segunda-feira, 15 de abril de 2019


Na visão clara não pode haver distração, obstáculo ou erro. O que chamamos de distração é a fixação a algo, enquanto na visão clara a distração se tornou objeto da não-meditação. Da mesma forma, embora no Vajrayana os obstáculos e obscurecimentos possam ser tomados como o caminho, nesta visão do Dzogchen nenhuma noção limitante como “obstáculos” e “obscurecimentos” pode surgir. Não há metas nem funções causais pré-concebidas, então o que quer que ocorra, perfeito como é, é a vasta espacialidade do agora. Não pode haver erro na realidade. Tudo o que surge na visão da realidade é percebido imediatamente como perfeito em si mesmo, e conhecido como um campo de igualdade em que nada tem maior virtude do que qualquer outra coisa. Além disso, não pode haver erro porque não há ninguém para definir certo e errado e ninguém para definir uma inclinação de preferir uma coisa à outra. Não há erro porque o erro em si é a natureza da mente, uma vasta matriz de espaço. Não há erro porque a verdade relativa e absoluta são uma só realidade; cada momento de nossa consciência no aqui e agora demonstra isso. Somente quando o intelecto, em seu modo de percepção dualista, separa absoluto do relativo, é que a noção de um estado ideal de consciência distinto do momento presente pode surgir. E há o cerne da delusão do samsara: o pensamento de que algo realizável existe, de que um objetivo existe para ser conquistado – lá fora ou aqui dentro – um estado superior ao que temos no agora, necessariamente exacerba a dor e a tristeza que originalmente motivou tal pensamento. A insatisfação que motiva o desejo por melhoria acarreta um ciclo interminável de insatisfação. Presos nesse loop eterno, sofremos na roda cíclica do samsara de renascimento e delusão. No início de todo pensamento, antes que ele seja apreendido, está a clareza e a vaziez do darmakaya, a espacialidade da natureza da mente, e, neste lugar, nenhum erro ou engano pode ser cometido.   


“O Coração-Vajra, O Tesouro Precioso do Dharmadhatu de Longchenpa – Keith Dowman”. Adaptado ao português por Kadag Lundru
(retirado do facebook, página Dzogchen – A Grande Perfeição)

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