Há outro haikai de Bashô que se tornou
famoso no Ocidente. E nesse, embora, pelo lado plástico, se nos ofereça uma
inesquecível imagem, o conteúdo moral se torna transparente, de modo que o
pequeno poema vale duplamente, pela forma e pelo sentido. Na verdade, ele fora
composto por Kikaku, um dos discípulos favoritos de Bashô. E dizia:
Uma libélula rubra.
Tirai-lhe as asas:
uma pimenta.
Bashô, diante da imagem cruel,
corrigiu o poema de seu discípulo, com uma simples modificação dos termos:
Uma pimenta.
Colocai-lhe asas:
uma libélula rubra.
Esse pequeno exemplo de compaixão,
conservado num breve poema japonês de trezentos anos, emociona e confunde
nossos grandiosos tempos bárbaros. Mas sua luz não se apaga, e até se vê melhor
– porque vastas e assustadoras são as trevas dos nossos dias.
Cecília Meireles
(em “Escolha o Seu Sonho”)
(em “Escolha o Seu Sonho”)
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