sábado, 30 de junho de 2018

Tomar consciência das alienações



Um mestre zen me dizia que 99% das opiniões que tenho em relação a mim e à realidade são uma ilusão total. E é verdade, quando examinamos nossas verdadeiras motivações, percebemos que é bem mais complicado do que parece. E aqui também trata-se de um trabalho alegre, o de ir em busca de todas as mentiras interiores para se apoiar no real. O conhecimento de si mesmo é um trabalho imenso. Portanto, não se trata de atingir o fim do caminho para ser feliz. Ao contrário, tomar consciência de minhas alienações é uma alegria em si.


Alexandre Jollien
(filósofo francês)


sexta-feira, 29 de junho de 2018

O equívoco mais comum


O equívoco mais comum em relação à libertação é que esta consiste em algo que um indivíduo pode obter. Mas a libertação é uma perda - a perda da noção de que alguma vez houve um indivíduo separado que pudesse escolher fazer algo para alcançar a libertação.

Qualquer tipo de busca poderá levar a pessoa a sentir-se mais confortável, mas nada mais do que isso. Se se estiver numa prisão, é muito melhor estar confortável, mas isso não tira a pessoa da prisão onde ela imagina estar.

Nada tirará a pessoa da sua prisão, porque a pessoa é a prisão. Quando a pessoa desaparece, é visto que nunca existiu uma prisão de todo.


Richard Sylvester




quinta-feira, 28 de junho de 2018

O homem espiritual



O homem espiritual não é aquele que se torna um sannyasin, que luta para "vir a ser", alcançar virtude ou tornar-se um "homem ideal". O homem espiritual é aquele que desistiu de "vir a ser", por essa razão para ele há um só dia, um único momento - e não o momento de ontem, ou o momento de amanhã. Esse homem é o verdadeiro revolucionário, porque ele se integrou na realidade.


Jiddu Krishnamurti
(em "Ilusões da Mente")




quarta-feira, 27 de junho de 2018

Como a sombra dos bambus



Permita que seu corpo e tudo aquilo que for ligado a ele surja e depois desapareça, pois isso não tem qualquer efeito sobre sua natureza búdica. Como a sombra dos bambus nos degraus, ela não pode ser varrida. Como o reflexo da lua na água, ela não deixa rastros. Nossa natureza original é pura. Não tem mácula. Não pode ser danificada ou atingida. Como uma flor de lótus, ela não é tocada na água.


Pao-t’ung
(citado por Red Pine em "The Heart Sutra")




terça-feira, 26 de junho de 2018

O primeiro passo para a verdade em si



O primeiro passo para a verdade em si é talvez enxergar sem julgar tudo o que nos habita: os fantasmas, as fantasias, os medos, os demônios, as lembranças, os traumas. Parar de temer todo esse amontoado passional, para colher tudo isso como uma expressão da vida. Mais nos julgamos, mais nos condenamos, mais matamos as forças que poderiam nos levar ao progresso e ao amor puro. Se pela manhã vestimos uma roupa e encenamos um personagem, se mentimos em permanência, nos privamos do contato com a realidade, que é um apoio fabuloso mesmo se trágica, e que nos possibilita avançar.


Alexandre Jollien
(filósofo francês)




segunda-feira, 25 de junho de 2018

A vida sustentada pelo mundo



Para esquecer o self (ego), Dogen diz que é necessário unirmo-nos ao ritmo da vida e assim experimentar o verdadeiro significado da existência. Quando você abandona seu pequeno self e reconhece a maior amplitude do Self, percebe que sua vida é sustentada pelo mundo inteiro. Que a sua vida é muito ampla.


Dainin Katagiri
(em “The Light That Shines Through Infinity”)


domingo, 24 de junho de 2018

Escolher a sua resposta



Forças além do seu controle podem te tirar tudo que você possui exceto uma coisa, sua liberdade de escolher como você vai responder a situação. Você não pode controlar o que acontece na sua vida, mas pode sempre controlar como irá se sentir e fazer sobre o que acontece com você.


Viktor Frankl

sábado, 23 de junho de 2018



En­fim, o que me ajuda pessoalmente é tentar viver sem porquê, aqui e agora; pouco a pouco, abandonar os objetivos que não são essenciais e o peso da opinião dos outros. Também ousar atos gratuitos. Ajudar os outros não para que eles nos recompensem, mas para progredir verdadeiramente na paz, na alegria e no amor.

Querer ser perfeito é o ápice do orgulho, e querer avançar e criar solidariedade num mundo imperfeito é um desafio alto e nobre.


Alexandre Jollien
(filósofo francês)




sexta-feira, 22 de junho de 2018

Mantendo os olhos abertos



Seu Self real está sempre com você e é a única coisa na qual você pode realmente confiar. Por isso, ao invés de olhar a vida através de uma perspectiva estreita, mantenha seus olhos sempre abertos a fim de enxergar mais amplamente.


Dainin Katagiri
(em “The Light That Shines Through Infinity”)



quinta-feira, 21 de junho de 2018

Cuidar



Cuide seu pequeno e barulhento self através de grande e sereno Self.


Dainin Katagiri
(em “The Light That Shines Through Infinity”)




quarta-feira, 20 de junho de 2018

Conseguir ou não conseguir: tanto faz



Há apenas uma coisa melhor do que conseguir aquilo que você deseja: é saber que você pode ser feliz quer você o consiga ou não.


Adyashanti



terça-feira, 19 de junho de 2018

Uma mente serena e e feliz



O Caminho de Buda não conduz ao paraíso. Ele consiste apenas em não perder-se em fantasias e descongestionar a mente. Em pulverizar os conceitos e ideias rígidas que mantemos a respeito das coisas. Só quando não nos prendermos a absolutamente nada teremos uma mente serena e e feliz.


Kodo Sawaki Roshi

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Quando a dor surgir



Quando a dor surgir, você deve encará-la e acolhê-la. Fique com a dor, seja a dor. Quando você se move em direção a dor, sua vida se amplia. Você traz a energia pulsante da vida para o centro do seu ser e experimenta então serenidade e tranquilidade sublimes, atingindo um estado além da imaginação e que permite que você se mantenha sempre presente com calma, humildade e equilíbrio.


Dainin Katagiri
(em “The Light That Shines Through Infinity”)




domingo, 17 de junho de 2018

Para ir ao fundo



Para ir ao fundo, é preciso se desvencilhar, pois a felicidade está relacionada ao despojamento, a uma liberação, não a uma conquista. Não se trata de acrescentar o novo, mas sobretudo de se despojar daquilo que nos impede de ser livres e de amar.


Alexandre Jollien
(filósofo francês)


sábado, 16 de junho de 2018

Walt Whitman: Aproveita o dia



Aproveita o dia

Aproveita o dia,
Não deixes que termine sem teres crescido um pouco.
Sem teres sido feliz, sem teres alimentado teus sonhos.
Não te deixes vencer pelo desalento.
Não permitas que alguém te negue o direito de expressar-te, que é quase um dever.
Não abandones tua ânsia de fazer de tua vida algo extraordinário.
Não deixes de crer que as palavras e as poesias sim podem mudar o mundo.
Porque passe o que passar, nossa essência continuará intacta.
Somos seres humanos cheios de paixão.
A vida é deserto e oásis.
Nos derruba, nos lastima, nos ensina, nos converte em protagonistas de nossa própria história.
Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua, tu podes trocar uma estrofe.
Não deixes nunca de sonhar, porque só nos sonhos pode ser livre o homem.
Não caias no pior dos erros: o silêncio.
A maioria vive num silêncio espantoso. Não te resignes, e nem fujas.
Valorize a beleza das coisas simples, se pode fazer poesia bela, sobre as pequenas coisas.
Não atraiçoes tuas crenças.
Todos necessitamos de aceitação, mas não podemos remar contra nós mesmos.
Isso transforma a vida em um inferno.
Desfruta o pânico que provoca ter a vida toda a diante.
Procures vivê-la intensamente sem mediocridades.
Pensa que em ti está o futuro, e encara a tarefa com orgulho e sem medo.
Aprendes com quem pode ensinar-te as experiências daqueles que nos precederam.
Não permitas que a vida se passe sem teres vivido…


Walt Whitman


sexta-feira, 15 de junho de 2018

Liberação, não liberdade



Eu prefiro o termo liberação do que liberdade. Pois a liberação é o fruto de um processo, de uma ascese interior. Além disso, entendemos a liberdade como o fato de fazer o que queremos. A liberação exige que paremos de viver o cotidiano sob o signo do piloto automático, que cessemos de ser o brinquedo de nossas paixões, a marionete de nossos desejos inconscientes para, passo a passo, crescermos e nos tornarmos menos escravos.


Alexandre Jollien
(filósofo francês)




quinta-feira, 14 de junho de 2018

A alegria de cada instante



O que contraria nosso acesso à felicidade vem precisamente de que fazemos disso uma ideia preconcebida, limitada, rígida. A partir do momento em que nos ­fixamos em algo, numa imagem de nós mesmos e da felicidade, renunciamos, nos privamos da alegria dada a cada instante pelo cotidiano.


Alexandre Jollien
(filósofo francês)



quarta-feira, 13 de junho de 2018

Mesmo agora, já agir como iluminados



Mesmo antes de alcançar o Caminho, os praticantes devem agir como se já fossem iluminados. Ou seja, devem abandonar a mentalidade do “gostar” e “não gostar”.  Se praticarem assim diligentemente, a prática será plena. Pois na verdade o que vocês gostam ou desgostam não são separados um do outro.


Sheng Yen
(em “Faith in Mind: A Commentary on Seng Ts’an’s Classic”)




terça-feira, 12 de junho de 2018



Pare toda atividade e volte-se para a quietude,
E essa quietude será ainda mais ativa.

Tente alcançar o vazio e estará virando as costas para ele.
Falar e pensar muito te afastam da harmonia com o Caminho.
Interrompa o falar e o pensar, e não haverá lugar algum onde você não estará.

Busque a iluminação e irá perdê-la.


Sengcan
(Terceiro Patriarca do Zen)



segunda-feira, 11 de junho de 2018

Paradoxo



Há apenas uma essência, que não pode ser chamada de verdadeira ou falsa. Por isso não é preciso discriminar, pois tudo, em qualquer lugar, é essa essência eterna. O paradoxo é que para ter verdadeira fé nessa essência é preciso antes iluminar-se.


Sheng Yen
(em “Faith in Mind: A Commentary on Seng Ts’an’s Classic”)




domingo, 10 de junho de 2018

Tudo deve ser apreciado


Nada está oculto. A verdade está revelada em todas as coisas. O Buda está revelado em todas as coisas. O Dharma está revelado em todas as coisas. Apenas permita que caiam as vendas que estão sobre seus olhos e você reconhecerá que tudo está pleno de verdade. Tudo deve ser apreciado!


Soko Morinaga
(em “Novice to Master”)




sábado, 9 de junho de 2018

O caminho para as verdades de Buda



O Dharma do Buda não é encontrado em livros. Se você quer realmente ver por si mesmo sobre o que Buda estava falando, não é preciso se preocupar com livros. Observe sua própria mente. Examine para ver como seus sentimentos vêm e vão, como seus pensamentos vêm e vão. Não se apegue a nada, apenas esteja consciente de qualquer coisa que há para ser vista. Esse é o caminho para as verdades de Buda.


Ajahn Chah
(em “Living Dharma”)






sexta-feira, 8 de junho de 2018

Tudo é Dharma



Tudo que você faz na vida é uma chance de praticar. Tudo é Dharma. Ao executar suas tarefas, esteja consciente. Se está esvaziando uma escarradeira ou limpando um banheiro, não veja isso como um favor para alguém. Há Dharma em esvaziar escarradeiras.


Ajahn Chah
(em “Living Dharma”)



quinta-feira, 7 de junho de 2018



Um monge perguntou a Saikawa Roshi:

- Qual deve ser meu objetivo?

- Apenas ande. O caminho se mostra a cada momento. Abra os olhos.


Saikawa Roshi



quarta-feira, 6 de junho de 2018

O verdadeiro esforço



O verdadeiro esforço não é aquele empreendido para fazer com que algo de especial aconteça.

É o esforço de estar consciente e alerta a cada momento; é o esforço de superar a indolência e a impureza; o esforço de transformar cada atividade do novo dia em meditação.


Ajahn Chah
(em "Uma Lagoa Tranquila na Floresta")



terça-feira, 5 de junho de 2018

Inteiro


Falo sempre com força e com todo o coração. Em cada palavra ou frase a minha mente e o meu corpo, a minha carne e o meu sangue revelam-se completamente.


Kodo Sawaki



segunda-feira, 4 de junho de 2018

Paraíso


Na verdade, o paraíso está nas mãos de todos os seres.
É a felicidade de viver plenamente o que a vida nos traz.


Shundo Aoyama Roshi
(em "Para Uma Pessoa Bonita")



domingo, 3 de junho de 2018

Preparado para quando a chuva vier


Enfrentando uma longa estiagem, os habitantes de uma aldeia pediram a um mestre Zen que os ajudasse a levar chuva aos seus campos áridos.

Em resposta, o mestre pediu apenas uma pequena cabana com um jardim onde pudesse plantar.

Dia após dia ele cultivava o pequeno jardim sem praticar nenhuma magia. Após algum tempo, a chuva começou a cair sobre a terra ressecada.

Quando lhe perguntaram como conseguira tamanho milagre, ele respondeu humildemente:

- A cada dia, ao cultivar o jardim, voltava-me mais para dentro de mim mesmo. Quanto à chuva, não sei porque ela caiu agora e não antes ou depois. Mas sei que a terra do meu jardim já está preparada. E a de vocês?


Conto Zen




sábado, 2 de junho de 2018

Bolhas na crista da onda


Os homens vêm e vão. Ás vezes estamos e no momento seguinte desaparecemos. Somos como bolhas na crista da onda.

Se consegues viver plenamente este instante, vivê-lo pleno, com tudo, sem o fantasma do amanhã, então és completamente livre. Livre de tua ambição e de teu medo.

Livre.


Jorge Bustamante



sexta-feira, 1 de junho de 2018

Sem desperdício


Chegaram aos ouvidos do príncipe Takayasu os comentários de que mestre Kendó, uma das maiores figuras espirituais anteriores a era Meiji (1868), deleitava-se com suntuosas ceias após todos terem adormecido.

Na noite seguinte o príncipe, mesmo sendo um profundo admirador de Kendó, escondeu-se no jardim e viu que realmente o mestre comia sozinho em sua cabana. Ingignado, Takayasu pulou de súbito a janela, e o mestre, surpreendido, cobriu com rapidez sua tigeja.

- O que você está escondendo? - perguntou o príncipe.

O mestre pediu para que ele esquecesse o assunto e não insistisse, mas quando o príncipe fez menção de tomar a tigela, Kendó a descobriu e mostrou seu conteúdo, dizendo:

- Me envergonha muito de que isso tenha chegado aos ouvidos de Sua Alteza. Há aqui muitos monjes estudantes vindo dos mais diversos lugares do país, e apesar de eu sempre insistir para que não desperdicem uma gota de água sequer e nem joguem fora sobras de legumes e arroz, continuam jogando os talos e tudo o mais pelo ralo. Para evitar esse desperdício, coloquei uma pequena rede dentro do ralo, e quando todos dormem recolho o que o que ficou retido ali, fervo, e aproveito como ceia. Faço isso há muitos anos. Lamento profundamente que uma história tão sórdida venha a incomodar teus nobres ouvidos.


(Citado por Irmgard Schloegl em "La Sabiduria do Zen")