Em abril de 2020 experimentei (não ‘eu’, pois não havia um ‘eu’ experimentando) a ausência de identificação com o
ego e o corpo como descrita pelos sábios. ‘Eu’ não fazia alguma coisa; havia apenas o fazer. ‘Eu’ não era testemunha dos fatos; havia apenas o testemunhar do que ocorria. Eu e tudo o mais éramos um.
Tudo era curiosamente... cômico. Testemunhando assim, do alto, com
amplitude, havia a percepção da tolice daquilo tudo. Nada, pois mais sério que
parecesse, realmente o era.
Esse estado durou poucos dias (dois? três?) e há uma profunda gratidão
por tê-lo vivido, mas também (o meu ‘eu’ sente) melancolia por não o sentir agora, pelo véu
de ilusões que permiti cobri-lo.
Devo evocar essa lembrança a cada manhã, antes de iniciar o dia. Antes
de meditar. A lembrança do que é ser tudo. E não ser nada. De ver do alto da montanha a relatividade e a
pequenez de tudo aquilo que julgamos achar tão importante. E que não é. Só tem
importância em nossa ilusão.
É preciso trazer essa pérola à lembrança. Sempre.
eu