quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Reagir aos velhos hábitos



A propensão a sentirmos pena de nós mesmos, termos inveja, termos raiva – nossas reações emocionais tão familiares são como sementes que simplesmente continuamos a regar e nutrir. No entanto, cada vez que fazemos uma pausa e mantemos contato com a energia subjacente, paramos de reforçar essas propensões e começamos a nos abrir para possibilidades novas e refrescantes.

À medida que você for reagindo de modo diferente a um velho hábito, perceberá as mudanças. No passado, quando ficava irritado, você podia levar até três dias para se acalmar, mas, se continuar interrompendo os pensamentos raivosos, poderá chegar ao ponto em que levará apenas um dia para abandonar aquela raiva. Finalmente, apenas horas ou até um minuto e meio. Você está começando a se libertar do sofrimento.

A prática consiste em treinar a não seguir os pensamentos, não a livrar-se deles completamente. Isso seria impossível. Com o aprofundamento da prática, pode-se experimentar momentos livres de pensamentos, maiores extensões de tempo sem pensar, mas eles sempre voltam. Essa é a natureza da mente. Entretanto, não é preciso fazer do pensamento nossos vilões. Basta treinar para poder interromper seu impulso. A instrução básica é deixar os pensamentos passarem – ou rotula-los de “pensar” – e ficar com instantaneidade de experiência.

Todo seu ser desejará fazer a coisa habitual, desejará seguir o enredo. O enredo está associado à certeza e ao conforto. Sustenta seu sentido muito limitado e estático de ser, além de oferecer a promessa de segurança e felicidade. Só que a promessa é falsa e qualquer felicidade que ele traga é apenas temporária. Quanto mais você praticar para não fugir para o mundo da fantasia de seus pensamentos e, ao invés, entrar em contato com a sensação de desenraizamento que tem, mais acostumado ficará a experimentar as emoções como simples sensações – livre de conceitos, livre do enredo, livre das ideias fixas de bom e mau.


Pema Chodron
(em “A Beleza da Vida”)


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