Sem dúvida, não existe uma resposta fácil de como nos
libertarmos do sofrimento, mas nossos professores fazem todo o possível para
nos guiar dando-nos uma espécie de caixa de ferramentas espiritual. A caixa
contém ensinamentos e práticas pertinentes e úteis, assim como uma introdução a
uma visão absoluta da realidade: que os pensamentos, emoções ou shenpa não são
tão sólidos como parecem. A ferramenta principal, que engloba o relativo e o
absoluto, é a prática de meditar sentado, sobretudo, quando ensinada por
Chögyam Trungpa. Ele descreveu a prática básica como estar totalmente presente.
E enfatizou que abre espaço para que nossas neuroses aflorem. Não era, como
disse, “umas férias da irritação”.
Ele ressaltou que essa prática básica, sintetizada pela
instrução de voltar sempre ao imediatismo de nossa experiência, de respirar,
sentir, ou outro objetivo da meditação, revela uma completa abertura em relação
às coisas como elas são, sem um revestimento conceitual. Permite que iluminemos
e apreciemos nosso mundo e a nós mesmos incondicionalmente. Seu conselho sobre
a maneira de nos relacionarmos com o medo, a dor, ou a falta de uma estrutura
sólida é de lhes dar boas-vindas, de ficarmos coesos em vez de nos
fragmentarmos em dois, uma parte rejeitando ou julgando a outra. Sua instrução
em relação à respiração era de senti-la de leve e deixá-la fluir. Seu
ensinamento a respeito dos pensamentos era o mesmo: deixá-los livres para
desaparecerem no espaço sem fazer da meditação um projeto de
autoaperfeiçoamento.
A atitude em relação a essa meditação é de relaxar. Sem uma
sensação de esforço para alcançar um estado superior, simplesmente sentamos sem
uma meta, sem tentar ficar calmo ou se libertar de todos os pensamentos, e
seguimos as instruções: sentar confortavelmente, com os olhos abertos,
consciente do objeto da meditação sem sobrecarregá-lo (não é uma concentração
intensa), e a mente devaneia, mas depois volta com suavidade. O que quer que
aconteça, não nos desculpamos ou condenamos. A imagem usada com frequência é de uma pessoa idosa sentada sob
o sol, observando calmamente crianças brincando.
Pema Chodron
(em "O Salto: Um
Novo Caminho Para Enfrentar as Dificuldades")
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