Certa vez – na verdade, na última
metade do século 16 – havia um homem pobre e sem instrução que desejava
devotadamente se iluminar. Ele se via como alguém por demais desprezível e sem
valor para tornar-se um monge budista, mas mesmo assim foi a um mosteiro e
pediu permissão para trabalhar em seus campos. A cada dia esse homem simples
trabalhava do amanhecer ao anoitecer. Ele era tímido demais para aproximar-se e
dirigir uma pergunta a qualquer um. Simplesmente esperava que, observando os
monges, pudesse descobrir um método pelo qual pudesse alcançar a Iluminação.
Um dia, um monge veio visitar o
mosteiro. Esse monge caído num estágio muito baixo em sua vida espiritual, e ia
de mosteiro em mosteiro tentando encontrar uma maneira de renovar sua fé. Ele
notou o homem que trabalhava tão alegremente nos campos e ficou maravilhado com
seu entusiasmo pelo trabalho duro. Como aquele homem desfrutava tanto da vida?
Qual seria o seu segredo?
E assim o monge foi até o homem e, com
humildade e admiração, perguntou: “Senhor, poderia ser gentil o bastante para
me dizer qual é o seu método? Que prática o senhor segue?”
“Eu não sigo nenhuma prática”, disse o
homem, “mas certamente gostaria de aprender alguma. Venerável mestre, o senhor
seria gentil o bastante para me dar alguma simples instrução?”
O monge visitante viu a sinceridade e
a humildade do homem e ficou tocado por ela. “Você fez por mim o que muitos
mestres não conseguiram”, disse. E sentindo-se verdadeiramente inspirado, ele renovou
seu voto e sua determinação de atingir a iluminação exatamente naquele lugar: “Nenhuma
instrução que eu possa dar a você pode ser tão valiosa como a que você deu a
mim através de seu exemplo”.
Hsu Yun
(em “Nuvem Vazia: Os Ensinamentos de Hsu Yun”)