sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Reflexões de Nietzsche (1)


"O que é ser livre? É não termos vergonha de ser quem somos."

"Desde que me cansei de procurar,
aprendi a encontrar;
Desde que o vento me opõe resistência,
velejo com todos os ventos."

"Muitas vezes consideramos uma idéia mais verdadeira apenas porque há qualquer coisa de muito belo e divino no ritmo e na forma métrica do seu enunciado."

  "O Veneno que mata as naturezas fracas é um fortificante para as fortes..e por isso não lhe chamam veneno.."

Friedrich Nietzsche
(em "A Gaia Ciência")

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Se você morresse hoje à noite, estaria preparado?

"Um dia em 1981, vendo o quanto eu estava absorvida enrolando pacotes para crianças famintas no Vietnã, Thay (Thich Nhat Hanh) me perguntou: “Se você morresse hoje a noite, estaria preparada?”

Ele disse que devemos viver nossas vidas de forma que se morrermos de repente, não tenhamos nada a lamentar.

“Chan Khong você tem que aprender a viver livre como as nuvens ou a chuva.
Se você morrer hoje a noite, não deveria sentir nenhum medo ou lamento.
Você se tornará alguma coisa diferente, tão maravilhosa como é agora.
Mas se você lamentar perder sua forma atual, não estará liberada.
Ser liberada significa perceber que nada pode te obstruir, te impedir, mesmo enquanto cruza o oceano do nascimento e morte.”

Suas palavras me perfuraram e eu permaneci em silêncio por vários dias.

Não, eu não estava preparada para morrer.
Meu trabalho era minha vida.
Eu tinha encontrado meios de ajudar as crianças famintas, apesar das dificuldades, e estava feliz de novo.
Se eu morresse de repente, quem continuaria esse trabalho?
Eu contemplei muitas questões práticas como essa, enquanto seguia cada inspiração e cada expiração.
Eu não estava exatamente tentando achar a solução.
Eu sabia que a habilidade de achar uma estava em mim e quando eu estivesse calma o suficiente, uma resposta se revelaria por si.
Portanto eu continuei a respirar e sorrir, e alguns dias depois, eu realmente vi a solução.

Eu sabia que a única maneira que me permitiria morrer em paz seria se eu renascesse em outros que desejassem fazer o mesmo trabalho.
Então minha aspiração poderia continuar mesmo se esse corpo falecesse.

Eu pensei sobre os jovens que vinham para praticar plena atenção com Thay e decidi compartilhar com eles minhas experiências e desejos profundos sobre ajudar pessoas que sofrem.
Eu os ensinaria como escolher remédios, como embrulhar pacotes, como escrever cartas pessoais aos pobres, e como manter os ocidentais em contato com o sofrimento das pessoas no Vietnã.
Alguns jovens ficaram inspirados a começar seus próprios comitês, e hoje há trinta e oito comitês para crianças famintas.

Se eu morrer hoje a noite de acidente de carro ou de ataque cardíaco, estas trinta e oito reencarnações me permitirão morrer em paz.

Nguyen Anh Huong, que chegou aos Estados Unidos em 1981, ouviu atenta a tudo que eu disse e me perguntou como começar um projeto.
Como refugiada recém-chegada, ela conhecia melhor que eu as muitas famílias em grande sofrimento no Vietnã.
Eu a encorajei a preparar sua própria lista de famílias que precisavam de ajuda e a achar patrocinadores para elas.
Quando as crianças famintas escrevessem agradecendo, ela poderia traduzir as cartas e mandá-las aos patrocinadores.
Lentamente, Anh Huong foi capaz de ajudar centenas de famílias.

Bui Than Vu em Paris tem muitas famílias, Bui Ngoc Thuy em Sceaux na França tem oitenta e seis famílias, Annabel Laity em Plum Village está encarregada de quarenta famílias.
Adicionalmente, quase todas as irmãs vietnamitas da ordem Tiep Hien (Ordem Interser) na Suíça, Austrália, Canadá, Alemanha e França têm ajudado grupos de famílias famintas.
Se hoje a noite meu coração parar de bater, você verá meu trabalho em todas essas irmãs e irmãos.

Há aqueles que continuam meu trabalho pelas crianças famintas, outros que gostam de meu trabalho de ouvir o sofrimento das pessoas de forma que possam ser curadas.
Você pode ver meu sorriso no seu olhar e minha voz nas suas palavras.

Mas não verá minhas deficiências neles.
O samsara de minhas deficiências terminará no dia que esse corpo for transformado em cinzas e então se tornar flor de novo.
Onde quer que eu faça algo, eu vejo os olhos de meus pais e avós em mim.
Quando eu trabalhei com aldeões, sempre tinha a impressão que estava fazendo o trabalho conjuntamente com eles e também com as mãos amorosas daqueles amigos que economizaram um punhado de arroz ou poucos dólares para apoiar o trabalho.
Minhas mãos eram suas mãos.
Meu amor era o amor maravilhoso da rede de ancestrais, pais, parentes e amigos nascidos em mim.

O trabalho que eu tenho feito é o trabalho de todos.
Não é apenas meu trabalho.

Enquanto você lê essas linhas e sabe que, em uma remota área do Vietnã, crianças que são severamente mal nutridas estão recebendo recursos de Plum Village, você pode ver o ato de amor do trabalho coletivo de milhares de mãos e corações.
Todos nós, de fato, intersomos.

Eu continuarei em cada um e cada coisa que eu já toquei.

Não tenho nada a temer e nada a lamentar."

Irmã Chan Khong
(primeira ajudante de Thich Nhat Hanh, e que o acompanha há mais de 40 anos. Extraído do blog "Sangha Virtual") )

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

De quem é a culpa?




Um budista leigo estava andando pela margem de um rio quando viu um barqueiro empurrando uma barca em direção ao rio, para que ele pudesse atravessar alguns passageiros.
Aconteceu de um mestre Ch’an (o mesmo que Zen no Japão) passar por perto. O budista leigo aproximou-se do Mestre e perguntou: “Mestre, aquele barqueiro matou diversos caranguejos e camarões pequenos enquanto estava empurrando sua barca para o rio. A culpa é dos passageiros ou do barqueiro?”.
O Mestre retorquiu sem hesitar: “A culpa não é nem dos passageiros nem do barqueiro!”
O budista leigo não entendeu, por isso perguntou novamente: “Se a culpa não é de nenhum deles, então de quem é?”
O Mestre replicou incisivamente: “A culpa é sua!”.


Hsu Yun
(em "Histórias Chan")


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Nossa essência iluminada

"Qual é a razão para a miséria e dor que todo ser vivo enfrenta? Qual é causa para a ilusão do samsara? Não é nada a não ser falta de experiência com nossa essência iluminada.

Ignoramos o que está primordialmente presente dentro de nós: nossa natureza de Buda. No lugar disso, imersos em emoções confusas, perseguimos objetivos ilusórios que resultam, infinitamente, em mais experiências ilusórias. Isso é chamado “samsara”. Já fizemos isso por inúmeras vidas, vida após vida, renascimento seguido de morte.

A menos que você use agora essa oportunidade, enquanto você ainda é um ser humano, para realizar o que é inteiramente possível, vai continuar no futuro no mesmo caminho de ilusão.

Tulku Urgyen Rinpoche

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Tudo é Dharma

"O Dharma do Buda não é encontrado em livros. Se você quer realmente ver por si mesmo sobre o que Buda estava falando, não é preciso se preocupar com livros. Observe sua própria mente. Examine para ver como sentimentos vêm e vão, como pensamentos vêm e vão. Não se apegue a nada, apenas esteja consciente de qualquer coisa que há para ser vista.


Esse é o caminho para as verdades do Buda. Seja natural. Tudo que você faz na vida é uma chance de praticar. Tudo é Dharma. Ao executar suas tarefas, esteja consciente. Se está esvaziando uma escarradeira ou limpando um banheiro não veja isso que está fazendo como um favor para alguém. Há Dharma em esvaziar escarradeiras.

Não encare que você está praticando apenas quando está sentado de pernas cruzadas. Alguns de vocês têm reclamado que não há tempo suficiente para meditar. Há tempo suficiente para respirar? Esta é sua meditação: estado desperto, naturalidade em qualquer coisa que faça."


Ajahn Chah
(em “Living Dharma“)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Cada momento é absoluto

"Por “atenção” nós podemos usar a expressão “estado desperto”. Atenção ou estado desperto é o segredo da vida, ou o coração da prática. … Cada momento da vida é absoluto em si mesmo. É tudo que existe. Não há nada além do presente momento; não há passado, não há futuro; não há nada além disto. Então quando não prestamos atenção a “isto”, perdemos todo o quadro. E o conteúdo “disto” pode ser qualquer coisa.
“Isto” pode ser ajustar nossas almofadas de meditação, cortar uma cebola, visitar alguém que não gostaríamos de visitar. Não importa o conteúdo do momento, cada momento é absoluto. É tudo que existe e tudo que existirá para sempre. Se pudéssemos prestar atenção total, nunca nos irritaríamos. Se estamos irritados, é axiomático que não estamos prestando atenção. Se perdemos não apenas um momento, mas um momento depois do outro, então estamos com problemas."

Charlotte Joko Beck
(em “Nada Especial, Vivendo Zen”)

A Felicidade está disponível

"Apenas nossa busca pela felicidade
nos impede de vê-la.
É como um arco-íris vívido que você persegue sem nunca pegar,
ou um cão correndo atrás do próprio rabo.

Embora paz e felicidade não existam
como uma coisa ou lugar de verdade,
estão sempre disponíveis
e te acompanham a cada instante."

Gendun Rinpoche

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A claridade está sempre lá


"Em vez de lutar contra a força da confusão, podemos nos encontrar com ela e relaxar. Quando fazemos isso, gradualmente descobrimos que a claridade está sempre lá. No meio do pior cenário da pior pessoa do mundo, no meio de todo o pesado diálogo com nós mesmos, o espaço aberto está sempre lá."

Pema Chodron
(em "Quando Tudo se Desfaz")

domingo, 19 de agosto de 2012

A Paz que estamos buscando


"A paz que estamos buscando não é a paz que desmorona assim que há dificuldade ou caos. Se estamos buscando paz interior, paz global ou uma combinação de ambas, o modo para vivenciar isso é construir a partir da fundação da abertura incondicional para tudo o que surgir.
A paz não é uma experiência livre de desafios, livre de aspereza e maciez; é uma experiência que é expansiva o suficiente para incluir tudo que surgir sem nos sentirmos ameaçados."

Pema Chodron

sábado, 18 de agosto de 2012

Verdadeiramente em silêncio


"Silêncio não significa não falar e não fazer coisas; significa que você não está perturbado por dentro. Se estiver verdadeiramente em silêncio, então não importa em que situação se encontre, você pode desfrutar do silêncio."

Thich Nhat Hanh

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A renúncia verdadeira


"Se alguém refletir genuinamente sobre renúncia, não se trata de desistir de coisas externas como dinheiro, deixar a casa ou a família. Isso é fácil. A renúncia verdadeira é abrir mão de nossos queridos pensamentos, de todo nosso deleite nas memórias, esperanças e devaneios, nossa tagarelice mental. Renunciar a isso e ficar nu no presente, isso é renúncia.

O fato é que dizemos que queremos a iluminação, mas na verdade não queremos. Apenas porções de nós quer a iluminação: o ego que pensa como isso seria bom, confortável e prazeiroso. Mas realmente abandonar tudo e ir atrás? Poderíamos fazer isso em um instante, mas não fazemos.

E a razão é que somos muito preguiçosos. Ficamos paralisados pelo medo e letargia — a grande inércia da mente. A prática está lá. Qualquer pessoa no caminho budista certamente conhece essas coisas. Então, como é que não estamos iluminados? Não temos ninguém para culpar a não ser nós mesmos.

É por isso que ficamos no Samsara, porque sempre achamos desculpas. Em vez disso, devemos nos despertar. Todo caminho budista é sobre despertar. Ainda assim, o desejo de continuar dormindo é tão forte. Independente de quanto dizemos que iremos despertar para ajudar todos os seres sencientes, na verdade nós não queremos isso. Gostamos de sonhar."

Jetsunma Tenzin Palmo
(em "Cave in The Snow")

Minhas ações estão corretas?

"Milarepa disse: “Minha religião é não ter nada do que se arrepender quando morrer”. Mas a maioria das pessoas não dá nenhuma importância a essa maneira de pensar. Fingimos ser muito calmos e controlados, cheios de palavras doces, para que as pessoas comuns — que não conhecem nossos pensamentos — digam: “Esse é um verdadeiro bodisatva”. Mas é apenas nosso comportamento externo que elas veem.

A coisa importante a fazer é não realizar qualquer coisa que possamos nos arrepender depois. Portanto, precisamos nos examinar honestamente.

Infelizmente, nosso apego ao ego é tão grosseiro que, mesmo se tivermos sim alguma pequena qualidade, pensamos que somos maravilhosos. Por outro lado, se temos algum grande defeito, nem mesmo percebemos. Há um ditado que diz: “No pico do orgulho, a água das boas qualidades não permanece”.

Então, devemos ser muito meticulosos. Se, após examinarnos completamente a nós mesmos, pudermos colocar as mãos no coração e honestamente pensar: “Minhas ações estão todas corretas”, então isso é um sinal de que estamos ganhando alguma experiência no treinamento da mente.

Devemos então ficar contentes que nossa prática tem ido bem e nos determinar a fazer ainda melhor no futuro, assim como fizeram os bodisatvas de outros tempos. Com todos os meios devemos gerar antídotos cada vez mais, agindo de modo a estar em paz com nós mesmos."

Dilgo Khyentse Rinpoche

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Artimanhas do ego (2)

"Mas seja qual for a força com que o ego tenta sabotar seu caminho espiritual, se você prossegue nele e trabalha profundamente com a prática da meditação, começará a perceber como tem sido enganado pelas promessas do ego: falsas esperanças e falsos medos. Devagar você começa a compreender que tanto a esperança quanto o medo são inimigos da sua paz de espírito; as esperanças o decepcionam, deixando-o vazio e desapontado, e os temores o paralisam na cela estreita da sua falsa identidade. Você começa a ver também como foi poderosa a influência do ego sobre sua mente, e no espaço de liberdade aberto pela meditação – em que você está momentaneamente livre da avidez – você vislumbra a estimulante amplitude da sua verdadeira natureza. Entende que o seu ego, como um artista louco e trapaceiro, enganou você durante anos com esquemas, planos e promessas que nunca foram reais e só o levaram à falência interior. Quando você percebe isso na equanimidade da meditação, sem qualquer consolação ou desejo de esconder o que descobriu, todos os planos e esquemas se revelam vazios e começam a desmoronar.


Esse esquema não é um processo puramente destrutivo, porque junto com uma compreensão extremamente precisa e às vezes dolorosa da fraudulência e virtual criminalidade do seu ego, e do de todos os demais, cresce uma sensação de expansão interna, um conhecimento direto daquela “ausência de ego” e interdependência de todas as coisas, dessa viva e generosa disposição de espírito que é a marca que autentica a liberdade.

Sogyal Rinpoche
(em "O Livro Tibetano do Viver e do Morrer")

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Artimanhas do ego (1)

"O ego é capaz de converter tudo para seu uso próprio, inclusive a espiritualidade. Se aprendemos, por exemplo, uma técnica de meditação dentro de uma prática espiritual particularmente benéfica, o ego se põe, primeiro, a tratá-la como um objeto de fascinação e, depois, a examiná-la. O ego é sólido apenas na aparência e não pode, de fato, absorver coisa alguma; só é capaz de arremedar. Em tais circunstâncias, ele procura examinar e imitar a prática de meditação e o modo de vida meditativo.

Depois de aprendermos todos os truques e todas as respostas do jogo espiritual, tentamos imitar automaticamente a espiritualidade, já que o envolvimento verdadeiro exigiria uma completa eliminação do ego, e a última coisa que desejamos fazer é renunciar completamente a ele. Entretanto, não podemos experimentar aquilo que estamos tentando imitar; podemos apenas encontrar alguma área dentro dos limites do ego que pareça ser a mesma coisa." 

Chogyam Trungpa
(em "Além do Materialismo Espiritual)

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Sementes da iluminação

"Todo ser vivo possui o coração da iluminação. As sementes da iluminação existem dentro de cada um. Os seres vivos não precisam buscar a iluminação fora de si mesmos, pois toda a sabedoria e poder do universo já estão presentes dentro deles. Esta foi a grande descoberta do Buda e a razão para todos se regozijarem."

Thich Nhat Hanh
(em "Velho Caminho, Nuvens Brancas - Seguindo as Pegadas do Buda")

domingo, 12 de agosto de 2012

Sem compreensão, não pode haver amor

"Sidarta, agora, viu que compreensão e amor são um. Sem compreensão, não pode haver amor. A disposição de cada pessoa é resultado de condições físicas, emocionais e sociais. Quando compreendemos isto, não podemos mais odiar mesmo alguém que se comporta cruelmente, todavia podemos nos esforçar para ajudar a transformar sua condição física, emocional e social.

A compreensão possibilita o surgimento da compaixão e amor que, por sua vez, geram a ação adequada. A fim de amar, primeiro é necessário compreender, logo a compreensão é a chave para a liberação.

Para atingirmos uma clara compreensão, é necessário viver em mente aberta, fazendo contato direto com a vida no momento presente, vendo verdadeiramente o que acontece dentro e fora de nós mesmos. Praticando a mente atenta, fortalece-se a habilidade de olhar profundamente e, quando olhamos fundo para dentro do coração de qualquer coisa, ela se revelará. Este é o tesouro secreto da mente atenta - ela conduz à realização da liberação e da iluminação.

A vida é iluminada pela luz da correta compreensão, do correto pensar, da fala correta, da correta ação, do correto modo de viver, do correto esforço, da correta mente atenta e da correta concentração. Sidarta chamou isto de o Nobre Caminho."

Thich Nhat Hanh
(em "Velho Caminho, Nuvens Brancas - Seguindo as Pegadas do Buda")

sábado, 11 de agosto de 2012

Decidir ser feliz

"Decidir ser feliz, nada adicionar à infelicidade da humanidade, nem mesmo uma queixa, um pensamento... Vontade de não perturbar, de não magoar. Não é ainda o amor nem a sabedoria, é o começo da ética. Para muitos, já é o heroísmo..."

Jean-Yves Leloup
(em "O Absurdo e a Graça". Encontrado no maravilhoso - e lamentavelmente desativado - blog Para Ser Zen)

O Budismo é muito prático


"Em sua essência, o budismo é muito prático. Trata-se de fazer coisas que encorajem a serenidade, a felicidade e a confiança, e evitar coisas que provoquem a ansiedade, a desesperança e o medo. A essência da prática budista não é tanto um esforço para mudar seus pensamentos ou seu comportamento para que você se torne uma pessoa melhor, mas perceber que, independentemente de sua opinião sobre as circunstâncias que definem sua vida, você já é bem, pleno e completo. Trata-se de reconhecer o potencial inerente de sua mente. Em outras palavras, o budismo não se preocupa tanto em ficar bem, mas em reconhecer que você já é, neste exato local e neste exato momento, tão pleno e tão bom e já está essencialmente tão bem quanto jamais poderia esperar um dia estar."

Yongey Mingyur Rinpoche
(em "A Alegria de Viver")

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sobre rios e nuvens


"Tenho uma boa história para contar. Imagine um riacho descendo do alto da montanha. Ele é muito jovem e quer correr. Seu objetivo é o oceano. Quer chegar lá tão rápido quanto possível. Quando alcança as planícies e o campo, fica mais lento. Se torna um rio. Fluindo lentamente, começa a refletir as nuvens e o céu. Há muitos tipos de nuvens, com diferentes formas e cores, e o rio passa todo o tempo as perseguindo, uma depois da outra. Mas as nuvens não ficam paradas. Elas vêm e vão. O rio chora muito, porque nenhuma das nuvens fica com ele para sempre. As coisas são impermanentes. Ele sofre devido a sua atitude e comportamento.


Um dia um vento forte limpou todas as nuvens e o céu ficou extremamente azul. Não havia absolutamente nuvens. O rio pensou que a vida não valia a pena ser vivida mais. Ele não sabia como desfrutar do céu azul. Ele o via como vazio, e sentia que a vida não tinha significado. Esta noite ele quis se matar. Como pode um rio se matar? De alguém não é possível se tornar ninguém. De algo não é possível se tornar nada. Durante aquela noite ele chorou muito. Este é o som da água batendo nas margens. Esta foi a primeira vez que ele voltou-se para si mesmo.

Até agora, ele tinha apenas corrido para fora de si mesmo. Ele pensava que a felicidade estava fora, não dentro. A primeira vez que voltou a si mesmo e ouviu o som de suas lágrimas, ele descobriu algo. Ele não sabia que um rio era feito de elementos não-rio. Ele estava perseguindo nuvens, pensando que não poderia ser feliz sem elas, e não percebeu que ele era feito de nuvens. O que ele estava procurando já estava dentro dele. Felicidade é assim. Se você sabe como voltar ao aqui e agora e perceber os elementos de sua felicidade que já estão disponíveis, não precisa mais correr.

De repente o rio percebeu que havia algo refletido nele: o céu azul. Ele vê o quão pacífico, sólido, livre e bonito o céu é. Ele não tinha percebido antes. Ele sabe que sua felicidade deveria ser feita de solidez, liberdade e espaço. Ele é preenchido de felicidade porque pela primeira vez soube como refletir o céu. Antes, ele havia somente refletido as nuvens e ignorado completamente o céu. Esta foi uma noite de transformações profundas. Todas as lágrimas e sofrimento foram transformados em alegria, solidez e liberdade.

Na manhã seguinte não havia vento. As nuvens retornaram. Agora ele as reflete sem apego com equanimidade. Ele diz “Oi” cada vez que uma nuvem aparece. Quando a nuvem se vai, ele não fica triste. Ele achou a liberdade. Ele sabe que a liberdade é a fundação da sua felicidade. Ele aprendeu a parar e não correr mais. Naquela noite algo maravilhosos se revelou. A imagem da lua cheia foi refletida. Ele está muito feliz dando as mãos para as nuvens e a lua, praticando meditação caminhando para o oceano. Cada passo, feito em conjunto com as nuvens e a lua traz ao rio muita felicidade.

Cada um de nós é um rio. Começamos como um regato descendo do alto da montanha, querendo correr o mais rápido possível. Então aprendemos como ficar mais lentos um pouco, e começamos a perseguir objetos de nosso desejo. Sofremos. Às vezes sofremos tanto que não queremos nem mais existir. Então temos a chance de voltarmos para nós mesmos e refletir profundamente. Percebemos que o objeto de nosso desejo é a causa de nosso desespero e das nossas aflições. Todos os elementos da felicidade estão disponíveis no aqui e agora. Temos tudo que precisamos. De repente conseguimos o tipo de liberdade que nunca tivemos e somos capazes de viver cada momento de nossa vida diária profundamente. Como nos tornamos um rio feliz, podemos ajudar muitos rios a nossa volta a se tornarem felizes também."

Thich Nhat Hanh
(extraído do blog "Sangha Virtual")

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Dignidade

"Se Deus não existe, tudo é permitido." (Dostoievski)

Dostoievski se engana: mesmo se Deus não existe, não é verdade que tudo é permitido. Porque - invisível ou não - eu não me permito tudo: tudo não seria digno de mim. Minha moral é essa dignidade, essa exigência."

Andre Comte-Sponville
(em "Viver")

Temores

"É da mente que procedem todos os temores e penas infinitas."

Shantideva

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A dádiva de meditar

"É a meditação que lentamente purifica  a mente ordinária, desmascarando e exaurindo seus hábitos e ilusões, de maneira que possamos, no momento certo, reconhecer quem de fato somos.

A dádiva de aprender a meditar é o maior presente que você pode se dar nessa vida."

Sogyal Rinpoche

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A verdade espiritual e o bom senso

"A verdade espiritual não é algo elaborado e esotérico, mas é um profundo bom senso.  Quando você tem a realização da natureza da mente, camadas de confusão são removidas. Você de fato não "se torna" um buda, mas simplesmente deixa pouco a pouco de viver no engano e na ilusão. E ser um buda não é ser um onipotente super-homem espiritual, mas tornar-se um verdadeiro ser humano.

Por mais que se diga, não  é o bastante: nossa verdadeira natureza e a natureza de todos os seres nada têm de extraordinárias. A ironia é que este mundo que chamamos de ordinário é que é extraordinário, uma alucinação fantástica e complexa da visão enganosa do samsara. É essa visão "extraordinária" que nos deixa cegos para a natureza "ordinária" natural e inerente da nossa mente."

Sogyal Rinpoche
(em "O Livro Tibetano do Viver e do Morrer") 

sábado, 4 de agosto de 2012

"Agora mesmo acabei de nascer!"

"Podemos fazer agora tudo aquilo que nunca fizemos antes, independentemente de nossos condiocionamentos e preconceitos. Podemos ser agora o que nunca antes fomos.

"Agora mesmo acabei de nascer!", de agora em diante este é nosso novo koan, o mantra ativo que desperta incessantemente no nosso íntimo, de novo."

Hoge Daido

Tire as vendas, solte as amarras

"Os únicos limites que existem são aqueles que determinamos para nós mesmos. Tire as vendas, solte as amarras, derrube as paredes da jaula e dê um passo à frente. Quando você tiver dado este passo, perceba-o, solte-o e dê um outro passo. E quando finalmente chegar à iluminação, perceba-a, solte-a e dê um outro passo. Isto é, sempre foi e sempre será a prática incessante dos Budas e Ancestrais. Fazendo isto, você autentica seus próprios seres, suas próprias vidas. Você dá vida a Buda."

John Daido Loori
(Mestre Zen norte-americano)


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Esqueça o passado

"Esqueça o passado. Ele já não está no mundo."

Hogen Daido

Desfazendo equívocos


"Se você quer milagres, não procure o Budismo. O supremo milagre para o Budismo é você lavar seu prato depois de comer.

Se você quer curar seu corpo físico, não procure o Budismo. O Budismo só cura os males de sua mente: ignorância, cólera e desejos desenfreados.

 Se você quiser arranjar emprego ou melhorar sua situação financeira, não procure o Budismo. Você se decepcionará, pois ele vai lhe falar sobre desapego em relação aos bens materiais. Não confunda, porém, desapego com renúncia.

 Se você quer poderes sobrenaturais, não procure o Budismo. Para o Budismo, o maior poder sobrenatural é o triunfo sobre o egoísmo.

Se você quer triunfar sobre seus inimigos, não procure o Budismo. Para o Budismo, o único triunfo que conta é o do homem sobre si mesmo.

 Se você quer a vida eterna em um paraíso de delícias, não procure o Budismo, pois ele matará seu ego aqui e agora.

 Se você quer massagear seu ego com poder, fama, elogios e outras vantagens, não procure o Budismo. A casa de Buda não é a casa da inflação dos egos.

 Se você quer a proteção divina, não procure o Budismo. Ele lhe ensinará que você só pode contar consigo mesmo.

 Se você quer um caminho para Deus, não procure o Budismo. Ele o lançará no vazio.

Se você quer alguém que perdoe suas falhas, deixando-o livre para errar de novo, não procure o Budismo, pois ele lhe ensinará a implacável Lei de Causa e Efeito e a necessidade de uma autocrítica consciente e profunda.

 Se você quer respostas cômodas e fáceis para suas indagações existenciais, não procure o Budismo. Ele aumentará suas dúvidas.

Se você quer uma crença cega, não procure o Budismo. Ele o ensinará a pensar com sua própria cabeça.

 Se você é dos que acham que a verdade está nas escrituras, não procure o Budismo. Ele lhe dirá que o papel é muito útil para limpar o lixo acumulado no intelecto.

 Se você quer saber a verdade sobre os discos voadores ou sobre a civilização de Atlântida, não procure o Budismo. Ele só revelará a verdade sobre você mesmo.

Se você quer se comunicar com espíritos, não procure o Budismo. Ele só pode ensinar você a se comunicar com seu verdadeiro eu.

Se você quer conhecer suas encarnações passadas, não procure o Budismo. Ele só pode lhe mostrar sua miséria presente.

 Se você quer conhecer o futuro, não procure o Budismo. Ele só vai lhe mandar prestar atenção a seus pés, enquanto você anda.

Se você quer ouvir palavras bonitas, não procure o Budismo. Ele só tem o silêncio a lhe oferecer.

Se você quer ser sério e austero, não procure o Budismo. Ele vai ensiná-lo a brincar e a se divertir.

Se você quer brincar e se divertir, não procure o Budismo. Ele o ensinará a ser sério e austero.

Se você quer viver, não procure o Budismo, pois ele o ensinará a morrer."

Reverenda Yvonette Silva Gonçalves
(texto encontrado no excelente blog Para Ser Zen e também no site da Monja Coen)

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A paz está no centro da tempestade


"Onde quer que estejamos, "aqui" é o centro da viagem da nossa vida. Aqui não há limiar, nem exterior, nem mais alto, nem mais baixo, nem princípio e nem fim. Seja o que for que o mundo nos dê agora, nós estamos no centro de nossas vidas, passo a passo no caminho aberto. É isto. A paz última está no centro da tempestade diária.

Permaneça livre de escolhas. Seja eternamente livre para o que te surgir no caminho. O crescimento real começa quando te deres conta da tua realidade, quando conseguires dizer "Está tudo bem", mesmo que a situação seja dura e miserável."

......

"O meu próprio "eu" foi completamente abandonado na minha experiência mais profunda? Ou continuo a ser o senhor soberano de tudo que domino, vivendo na zona de segurança desse "eu", guardando para mim aquilo que minha consciência percebeu? Tais reflexões são importantes formas de auto-exame, que não provém do "próprio eu", mas de Buda. E tudo depende disto; é aí o ponto de mudança.

Auto-examinar-se ajuda a não esquecer de optar sempre por um novo começo, e não importam os anos que se tenha de prática. Esta é uma das advertências fundamentais a se ter todos os dias em mente, seja no cimo da montanha, seja no fundo do mar."

Hogen Daido
(em "No Caminho Aberto")

Nada pode perturbá-lo

 "Nada no exterior pode perturbá-lo.
É você mesmo quem cria as ondas da mente.
Se deixar a mente como ela é, ela se tornará calma.
Esta é a chamada mente grande."

Shunryu Suzuki

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ilusão

"A vida não é tão séria quanto a minha mente faz parecer."

Sabedoria Chinesa

Tudo é bom

"É bom quando o sol está brilhando,
e também é bom quando está nublado:
                o Monte Fuji não é afetado por isso."

Tesshu Yamauka