Após esta análise dos
modos de descansar livremente, deve-se enfatizar que nenhum “estado” existe
para ser alcançado. Pensar que o Dzogchen é um estado a ser realizado,
imediatamente reifica o Dzogchen e enfatiza a dualidade que deve ser resolvida.
Assim, qualquer pensamento de que a presença pura é um estado como a euforia ou
a depressão, a certeza ou a dúvida, deve ser experiencialmente desconstruído no
momento de seu surgimento, assim como todo pensamento discursivo – qualquer
crença – que surja. Se a presença pura fosse um estado definível, haveria
causas e condições que afetariam esse estado, e haveria um efeito causado
posteriormente por esse estado. Se a presença pura fosse causada por certas
condições, a formalização dessas condições como técnica nos permitiria
praticá-la, em um processo, em um caminho que levasse ao destino, o objetivo,
que seria um estado fixo. Esse estado iria parecer "existir
verdadeiramente" no espaço-tempo; mas uma vez que ele seria um produto da
causalidade, seria composto e, portanto, impermanente e uma parte da existência
condicionada, que é outro nome para o samsara. No reino samsárico, onde a
ambição zelosa é necessária para atingir qualquer objetivo válido, tons de
inveja e rivalidade inevitavelmente acontecem, mesmo nas mentes mais
purificadas, porque a orientação para um objetivo acompanhada de ambição é
geralmente seguida de contenção. A preocupação constante com o estágio do
caminho e com o grau de realização perturbaria a mente e, finalmente, "o
estado" não poderia ser alcançado devido à preocupação de ter ou não sido
atingido. Longchenpa está convencido de que não há estado mental para ser
alcançado. Permitir o conceito de "estado" com base no fato de que é
o estado da cognição não-dual em oposição ao estado dualista da percepção é
abusar do intelecto. É como se o intelecto estivesse só esperando o
pronunciamento de "um estado" para reificá-lo e, em seguida,
agarrá-lo, aderir-se a ele, defender-se e justificar-se através dele. O
pensamento e o conceito, então, precedem ou substituem a experiência real. Se o
conceito a precede, então isso é a penetração do pensamento pela consciência
primordial de dentro que permite a experiência; se o conceito foi subsequente à
experiência, então a percepção dualista já enlameou as águas.
“O Coração-Vajra, O
Tesouro Precioso do Dharmadhatu de Longchenpa – Keith Dowman”. Adaptado ao
português por Kadag Lundru
(retirado do facebook,
página Dzogchen – A Grande Perfeição)
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