quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A principal ferramenta espiritual

Sem dúvida, não existe uma resposta fácil de como nos libertarmos do sofrimento, mas nossos professores fazem todo o possível para nos guiar dando-nos uma espécie de caixa de ferramentas espiritual. A caixa contém ensinamentos e práticas pertinentes e úteis, assim como uma introdução a uma visão absoluta da realidade: que os pensamentos, emoções ou shenpa não são tão sólidos como parecem. A ferramenta principal, que engloba o relativo e o absoluto, é a prática de meditar sentado, sobretudo, quando ensinada por Chögyam Trungpa. Ele descreveu a prática básica como estar totalmente presente. E enfatizou que abre espaço para que nossas neuroses aflorem. Não era, como disse, “umas férias da irritação”.

Ele ressaltou que essa prática básica, sintetizada pela instrução de voltar sempre ao imediatismo de nossa experiência, de respirar, sentir, ou outro objetivo da meditação, revela uma completa abertura em relação às coisas como elas são, sem um revestimento conceitual. Permite que iluminemos e apreciemos nosso mundo e a nós mesmos incondicionalmente. Seu conselho sobre a maneira de nos relacionarmos com o medo, a dor, ou a falta de uma estrutura sólida é de lhes dar boas-vindas, de ficarmos coesos em vez de nos fragmentarmos em dois, uma parte rejeitando ou julgando a outra. Sua instrução em relação à respiração era de senti-la de leve e deixá-la fluir. Seu ensinamento a respeito dos pensamentos era o mesmo: deixá-los livres para desaparecerem no espaço sem fazer da meditação um projeto de autoaperfeiçoamento.


A atitude em relação a essa meditação é de relaxar. Sem uma sensação de esforço para alcançar um estado superior, simplesmente sentamos sem uma meta, sem tentar ficar calmo ou se libertar de todos os pensamentos, e seguimos as instruções: sentar confortavelmente, com os olhos abertos, consciente do objeto da meditação sem sobrecarregá-lo (não é uma concentração intensa), e a mente devaneia, mas depois volta com suavidade. O que quer que aconteça, não nos desculpamos ou condenamos. A imagem usada com  frequência é de uma pessoa idosa sentada sob o sol, observando calmamente crianças brincando.

Pema Chodron
(em "O Salto: Um Novo Caminho Para Enfrentar as Dificuldades")

Nenhum comentário:

Postar um comentário