A propensão a sentirmos pena de nós mesmos,
termos inveja, termos raiva – nossas reações emocionais tão familiares são como
sementes que simplesmente continuamos a regar e nutrir. No entanto, cada vez
que fazemos uma pausa e mantemos contato com a energia subjacente, paramos de
reforçar essas propensões e começamos a nos abrir para possibilidades novas e
refrescantes.
À medida que você for reagindo de modo diferente a um velho
hábito, perceberá as mudanças. No passado, quando ficava irritado, você podia
levar até três dias para se acalmar, mas, se continuar interrompendo os
pensamentos raivosos, poderá chegar ao ponto em que levará apenas um dia para
abandonar aquela raiva. Finalmente, apenas horas ou até um minuto e meio. Você
está começando a se libertar do sofrimento.
A prática consiste em treinar a não seguir os pensamentos, não a
livrar-se deles completamente. Isso seria impossível. Com o aprofundamento da
prática, pode-se experimentar momentos livres de pensamentos, maiores extensões
de tempo sem pensar, mas eles sempre voltam. Essa é a natureza da mente.
Entretanto, não é preciso fazer do pensamento nossos vilões. Basta treinar para
poder interromper seu impulso. A instrução básica é deixar os pensamentos
passarem – ou rotula-los de “pensar” – e ficar com instantaneidade de
experiência.
Todo seu ser desejará fazer a coisa habitual, desejará seguir o
enredo. O enredo está associado à certeza e ao conforto. Sustenta seu sentido muito
limitado e estático de ser, além de oferecer a promessa de segurança e
felicidade. Só que a promessa é falsa e qualquer felicidade que ele traga é
apenas temporária. Quanto mais você praticar para não fugir para o mundo da
fantasia de seus pensamentos e, ao invés, entrar em contato com a sensação de
desenraizamento que tem, mais acostumado ficará a experimentar as emoções como
simples sensações – livre de conceitos, livre do enredo, livre das ideias fixas
de bom e mau.
Pema Chodron
(em “A Beleza da Vida”)
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