quarta-feira, 31 de outubro de 2012

As Cinco Lembranças


1. "Pertenço à natureza do envelhecimento; não há nenhum modo de escapar do envelhecimento."

2. “Pertenço à natureza das doenças; não há nenhum modo de escapar de sofrer alguma doença."

3. “Pertenço à natureza da morte; não há nenhum modo de escapar da morte."

4. “Tudo aquilo que me é querido e todos que amo pertencem à natureza da impermanência. Não há nenhum modo de evitar me separar deles algum dia."

5. "Minhas ações são meus únicos verdadeiros pertences. Eu não posso escapar às conseqüências de minhas ações. Minhas ações são o solo sobre o qual eu piso."


Buda

domingo, 28 de outubro de 2012

Tudo é real e tudo está certo


Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
(em "Poesia Completa de Alberto Caeiro") 

sábado, 27 de outubro de 2012

Se eu morrer muito novo


Se eu morrer muito novo, ouçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava,
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva -
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra coisa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
(em "Poesia Completa de Alberto Caeiro")

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Sentir a vida correr por mim


Oxalá a minha vida seja sempre isso:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
(em "Poesia Completa de Alberto Caeiro") 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O lugar onde estamos

Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
(em "Poesia Completa de Alberto Caeiro") 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Falsa noção do eu

Como seres humanos, somos profundamente inseguros e não sabemos quem realmente somos. Claro que esse problema não se mostra no nível superficial de nossas vidas. Estamos constantemente dizendo a nós mesmos quem somos, baseados nessa ideia de que estamos separados de tudo mais. Essa sensação de “eu sou separado” é a base do nosso senso de “eu”. Isso é reforçado pelas diversas identidades falsas às quais nos apegamos, noções como “eu sou isso” ou “eu sou aquilo”. Quaisquer crenças que tenhamos sobre nós mesmos são apenas extensões desse tema.

Na maioria das vezes em que olhamos em volta, imediatamente vemos que nosso ambiente valida essas falsas identidades. Por isso, é um esforço desafiador desconstruir essa ilusão do eu. Sempre que olhamos no espelho podemos ter algum pensamento sobre nós mesmos. Cada um desses pensamentos aumenta o efeito. Eles se tornam os tijolos conceituais que usamos para continuar construindo o castelo ilusório do eu.

No entanto, há a suspeita de que essa noção do eu pode ser muito frágil e transitória; esse pensamento fica silenciosamente se esgueirando em algum lugar de nossa mente. Na maioria das vezes, essa suspeita não é trazida à luz da consciência, mas se for, uma sabedoria interior profunda surgirá certamente.

Nossa suspeita sobre a fragilidade dessa falsa noção do eu pode ir em duas direções. Em geral, ela se torna a fonte do medo, ansiedade e insegurança. Frequentemente vemos pessoas temerosas e excessivamente defensivas no que se refere às suas próprias identidades. Nós mesmos temos a tendência de nos amedrontar caso nossa identidade seja ameaçada. Mas em outras vezes a suspeita pode ir em outra direção. Quando isso acontece, pode acontecer uma revelação de mudar a vida, que nos leva para a realização do nível mais elevado da verdade.

Essa ideia não é nenhuma nova super-teoria. Trata-se de uma sabedoria imemorial que já foi realizada por muitas pessoas na história humana. O Buda ensinou essa sabedoria, e em sua tradição isso é chamado de “anatman” ou “não-eu”. Esse é o termo usado para indicar que uma pessoa desnudou essa falsa noção do eu. Ela percebeu que essa sensação é apenas uma identificação com os papéis representados na vida. É apenas uma máscara, não a verdade.

Anam Thubten
(em “No Self, No Problem")

Retirado do blog darma.info

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Esquecer de si mesmo


É difícil esquecer de si mesmo. A primeira coisa para superarmos esse problema é sentar em zazen. Uma vez sentados, não devemos deixar que nossa mente faça comentários.

Primeiro, sentamos para meditar. Mas para que? Para meditar sobre nós mesmos? Sobre nossa vida? Não. Sentamos em zazen para esquecer. Esquecer nosso passado e nosso futuro. Se treinarmos nossa mente para isso, começaremos a nos tornar livres. É por isso que fazemos zazen. Será difícil alguém aqui achar um sofrimento do qual não possa dizer, “vem do eu”. Qualquer sofrimento vem do eu, os sofrimentos dos outros que nos doem, vêm do eu, porque somos apegados a eles. O sofrimento do eu que se sente ofendido, vem da crença no eu. Tudo vem do eu, pois como temos um eu, ele pode ser ofendido, se não houvesse um eu, não poderia me sentir ofendido. Algumas coisas são fáceis, bem fáceis. Se esquecermos que as coisas são nossas, não tem problema que elas sejam danificadas, não é isso que é mais importante.

Monge Genshô
(em seu blog "O Pico da Montanha é onde estão os meus pés")

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Olhei para as coisas e mais nada



O que vale a minha vida? No fim (não sei que fim)
Um diz: ganhei trezentos contos,
Outro diz: tive três mil dias de glória,
Outro diz: estive bem com minha consciência e isso é bastante...

E eu, se lá aparecerem e me perguntarem o que fiz,
Direi: olhei para as coisas e mais nada.

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
(em "Poesia Completa de Alberto Caeiro")

domingo, 21 de outubro de 2012

Tudo que eu encontro é minha vida


Estou aqui somente porque meu mundo está aqui. Quando dei meu primeiro suspiro, o mundo nasceu comigo. Quando eu morrer, o mundo morrerá comigo. Em outras palavras, eu não nasci num mundo que já existia antes de mim, eu não vivo simplesmente como um indivíduo entre milhões de outros indivíduos, e eu não deixarei o mundo para trás quando partir.

As pessoas acreditam que pertencem a um grupo ou uma sociedade. Mas não é essa a maneira como vivemos realmente. Em realidade eu trago meu próprio mundo em minha existência, eu vivo nele, e o levarei comigo quando morrer.

É essencial perceber o self universal manifestando-se através de tudo no universo. Você vive junto com tudo em seu mundo. Somente quando compreender isso integralmente todas as coisas no mundo se manifestarão para você como o self que a tudo permeia.

"Tudo que eu encontro é minha vida."

Por isso nossa atitude fundamental deve ser "apenas fazer" ou "não fazer nada além disso". Não é uma questão de pensar sobre a vida. Pensar sobre a vida simplesmente não é suficiente. Nossa vida é o que quer que encontremos agora, e devemos simplesmente vivê-la.

Kosho Uchyiama
(em "Opening the Hand of Thought")

sábado, 20 de outubro de 2012

Cada momento, o melhor instante da minha vida


Entendo que este momento é o pico da montanha, sim, não há nada mais a alcançar. Se souber viver, cada momento será o melhor instante da minha vida, o pico da montanha é onde estão os meus pés.

Monge Genshô
(no livro "O Pico da Montanha é onde estão os meus pés")

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Ambições por ilusões


Dentros de nós resta uma angústia, originária provavelmente da consciência humana da mortalidade. Por isso temos filhos, escrevemos livros, compomos sinfonias, plantamos árvores. Queremos imortalidade. Eis uma bela razão para as religiões sempre prometerem uma vida futura. Aqui, aprendendo sobre o budismo, vejo que Buda quis destruir também o desejo do ego se imortalizar. Demolir a raiz dessas ambições por ilusões.

Trabalhamos por quê? Provavelmente queremos satisfazer uma necessidade íntima, profunda, de dar significado à nossa existência. Aparentemente lutamos por bens materiais, sucessos emocionais, vitórias. Mas não é isso realmente. Desejamos preencher nossa existência com um sentido. Como não conseguimos assimilar a impermanência da vida humana, queremos dar a ela um significado que nos satisfaça. E se não são as religiões, com seus mitos de imortalidade, então são as obras que parecem sólidas, imortais, pirâmides. Tentamos agregar ao nosso eu essas coisas e realizações. Falhamos miseravelmente porque nos baseamos todo tempo no eu pessoal. O budismo está me ensinando que a maior realização é transcender esse eu.

Monge Genshô
(no livro "O Pico da Montanha é onde estão os meus pés")

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Uma, todas


Uma única natureza
contém todas as naturezas;
uma única existência
contém totalmente todas as existências.

Uma única Lua
se reflete em todas as águas;
todos os reflexos
da Lua na água
provêm de uma única Lua.



Yoka Daishi
(em "Shodoka - O Canto do Satori Imediato")

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A vida é apenas um empréstimo


Não esqueçam que a vida pisca e então vocês morrem.
O que se junta deve se separar, então não briguem nem provoquem disputas.
O que é acumulado deve ser abandonado, então não anseiem descontroladamente por riqueza.
Agarrar-se é se aprisionar, então não cultivem o apego desenfreado.
O que nasce deve morrer, então pensem em sua próxima vida. […]

A vida é apenas um empréstimo, ninguém sabe quando não a teremos mais.
Aparências são ilusórias, compreendam sua impermanência.
Comida e riqueza são como gotas de orvalho, é incerto quando vão desaparecer. […]
Inimizade é ilusão, compreendam que isso é um erro.

Padmasambhava (Sábio budista do Tibet - séc 8)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Aquele que Ama Mais

Olhando as estrelas, sei por certo
Que, tanto faz, posso ir pro inferno,
Mas a indiferença da terra é o que de menos
A temer dentre homem e besta temos.

Como podemos gostar do brilho estelar
Se tão pouco em troca temos a dar?
Se as afeições não podem ser iguais,
Que seja eu aquele que ama mais.

Amante como penso ser
de estrelas que me são ausentes,
Não posso, agora eu sei, dizer
Perdi alguma totalmente.

E se minguar no céu todos os astros,
aprenderei a ver em seu espaço
da escuridão sublime glória,
mesmo que tal me acarrete mora.

W. H. Auden

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Além das nuvens, o céu permanece azul




Frequentemente nos sentimos cobertos por escuras nuvens de ansiedade e tristeza, perseguidos por tempestades de raiva e ambição, alcançados por agonias e desesperos.

Contudo, essas tempestades em nossos pensamentos manifestam-se apenas numa camada muito fina da atmosfera. Essas turbulências mentais ocorrem somente em nossos pensamentos que anseiam sempre por satisfação. Porém, além dessas nuvens, o céu permanece azul e o sol está sempre brilhando. Quando conseguimos sentar imóveis como esse imenso céu, podemos ver e experienciar as tempestades de dor e tristeza sem sentirmo-nos sobrecarregados por elas.

O zazen é exatamente esse sentar nessa esfera de paz mental absoluta, semelhante ao vasto céu, no qual diversas nuvens de pensamentos vêm e vão.

Não importa quão sincera seja a nossa prática, dificuldade é sempre dificuldade. Mas mesmo assim, usufruímos de tranquilidade absoluta como o imperturbável céu, e não precisamos pensar em nossa vida em termos de difícil e fácil.”

Kosho Uchiyama
(em “Opening the Hand of Thought”)

domingo, 14 de outubro de 2012

Aprender a viver, aprender a morrer


"Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer."

Sêneca
(em "Sobre a Brevidade da Vida")

sábado, 13 de outubro de 2012

Domar a mim mesmo


Quem eu devo combater, já que sou meu próprio inimigo?
Quem salvará quem, já que sou meu próprio salvador?
Sou a própria testemunha das minhas ações e inações.
Serei livre quando domar a mim mesmo.


Buda
(em "Dharmaraksita")

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Tudo são apenas manifestações

Em certa ocasião, um discípulo perguntou a Buda: "Para onde o sehor irá quando morrer, Mestre?" Buda mandou trazer uma vela e pediu que el fosse acesa. Deixou-a brilhando por um momento e depois a soprou. Perguntou: "Agora, para onde foi a luz?"

O visível se torna invisível. O invisível se torna visível por sua vez.

Quando fazemos prostrações ou recitamos sutras não o fazemos num sentido religioso, apesar de que, se alguém quiser praticá-lo nesse sentido está tudo bem.  Nós o fazemos simplesmente para recordar a impermanência de todos os fenômenos, para recordar nosso dia a dia sempre igual e sempre diferente.

A cada manhã você se levanta, lava as mãos, o rosto, escova os dentes. Toma seu desjejum, vai para a rua, sempre igual e sempre diferente. Dia após dia, mês após mês, ano após ano, sempre igual e sempre diferente.

Para onde vai o sutra quando o sutra não está?
Para onde vai a luz quando a luz não está?
Para onde vai a dor quando a dor não está?

Jorge Bustamante
(em "Zen, La Eternidad del Relámpago")

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Perplexidades

 
Perplexidades
 
a parte mais efêmera
de mim
é esta consciência de que existo

e todo o existir consiste nisto

é estranho!
e mais estranho
ainda
me é sabê-lo
e saber
que esta consciência dura menos
que um fio de cabelo

e mais estranho ainda
que sabê-lo
é que
enquanto dura me é dado
o infinito universo constelado
de quatrilhões e quatrilhões de estrelas
sendo que umas poucas delas
posso vê-las
fulgindo no presente do passado.

Ferreira Gullar

Sermos nós mesmos

"Fazer algo é expressar nossa natureza. Não existimos por nenhuma outra razão senão a de sermos nós mesmos."

Shunryu Suzuki
(em "Mente Zen, Mente de Principiante")

terça-feira, 9 de outubro de 2012

As folhas que caem

Não achamos trágica a morte das folhas, vemos a continuidade da vida, da floresta. A achamos linda. No entanto os mesmos fenômenos na existência humana nos perturbam. Não vemos sua beleza. Estão perto demais de nós. Se fossemos capazes de perceber que nascimento e morte em nossas vidas, tem o mesmo significado que nas folhas da floresta, poderíamos viver vendo a beleza. A transitoriedade de todas as coisas é inerente a elas, nosso sofrimento vem do apego, do desejar a estabilidade das coisas instáveis. Queremos que tudo dure para sempre. Por isto os homens inventaram religiões onde há vida eterna, depois da morte, em paraísos, reencarnações, coisas assim. Uma maneira de escapar da transitoriedade.

Monge Genshô
(em seu blog "O Pico da Montanha é onde estão meus pés")

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Um belo livro: O Pico da Montanha é onde estão meus pés


Um belo e inspirador livro. Impregnado de zen. Leveza e profundidade em doses precisas.


Buda - O Tolo

“O tolo sofre, pensando:
            ‘Tenho filhos! Tenho fortuna!’
Pois se nem seu eu é dele,
            Como seriam dele filhos e fortuna?

O tolo consciente de sua tolice
            É, nesse ponto, sábio.
Mas o tolo que se supõe sábio
            Merece bem o nome de tolo.

Enquanto o mal não dá frutos,
            O tolo o toma por mel.
Mas quando o mal dá frutos,
            Então o tolo padece.

Assim como o leite fresco,
            As más ações não coalham imediatamente;
Tal como o fogo coberto por cinzas,
            Seguem o tolo, queimando sem ser vistas."

Buda
(em "O Dhammapada" - Cáp 5, Versos 62, 63, 69 e 71)

Uma vida centrada na realidade

"Vivendo a partir do que somos saímos de uma vida centrada em nós para uma vida centrada na realidade."

Charlotte Joko Beck
(em "Nada Especial - Vivendo Zen")

domingo, 7 de outubro de 2012

Buda - A Mente


"Para aquele que está desperto,
            Que não tem a mente agitada,
            Cujo coração não se aflige
            E renunciou tanto ao mérito quanto ao demérito,
O medo não existe.

Sabendo que este corpo é um vaso de argila,
            Transforma a Mente numa fortaleza,
Combate Mara com a espada da percepção,
            Protegendo o que foi conquistado
                        E a nada se apegando.  

Nem mãe nem pai,
            Nem parente algum pode fazer
Tanto bem a alguém
            Quanto sua própria mente bem orientada."

Buda
(em "O Dhammapada" - Cáp 3 - versos 38, 39 e 43)

Responder com a própria vida

"O homem não é quem pergunta o sentido da vida, mas sim aquele à quem essa pergunta é feita, e a qual ele responde com a própria vida."

Victor Frankl

sábado, 6 de outubro de 2012

Harmonia em cada gesto


"Ao arrumarmos nossos sapatos cuidadosamente, trazemos harmonia a nossas mentes.
Quando nossas mentes estão em harmonia, arrumamos nossos sapatos cuidadosamente.


Se arrumamos nossos sapatos cuidadosamente quando o tiramos, nossas mentes não se perturbarão quando os calçarmos.

Se alguém deixa os sapatos em desordem, silenciosamente devemos arrumá-los.

Tal ato certamente trará harmonia para a mente das pessoas e de todo o mundo."

Dogen

Não existe problema, não existe solução

"Onde houver um problema, estará lá, ocupando o mesmo tempo e espaço, a solução.

Portanto, não existe problema, não existe solução."

Pensamento Zen

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A primavera já está instalada no coração do inverno

"Quem dirige o cosmo? Qual é a ordem cósmica? Todas as estrelas estão em relação de interdependência. A energia dirige todo o universo. Somos quais cogumelos na terra.

O corpo e o cérebro são constituídos de maneira idêntica à do cosmo. Pensamentos levantam vôo para o céu como bolhas de sabão, explodem e retornam ao cosmo. Assim vai a nossa vida. Dominar, observar a nossa vida é muito importante. Conservar o domínio de nós mesmos, ver que a primavera já está instalada no coração do rude inverno.

Quando neva, a flor da ameixeira já está germinando."

Taisen Deshimaru
(em "O Anel do Caminho: Palavras de um Mestre Zen")

Nenhum esforço para libertar-se


Este monge da montanha não compreende nada de nada.
Vive ali onde está e não faz nenhum esforço para libertar-se.

Sekito Kise
(Mestre Zen chinês, Séc 8. Citado por Jorge Bustamante em “Zen, La Eternidad del Relámpago)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Reconhecer a morte para apreciar a vida

"Quando escutei que meu pai estava gravemente doente, simplesmente não conseguia conceber que ele provavelmente morreria. Ele era um grande mestre de meditação e professor budista. Depois que os chineses invadiram o Tibete, ele fugiu a pé, conduzindo trezentas pessoas por sobre as montanhas, rumo à Índia. Passou muitos anos de sua vida plantando a flor do dharma na rocha da América do Norte. Foi um mestre-guerreiro. Se alguém pudesse se esquivar da morte, parece que seria ele. Sua morte deixaria um imenso buraco em minha vida assim como na de muitos outros.


Eu estava de pé ao seu lado, no instante em que ele finalmente faleceu. O espaço foi tomado por energia e força, tornou-se quase luminoso. Não ocorreram pensamentos. Foi assim por muitos dias, como se a realidade tivesse mudado. Toda minha vida eu havia escutado falarem sobre a morte, vira pessoas que morriam ou que já tinham morrido. Mas a morte de meu pai afetou-me de um modo diferente. Sua mortalidade fez com que me desse conta de minha própria mortalidade. Fez com que constatasse a mortalidade de todos. Puxou-me para fora de minhas concepções errôneas. Mudou profundamente minha atitude. Por muitos meses pensei em como viveria o resto de minha vida. Compreendi que a morte era real. Não devia perder tempo. Passei a dedicar-me muito mais à prática e aos estudos. Essa experiência íntima da morte ajudou-me a apreciar a vida.

Muitas vezes tocamos a vida como se ela fosse durar para sempre. Com essa atitude, queremos tudo. O fato da morte coloca um limite no que podemos ter, no que podemos fazer. Não precisamos pensar na morte o tempo todo, mas refletir sobre ela, contemplá-la, dá-nos perspectiva e inspiração sobre como viver a vida. Também faz com que nos tornemos menos mimados. Faz-nos olhar para o equilíbrio de nossa vida e determinar o que tem prioridade. O que é importante para mim? Como devo usar minha vida? Depois de termos nos relacionado com a morte, seremos capazes de viver mais abertamente as situações. Isso fortalece ainda mais o nosso amor."

Sakyong Mipham (filho de Chogyam Trungpa)
(em "Fazer da mente uma aliada : como descobrir a força natural da mente através da meditação")

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O lugar onde não há nada especial

"Minhas palestras são criticadas por certas platéias. Elas dizem que as minhas palestras são vazias, que não são santas. Eu concordo com elas, pois eu mesmo não sou santo. O ensinamento do Buda guia as pessoas para o lugar onde não há nada especial."

Kodo Sawaki Roshi
(em "The Zen Teachings of "Homeless" Kodo")

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Simplesmente estar ali


"Quando eu tinha quatro anos de idade, minha mãe costumava me trazer um biscoito...Eu ia então para a frente de casa e levava um bom tempo para comê-lo...Eu dava uma mordidinha e olhava para o céu...Eu simplesmente gostava de estar ali, com o céu, a terra, os bambuzais, o gato, o cachorro, as flores. Não pensava no futuro nem lamentava o passado. Estava inteiramente no momento presente, com o meu biscoito, o cachorro...É possível fazer refeições com tanto vagar e alegria quanto as da minha infância. Talvez você tenha a impressão de ter perdido o biscoito da sua infância...Tudo ainda está aí...Podemos comer de forma tal que recupere para nós o biscoito da nossa infância. O momento presente...Se você prestar atenção..."

Thich Nhat Hanh
(em "Paz a Cada Passo")

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Há apenas surgimento e desaparecimento

Você deve entender que aquilo que está surgindo e desaparecendo é apenas a atividade da mente. Quando alguma coisa surge, ela desaparece e é seguida por um outro surgimento e desaparecimento. No Dhamma chamamos esse surgimento e desaparecimento “nascimento e morte”; e isso é tudo – isso é tudo o que há! Depois que o sofrimento surgiu, ele desaparece, e depois que desapareceu, o sofrimento surge novamente. Tudo o que há é o sofrimento surgindo e desaparecendo. Quando você compreender esse tanto, você será capaz de compreender constantemente esse surgimento e desaparecimento; e, quando a sua compreensão for constante, você verá que isso é, na verdade, tudo o que há. Tudo é apenas nascimento e morte. Não é que existe algo que persista. Há apenas esse surgimento e desparecimento, tal qual – e isso é tudo.

Esse tipo de visão irá dar origem a um sentimento tranqüilo de desapego em relação ao mundo. Esse sentimento surge quando vemos que na verdade não há nada que valha a pena querer; há apenas surgimento e desaparecimento, um ser nascendo seguido de um morrendo. Assim é como a mente chega no “soltar-se das coisas,” permitir que tudo siga de acordo com a sua própria natureza. As coisas surgem e desaparecem na nossa mente, e nós compreendemos isso. Quando a felicidade surge, nós compreendemos; quando a insatisfação surge, nós compreendemos. E esse “compreender a felicidade” significa que não nos identificamos com ela como sendo nossa. Do mesmo modo com a insatisfação e a infelicidade, nós não nos identificamos com elas como sendo nossas. Quando não nos identificamos e não nos apegamos à felicidade e nem ao sofrimento, resta-nos somente o modo natural das coisas.

Ajahn Chan

(Trecho de uma palestra curta para uma senhora Inglesa que havia passado dois meses no final de 1978, princípio de 1979, sob orientação de Ajaan Chah, e que estava de partida - Reirado do site “Acesso ao Insight”)