quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Sem fronteiras entre o sagrado e o profano



Para mim, achar que lavar louça é desagradável só pode nos ocorrer quando não estamos fazendo isso. Quando você está em pé na frente da pia, com as mangas arregaçadas e as mãos mergulhadas na água quente, lavar louça é algo realmente agradável. Gosto de me alongar em cada prato, mantendo-me plenamente consciente dele, da água e dos movimentos que faço com as mãos. Sei que se eu me apressar para comer a sobremesa, o tempo que passarei lavando a louça será mais desagradável e indigno de ser vivido. Isso seria uma pena, pois cada minuto, cada segundo da vida é um milagre. Os pratos em si e o fato de eu os estar lavando são milagres!

Se eu for incapaz de lavar louça alegremente, se quiser terminar a tarefa logo a fim de comer a sobremesa, serei igualmente incapaz de desfrutar minha sobremesa. Com o garfo na mão, estarei pensando no que vou fazer a seguir, e a textura e o sabor da sobremesa, juntamente com o prazer de prová-la, serão perdidos. Estarei sendo sempre empurrado para o futuro, sem nunca ser capaz de viver no momento presente.

Cada pensamento, cada ação à luz da consciência torna-se algo sagrado. À essa luz, não existem fronteiras entre o sagrado e o profano. Devo confessar que demoro mais tempo lavando pratos, mas eu vivo plenamente no momento, e sou feliz. Lavar pratos é ao mesmo tempo um meio e um fim – ou seja, não apenas lavamos os pratos para ter pratos limpos, como também os lavamos por lavar, para viver plenamente em cada momento enquanto os lavamos.

Thich Nhat Hanh
(em “Peace is Every Step”)

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