A água do rio flui
sempre, sem cessar. Flui rápida, não para um só instante e se vai. Seu murmúrio
evoca em mim o eco do tempo.
A água do tempo brilha
no leito do Universo, sempre correndo, fluindo. Pedras, árvores, casas e
cidades também fluem vagarosamente nesta correnteza, assim como os pensamentos,
as civilizações, nossas vidas e as vidas de todos os seres. Tudo isso pode
parecer imutável, mas na verdade essa ideia não passa de uma ilusão.
Apenas nós, seres
humanos, acreditamos que tudo é imutável. Esforçamo-nos para não sermos levados
pela correnteza, e lamentamo-nos por tudo que se vai. No entanto, mesmo
sofrendo e desdobrando-nos por evitar, caindo sete vezes e nos levantando oito,
não há como parar o fluir, que envolve também nossa dor e nossa luta.
Ao invés disso, é melhor
ver as coisas como são e nos juntarmos a essa correnteza, com suavidade. Apenas
assim poderemos encontrar prazer na fugacidade das coisas, uma vez que é
justamente essa fugacidade que tece as mais diversas figuras na tapeçaria da
vida.
Shundo Aoyama Roshi
(em “Para Uma Pessoa
Bonita – Contos de Uma Mestra Zen”)
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