A diferença entre teísmo e não-teísmo, não é sobre
acreditar ou não acreditar em deus. É uma questão que se aplica a todo mundo,
incluindo budistas e não-budistas. Teísmo é uma convicção, profundamente
enraizada, de que existe uma mão pra segurarmos. Se nós fizermos as coisas
certas, alguém vai nos apreciar e cuidar. Isso significa pensar que sempre vai
haver uma babá disponível quando precisarmos. Todos nós somos inclinados a
abdicar de nossas responsabilidades e dedicar nossa autoridade a algo fora de nós
mesmos.
Não-teísmo é relaxar dentro da ambigüidade e incerteza do
momento presente, sem tentar alcançar nada que possa nos proteger. Às vezes
pensamos que Dharma é algo fora de nós. Algo para se acreditar, algo para se
medir. No entanto, Dharma não é uma crença, não é um dogma. É uma total
apreciação da impermanência e da mudança. Os ensinamentos se desintegram quando
tentamos agarrá-los. Temos que experimentá-los sem esperança. Muitas pessoas
corajosas e compassivas os experimentaram e os ensinaram. A mensagem é: “Sem
medo”. Dharma nunca significou uma crença que nós seguimos cegamente. O Dharma
não nos dá nada, mesmo, para segurarmos.
Não-teísmo é finalmente perceber que não há uma babá com
que você possa contar. Você acaba de conseguir relacionamento bom e logo ela (ou ele) se
foi. Não-teísmo é perceber que não apenas babás vêm e vão, mas toda a vida é
assim. Essa é a verdade, e a verdade é inconveniente. Para aqueles que querem
algo pra segurar, a vida é ainda mais inconveniente. Desse ponto de vista,
teísmo é um vício. Somos todos viciados em esperança. Esperança de que a dúvida
e o mistério irão desaparecer. Esse vício tem um efeito doloroso na sociedade.
Uma sociedade baseada em montes de pessoas viciadas em conseguir terra firme
para pisar não é um lugar muito compassivo.
Pema Chodron
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