sábado, 27 de outubro de 2012

Se eu morrer muito novo


Se eu morrer muito novo, ouçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava,
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva -
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra coisa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
(em "Poesia Completa de Alberto Caeiro")

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