"Claro que um livro pode mudar uma vida! É inclusive sob essa única condição que, de fato, vale a pena
ser lido ou ser escrito. (...) Um belo livro deve portanto nos desesperar(*)
dos livros também. É o mais lindo presente que alguns grandes
escritores me fizeram: eles me libertaram deles libertando-me de mim, ou
me libertaram de mim, pelo menos um pouco, libertando-me deles... Sabe,
quando o mar se retira na maré baixa e caminhamos
ao longo da praia: aquela doçura súbita, aquela tranquilidade, aquela
liberdade... Até parece que algo de nós se foi com ele, lá longe, nos
deixou, e isso cria como que uma nova paz, uma nova leveza. A gente
respira melhor. Anda melhor. Como a praia é grande!
Como o céu é bonito! Estou nesse ponto: leio cada vez menos; passeio,
descalço, na areia... Enfim, tento, e só gosto dos livros que me ajudam a
fazê-lo."
(*)”desesperar” no sentido
de “parar de buscar”, “não esperar mais por”
André Comte-Sponville
(filósofo francês, em "O Amor a Solidão")
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