa-se e prometa nunca mais fazer de novo.

Dedique-se à prática espiritual com o mesmo entusiasmo de alguém faminto que está prestes a alimentar-se. Não negligenciando nem mesmo a mais simples ação positiva e nem se distraindo com a natureza ilusória de todas as coisas, siga acumulando mérito e sabedoria, e encoraje os outros a fazer o mesmo. Devotar-se dia e noite à prática e construir seu caminho para que suas vidas futuras sejam felizes é a maneira de dar a esta própria vida um significado autêntico.

Shechen Gyaltsap
(citado por Matthieu Ricard em “On The Path of Enlightenment: Heart Advices from The Great Tibetan Masters”)

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Desista de tudo e você ganhará tudo




Desista de tudo e você ganhará tudo. Então a vida torna-se aquilo que ela é: pura radiação de uma fonte inexaurível. Nessa luz o mundo aparece difuso como num sonho.

Sri Nisargadatta Maharaj
(em “I Am That”)