segunda-feira, 30 de julho de 2012

Por inteiro

"Falo sempre com força e com todo o coração. Em cada palavra ou frase a minha mente e o meu corpo, a minha carne e o meu sangue revelam-se completamente".


Kodo Sawaki

Ir além dos conceitos


"A maioria de nós entende as coisas em termos de oposição, tais como grande e pequeno, preto ou branco, material ou espiritual. Quando dizemos espiritual, queremos dizer algo que não é material, mas, de acordo com o budismo, o que é espiritual ainda pertence ao lado fenomenal da realidade.

Ao entenderem que há algo além do espiritual e do material, além do certo e errado, essa será a realidade. Isso é realmente cada um de nós. Saber disso é ter renúncia, ser livre das idéias de certo ou errado, vida ou morte, material ou espiritual.

Se estiver para vir, deixe vir. Não analise em termos de bom ou mau. Deixe vir e deixe ir. Isso é, na realidade, o zen: ir além das várias idéias e ser somente você mesmo."

Shunryu Suzuki
("Nem Sempre é Assim")

domingo, 29 de julho de 2012

Renunciar à iluminação

 "Buscar a iluminação significa que sua mente não é grandiosa. Você não está sendo sincero, pois há um objetivo em sua prática." 

(E se há um objetivo você não está inteiramente presente, pois mira algo a ser atingido no futuro)

 "Enquanto você estiver tentando renunciar a tudo, na realidade você ainda não renunciou a tudo."

(É preciso renunciar também ao objetivo de renunciar)

Shunryu Suzuki
("Nem Sempre é Assim")


sábado, 28 de julho de 2012

Aceitar tudo


"Na China, as pessoas costumavam carregar alguma coisa sobre suas cabeças, como mel ou água, em grandes potes. Às vezes alguém derrubava o pote. É um grande erro, claro, mas se você não ficar relembrando o fato, tudo bem. Você segue adiante, ainda que não haja mais mel ou água em sua cabeça. Se você seguir adiante, não será um erro. No entanto, se você diz: 'Ah, perdi tudo! Que pena', isso é um equívoco. Essa não é a prática verdadeira."

Shunryu Suzuki
("Nem Sempre é Assim")

(Pois a prática verdadeira é aceitar tudo, cada circunstância, como expressão direta da realidade.)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Além do sentimento de medo

"Quando for fazer alguma coisa, tenha a firme determinação de fazê-la. Sem idéia alguma de habilidade ou não, de perigo ou não, você apenas segue adiante. Quando se faz algo com esse tipo de convicção, essa é a prática verdadeira. Essa é a iluminação verdadeira.

Essa firme convicção para perceber sua vida vai além do "bem-sucedido" ou "malsucedido". Além de qualquer sentimento de medo, você segue adiante e faz as coisas. Essa é a prática real e essa é a mente que busca o caminho, que vai além da idéia dualista de bem e mal, certo ou errado. Você apenas segue adiante e faz as coisas."

Shunryu Suzuki
("Nem Sempre é Assim")

O Zen é para todos


"Na "arte do zen", você tenta ser como um habilidoso mestre zen, que possui grande força e boa prática: "Quero ser como ele. Preciso tentar bastante". A "arte do zen" está ligada ao ato de desenhar uma linha reta ou controlar a mente.

Mas o verdadeiro zen é para todos, mesmo que você não seja capaz de desenhar uma linha, apenas desenhe uma linha: isso é o zen. Para uma criança isso é natural, e ainda que a linha não seja reta, ela é bonita."

Shunryu Suzuki
("Nem Sempre é Assim")

Experiência direta da realidade



A experiência direta virá quando estiverem inteiramente em unidade com sua atividade, quando não tiverem ideia alguma do eu. Isso pode acontecer quando estiverem sentados (meditando), mas também pode acontecer sempre que a mente que procura o caminho for suficientemente forte para esquecer seus desejos individualistas.

Quando você acredita que tem algum problema, isso significa que sua prática não é suficientemente boa. Quando sua prática é boa o bastante, o que quer que você veja, o que quer que você faça, é a experiência direta da realidade. Essa questão deve ser sempre lembrada.

Shunryu Suzuki
(em "Nem Sempre é Assim") 


segunda-feira, 23 de julho de 2012

O que é a vida boa

"A vida boa é a vida sem esperanças e sem temores; é pois, a vida reconciliada com o que é, a existência que aceita o mundo tal como é"

Epicteto

A Sabedoria é um processo


"A sabedoria não é um ideal a mais, ainda menos uma religião. A sabedoria é esta vida, tal como é, mas vivida em verdade. A sabedoria é o máximo de felicidade no máximo de lucidez. É menos um absoluto que um processo. Nós nos aproximamos da sabedoria cada vez que somos um pouco mais lúcidos sendo um pouco mais felizes, cada vez que somos um pouco mais felizes sendo um pouco mais lúcidos.

Não façamos da sabedoria uma esperança, um ideal que nos separaria do real. Compreendamos que a sabedoria - isto é, a vida (...) - é um processo, um esforço, como diria Spinoza, e, quando sentimos uma dor atroz, é perfeitamente sábio gritar atrozmente, como é sábio, quando gozamos, gozar divertida, alegremente.

Enquanto você fizer uma diferença entre a sabedoria e sua vida como ela é, você estará separado da sabedoria pela esperança que tem dela. Pare de acreditar nela: é uma maneira de se aproximar dela."

Andre Comte-Sponville

domingo, 22 de julho de 2012

Sabedoria é amar a vida como ela é

"A sabedoria não é outra vida, em que tudo de repente iria bem em seu casamento, em seu trabalho, na sociedade, mas outra maneira de viver esta vida, como ela é. Não se trata de esperar a sabedoria como outra vida; trata-se de amar esta vida como ela é - inclusive, insisto, dando-nos os meios, no que depende de nós, de transformá-la. O real é para pegar ou largar. A sabedoria está em pegá-lo: o sábio é parte ativa do universo."

Andre Comte-Sponville
(em "A Felicidade, Desesperadamente")

sábado, 21 de julho de 2012

Um livro pode mudar uma vida

"Claro que um livro pode mudar uma vida! É inclusive sob essa única condição que, de fato, vale a pena ser lido ou ser escrito. (...) Um belo livro deve portanto nos desesperar(*) dos livros também. É o mais lindo presente que alguns grandes escritores me fizeram: eles me libertaram deles libertando-me de mim, ou me libertaram de mim, pelo menos um pouco, libertando-me deles... Sabe, quando o mar se retira na maré baixa e caminhamos ao longo da praia: aquela doçura súbita, aquela tranquilidade, aquela liberdade... Até parece que algo de nós se foi com ele, lá longe, nos deixou, e isso cria como que uma nova paz, uma nova leveza. A gente respira melhor. Anda melhor. Como a praia é grande! Como o céu é bonito! Estou nesse ponto: leio cada vez menos; passeio, descalço, na areia... Enfim, tento, e só gosto dos livros que me ajudam a fazê-lo."

(*)”desesperar”  no sentido de “parar de buscar”, “não esperar mais por”

André Comte-Sponville 
(filósofo francês, em "O Amor a Solidão")

A felicidade não existe

"A felicidade não existe. Temos momentos de alegria, mas não existe um estado permanente de satisfação. Separações, a morte de pessoas queridas, doenças e acidentes são inevitáveis. É por isso que a busca pela felicidade plena não faz sentido. O que podemos almejar é a serenidade, algo completamente diferente. Só se atinge a serenidade vencendo... o medo. É o medo que nos torna egoístas e nos paralisa, que nos impede de sorrir e de pensar de forma inteligente, com liberdade. Os filósofos gregos costumavam dizer que sábio é aquele que consegue vencer o medo."

Luc Ferry
(filósofo francês, em "Aprender a Viver")

O que você faz

"Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.”

Jean-Paul Sartre

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Você precisa?

"Sinceramente, será que você precisa acreditar em Deus para pensar que a sinceridade é melhor do que a mentira, que a coragem é melhor do que a covardia, que a generosidade é melhor do que o egoísmo, que a doçura e a compaixão são melhores do que a violência ou a crueldade, que a justiça é melhor que a injustiça, que o amor é melhor que o ódio? Claro que não! Se você acredita em Deus, você reconhece em Deus esses valores; ou, talvez, você reconhece Deus neles. É a figura tradicional: sua fé e sua fidelidade andam juntas, e não sou eu que vou criticá-lo por isso. Mas os que não têm fé, por que seriam incapazes de perceber a grandeza humana desses valores, sua importância, sua necessidade, sua fragilidade, sua urgência, e respeitá-los por isso?"

Andre Comte-Sponville
(em "O Espírito do Ateísmo")

terça-feira, 17 de julho de 2012

Fique à vontade

Percebo surpreso que algumas pessoas visitam diariamente o blog. Imaginei que as visitas, quando ocorressem, seriam poucas e esporádicas. Acertei, em parte: elas são realmente poucas. Mas para minha surpresa, há sim, visitas diárias!

Em relação à baixa frequência, não poderia ser diferente. Eu não divulguei o blog a ninguém. E por um motivo simples: minha intenção jamais foi ser lido. Nada contra, claro; apenas jamais tive – e continuo não tendo - a pretensão de considerá-lo suficientemente "bom" a ponto de indicar a quem fosse. Pois por certo que ele é eclético; mas também é predominantemente budista, e a maioria das pessoas que conheço não o são. Além disso, não queria preocupar-me em agradar a muitos, em compartilhar algo novo e ficar esperando e torcendo por comentários positivos. Por isso são poucas as reflexões pessoais: não me estimo tanto a ponto de acreditar que minhas experiências ou opiniões sejam interessantes para outros. Não tenho verdades minhas a compartilhar. Outros, mais sábios, falam por mim e sobre o que acredito melhor do que eu mesmo o faria.

Criei o blog apenas para reunir em um mesmo lugar palavras que me tocam, me esclarecem e emocionam. Não tenho outro objetivo além de tornar a apreciar os posts aqui espalhados sempre que desejar. Como visitas a um belo e diversificado jardim. Se alguém mais apreciar, isso será muito, muito bom; se não, tudo bem também.

“Vir foi bom, ir também é bom;
água corrente, uma nuvem que passa...”

A partir de agora, quem quiser comentar, sinta-se à vontade. Antes, eu não preocupei-me em liberar os comentários, isso simplesmente não havia me passado pela cabeça. Como disse, eu não esperava por visitas.

Mas as visitas, se aparecem, devem ser bem recebidas. Não se deve fechar as portas para elas: “O visitante é Deus”, afirma uma antiga sabedoria oriental. Por isso, desculpe-me se você já veio aqui antes, tentou comentar algo e não conseguiu. Perdoe-me a indelicadeza, não foi minha intenção.

Por favor, fique à vontade.



Não tente descobrir quem você é


Não tente descobrir quem você é. Se tentar descobrir quem você é, mesmo que compreenda alguma coisa, isso estará bem distante de você. Você só terá uma imagem de si mesmo.

Dongshan


Gratidão por estar vivo


"Nesse mundo terrível, só o que conta é que você mentalmente junte as mãos em sinal de gratidão e dê graças por estar vivo. Faça isso todo dia; faça isso para manter-se alerta e aberto, quer esteja nas garras de um terrível sofrimento ou sentindo uma alegria sem limites."

Hiroyuki Itsuki
(em "Tariki - Aceitando o Desespero e Descobrindo a Paz")

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Continuar praticando

"Buda, em seu sentido verdadeiro, não é diferente da mente comum. E mente comum, cotidiana, não é algo à parte do que é sagrado. Essa é uma compreensão completa do nosso eu. Ao praticarmos o zazen com esse entedimento, esse é o zazen verdadeiro. Não nos incomodaremos com nada. Tudo o que você ouvir, tudo o que você ver, tudo estará certo. Para se sentir assim, é preciso estar acostumado com a nossa prática. Se você continuar praticando alcançará essa compreensão e esse sentimento de modo natural. Não será somente intelectual. Você terá o sentimento real."

Shunryu Suzuki

sábado, 14 de julho de 2012

"Eu disse à minha alma..."

"Eu disse à minha alma: fica tranquila e espera, até que as trevas sejam luz e a quietude seja dança."

T.S. Elliot


quarta-feira, 11 de julho de 2012

As palavras de Buda


"Além do mundo que podemos descrever, há um outro tipo de mundo. Todas as descrições da realidade são expressões limitadas do mundo do vazio. Contudo, ligamo-nos às descrições e pensamos que são a realidade. Isso é um engano, pois o que é descrito não é a realidade verdadeira, e quando você acredita que é a realidade, sua própria idéia está presente. Essa é a idéia do eu.

Muitos budistas cometeram esse engano. E por causa disso estão presos às escrituras ou às palavras de Buda. Eles acharam que suas palavras são a coisa mais valiosa e que o modo de preservar o ensinamento é preservando o que Buda disse. Mas o que Buda disse foi apenas uma carta do mundo do vazio, apenas uma sugestão, ou alguma ajuda dele.

Essa é a natureza das palavras de Buda. Para se compreender as palavras de Buda, não se pode confiar nas nossas mentes pensantes de sempre. Se você quer ler uma carta do mundo de Buda, será preciso entender o mundo de Buda."

Shunryu Suzuki




Mudando a compreensão

 " 'As coisas mudam' é o motivo pelo qual você sofre nesse mundo e se sente desencantado. Ao mudar sua compreensão e seu modo de vida, poderá apreciar completamente sua nova vida em cada momento. A temporalidade das coisas é o motivo pelo qual se aprecia a vida. Ao se praticar desse jeito, sua vida se torna estável e cheia de significado."

Shunryu Suzuki
(em "Nem Sempre é Assim")

terça-feira, 10 de julho de 2012

Problemas




"Os problemas nos ajudam a encontrar uma postura correta perante a vida."

Shundo Aoyama Roshi
(em "Para Uma Pessoa Bonita")


Sermão sem palavras


"Quando as ondas de nossas mentes se acalmam, podemos ouvir o sermão sem palavras da água, das gotas, da erva, das árvores, dos seixos e das montanhas nos ensinando a transitoriedade das coisas, todas.

Quando surgem pensamentos, todas essas coisas se calam. Na verdade elas não deixam de falar; nós é que perdemos a capacidade de ouvi-las."

Shundo Aoyama Roshi
(em "Para Uma Pessoa Bonita")


O verdadeiro esforço

O verdadeiro esforço não é aquele empreendido para fazer com que algo de especial aconteça. É o esforço de estar consciente e alerta a cada momento; é o esforço de superar a indolência e a impureza; o esforço de transformar cada atividade do novo dia em meditação.

Ajahn Chah
(em "Uma Lagoa Tranquila na Floresta")


Repousa a mente no silêncio



"Não és o corpo, não és os sentimentos e não és os pensamentos.
És a consciência silenciosa que observa tudo isso.
Repousa a mente no silêncio e decobrirá quem és."

Aruna


Cansados, com frio e solitários


"Algumas vezes nos sentimos cansados, com frio e solitários no meio da multidão. Podemos desejar nos retirar para sermos nós mesmos e nos aquecermos novamente, como fiz no eremitério, sentando-me perto do fogo, protegido do vento frio e úmido. 

Nossos sentidos são janelas para o mundo exterior, e algumas vezes o vento sopra e nos perturba interiormente. Muitos de nós deixamos a janela aberta o tempo todo, permitindo que as visões e os sons do mundo nos invadam, nos penetrem e exponham nosso eu triste e perturbado. Ficamos com muito frio e nos sentimos solitários e temerosos. Você já deu consigo assistindo a um programa horrível na televisão e incapaz de desligá-la? Os sons estridentes e o estampido de armas de fogo são desagradáveis. No entanto, você não se levanta para desligar a televisão. Por que você se tortura dessa maneira? Você não quer fechar suas janelas? Está com medo de ficar sozinho – do vazio e da solidão que poderá encontrar quando se vir a sós?"

Thich Nhat Hanh
(em "O Sol do Meu Coração")

domingo, 8 de julho de 2012

O Zen ao lavar a louça


"Cada tigela que lavo, cada poema que escrevo, cada vez que convido um sino a tocar é um milagre, e cada um tem exatamente o mesmo valor. Certo dia, quando eu lavava uma tigela, senti que meus movimentos eram tão sagrados e respeitosos como se estivesse banhando um Buda recém-nascido.

Cada pensamento, cada ação debaixo da luz da consciência torna-se sagrada. Nessa luz não existem fronteiras entre o sagrado e o profano. Devo confessar que levo um pouco mais de tempo para lavar a louça, mas vivo plenamente cada momento e sinto-me feliz. Lavar a louça é ao mesmo tempo um meio e um fim - ou seja, não apenas lavamos a louça para termos pratos limpos, como também lavamos a louça apenas para lavar louça, para vivermos plenamente cada momento enquanto a lavamos."

Thich Nhat Hanh
(em "O Sol do Meu Coração, da Atenção à Contemplação Intuitiva")


quinta-feira, 5 de julho de 2012

A surpreendente vida

Em 2011 li um livro fundamental em minha prática, em minha vida: "Nada Fazer, Não Ir a Lugar Algum" de Thich Nhat Hanh, o suave monge zen vietnamita. Eu atravessava um momento difícil, havia passado por acontecimentos dramáticos, sofridos, e buscava um novo sentido e uma nova ordem para minha vida. 

O "nada fazer" aconselhado por Thai (como o autor é chamado por seus seguidores) contrastava profundamente com meus objetivos: eu queria um sentido para minha vida, mas Thai dizia: "não há o que buscar"; eu pretendia "evoluir", ele porém proclamava: "você já é um buda"; eu queria entender, projetar, planejar, almejar... mas Thai insistia: "viva o presente, ele é a única realidade".

Eu pratico o Zen informalmente há quase 30 anos, absorvendo seus ensinamentos através de livros, palestras, filmes. Acordo diariamente de madrugada para meditar, e procuro manter minha mente presente em todos os momentos. Por meio da prática, profundas mudanças ocorreram em mim e estas foram fundamentais em minha vida. A prática solitária, contudo, é extremamente difícil e exige uma disciplina e uma força que, admito, muitas vezes não tive.

Ao ler o livro de Thai experimentei uma consoladora sensação de liberdade e leveza. Encontrar sentido no "sem sentido" deu-me uma indizível sensação de bem estar. Em meio à dor e à confusão, surgiam a luz, o frescor e a leveza...

Alguns meses depois, já em 2012, outro livro pôs por terra muitas das minhas catedrais, as quais, hoje sei, existiam simplesmente por eu então acreditar na necessidade inquestionável de sua existência. Eu lhes havia conferido um sentido ao qual minha própria identidade e minha história haviam se mesclado. 

"Criação Imperfeita" de Marcelo Gleiser não é apenas mais um livro de astronomia. Nele encontramos reflexões acerca de nossas pseudo-verdades, de nossas convicções. De uma outra maneira, e principalmente, num sentido completamente diferente do livro de Thai, há também ali questionamentos profundos sobre nossa busca por sentido. Não fosse Marcelo Gleiser também membro da Academia Brasileira de Filosofia...

Nesse meio tempo faleceu minha avó, e alguns meses depois, um primo. Nada trágico, nada exatamente dramático. Porém me peguei refletindo sobre a fugacidade da vida e como ela segue seu fluxo, a despeito de nossos planos e desejos, medos e expectativas, sorrisos e lágrimas. E, para os que ficam, a despeito também de nossa ausência.

Há poucos meses passei por um problema de saúde o qual, posteriomente, verificou-se não se tratar de nada mais sério. Porém precisei licenciar-me do trabalho e passar por alguns exames. Enquanto aguardava os resultados, refleti sobre a possibilidade de estar sofrendo alguma doença fatal. Não sentia medo e nem dramatizei minha situação, apenas conjecturei serenamente em cima de uma hipótese bastante plausível: e se eu estivesse com os dias contados? E se me restasse pouco tempo de vida? 

A resposta me veio a seguir. Viva, palpável, cristalina: em realidade e ao fim, não estamos todos com os dias contados? O momento presente e sua verdade única, inigualável, jamais havia sido tão avassaladoramente real. A imponderabilidade, a fortuidade, o curto alcance de nossas vontades sobre os dias, sobre o acaso, atingiram-me como uma forte lufada de vento.

E desde então tudo mudou. 
A morte está presente. E com ela, palpitante, bela e surpreendente, a vida.


quarta-feira, 4 de julho de 2012

Mente clara

"Mantenha sua mente clara
e transparente,
E você nunca estará preso.
Um único pensamento distraído
cria dez mil ilusões.

Ryokan
(monge e poeta zen)


O Guerreiro Espiritual


"Ser um guerreiro espiritual significa desenvolver um tipo especial de coragem que é, desde a sua origem, inteligente, bondosa e destemida. Os guerreiros espirituais podem ainda ter medo, mas mesmo assim eles são corajosos o bastante para experimentar o sofrimento, para relacionar-se de maneira franca com seu medo fundamental e, sem fugir, extrair lições das dificuldades."

Sogyal Rinpoche
(em "O Livro Tibetano do Viver e do Morrer")


A descoberta revolucionária do budismo

"A descoberta ainda revolucionária do budismo é que a vida e a morte estão na mente, e em nenhum outro lugar. A mente é revelada como a base universal da experiência - criadora da felicidade e criadora do sofrimento, criadora do que chamamos vida e do que chamamos morte.

Os mestres comparam a mente ordinária à chama de uma vela diante de uma porta aberta, vulnerável  a todos os ventos circunstanciais."

Sogyal Rinpoche
(em"O Livro Tibetano do Viver e do Morrer")


O céu e as nuvens


"Nossa verdadeira natureza pode ser comparada ao céu, e a confusão da mente ordinária, às nuvens. Alguns dias o céu está totalmente obscurecido por elas; quando estamos no chão, olhando para o alto, é muito difícil acreditar que haja alguma coisa além de nuvens. Mas é só estarmos num avião para descobrir, lá em cima, a extensão ilimitada do límpido céu azul. E, vistas de lá, as nuvens que pensávamos ser tudo parecem tão pequenas e longínquas, lá embaixo...

Devemos sempre procurar nos lembrar: as nuvens não são o céu, e não "pertencem" a ele. Elas apenas pairam ali e passam, ao seu modo aleatório e imprevisível; jamais podem, de modo algum, marcar ou macular o céu."

Sogyal Rinpoche
(em "O Livro Tibetano do Viver e do Morrer")



terça-feira, 3 de julho de 2012

Com todo o ser


"Tudo o que faço no meu dia a dia faço-o com todo meu ser, pondo-me de lado e deixando que a vida, sem obstruções, siga seu curso natural."


Hogen Daido
(em "No Caminho Aberto")



Apenas ande


"Um monge perguntou a Saikawa Roshi:
- Qual deve ser meu objetivo?
- Apenas ande. O caminho se mostra a cada momento. Abra os olhos."

Sakawa Roshi


Este instante

"Este instante reúne toda a tua vida."

Jorge Bustamante
(em "Zen, La Eternidad del Relampago")



Estás aí?


"Neste exato instante as aves, a água do rio, a vida toda te pergunta:
- Estás aí?
E você deve responder..."

Jorge Bustamante
(Mestre Zen argentino, em "Zen, La Eternidad del Relámpago")