quinta-feira, 18 de abril de 2019


Após esta análise dos modos de descansar livremente, deve-se enfatizar que nenhum “estado” existe para ser alcançado. Pensar que o Dzogchen é um estado a ser realizado, imediatamente reifica o Dzogchen e enfatiza a dualidade que deve ser resolvida. Assim, qualquer pensamento de que a presença pura é um estado como a euforia ou a depressão, a certeza ou a dúvida, deve ser experiencialmente desconstruído no momento de seu surgimento, assim como todo pensamento discursivo – qualquer crença – que surja. Se a presença pura fosse um estado definível, haveria causas e condições que afetariam esse estado, e haveria um efeito causado posteriormente por esse estado. Se a presença pura fosse causada por certas condições, a formalização dessas condições como técnica nos permitiria praticá-la, em um processo, em um caminho que levasse ao destino, o objetivo, que seria um estado fixo. Esse estado iria parecer "existir verdadeiramente" no espaço-tempo; mas uma vez que ele seria um produto da causalidade, seria composto e, portanto, impermanente e uma parte da existência condicionada, que é outro nome para o samsara. No reino samsárico, onde a ambição zelosa é necessária para atingir qualquer objetivo válido, tons de inveja e rivalidade inevitavelmente acontecem, mesmo nas mentes mais purificadas, porque a orientação para um objetivo acompanhada de ambição é geralmente seguida de contenção. A preocupação constante com o estágio do caminho e com o grau de realização perturbaria a mente e, finalmente, "o estado" não poderia ser alcançado devido à preocupação de ter ou não sido atingido. Longchenpa está convencido de que não há estado mental para ser alcançado. Permitir o conceito de "estado" com base no fato de que é o estado da cognição não-dual em oposição ao estado dualista da percepção é abusar do intelecto. É como se o intelecto estivesse só esperando o pronunciamento de "um estado" para reificá-lo e, em seguida, agarrá-lo, aderir-se a ele, defender-se e justificar-se através dele. O pensamento e o conceito, então, precedem ou substituem a experiência real. Se o conceito a precede, então isso é a penetração do pensamento pela consciência primordial de dentro que permite a experiência; se o conceito foi subsequente à experiência, então a percepção dualista já enlameou as águas. 


“O Coração-Vajra, O Tesouro Precioso do Dharmadhatu de Longchenpa – Keith Dowman”. Adaptado ao português por Kadag Lundru
(retirado do facebook, página Dzogchen – A Grande Perfeição)



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