Em vez de deixar a negatividade tirar o melhor de nós,
podemos reconhecer que agora mesmo nos sentimos mal. Essa é uma coisa
compassiva a se fazer. Essa é a atitude corajosa a tomar. Podemos cheirar o mal
que nos sentimos, podemos sentir! Qual é a textura, a cor e a forma? Podemos
explorar a natureza do sentimento. Podemos conhecer a natureza do desgosto,
vergonha, e não acreditar que há algo errado nisso. Podemos abandonar a
esperança fundamental de que existe um eu melhor, que um dia vai emergir. Nós
não podemos simplesmente pular por cima de nós mesmos, como se não estivéssemos
lá. É melhor dar uma olhada direta em nossas esperanças e medos. Então, uma
espécie de confiança, nossa sanidade básica, surge.
É aí que entra a renúncia. Renúncia da esperança de que
nossas experiências podem ser diferentes. Renúncia da esperança de que nós
podemos ser melhores. As regras monásticas budistas que recomendam renunciar ao
álcool, renunciar ao sexo e assim por diante, não estão indicando que essas
coisas são inerentemente más ou imorais. Mas que nós as usamos como
baby-sitters. Nós as usamos como um caminho para escapar. Nós as usamos para
tentar obter conforto e para nos distrair.
Na verdade, o que renunciamos é à esperança tenaz de que
podemos ser salvos de quem somos. Renúncia é um ensinamento que nos inspira a
investigar o que está acontecendo cada vez que nos agarramos a alguma coisa
porque nós não conseguimos aguentar e encarar o que está por vir.
Se a esperança e o medo são dois lados da mesma moeda,
então a desesperança e a coragem também são. Se desejarmos abandonar a
esperança para que a insegurança e a dor sejam exterminadas, então podemos
conseguir a coragem para relaxar na falta de chão firme de nossa situação. Esse
é o primeiro passo no Caminho.
Pema Chodron
(em "Quando Tudo se Desfaz")
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