terça-feira, 7 de outubro de 2014

Meditar significa acolher

Às vezes sentimos culpa. Às vezes somos arrogantes. Em outras, nossos pensamentos e lembranças nos aterrorizam e nos tornam muito infelizes. Os pensamentos cruzam nossa mente o tempo todo e, quando sentamos, estamos dando a todos eles muito espaço para que surjam. Como nuvens em um céu amplo ou ondas em um vasto mar, estamos dando a todos os nossos pensamentos espaço para que apareçam. Quando um deles atrai nossa atenção e nos arrebata, quer seja agradável ou desagradável, devemos perceber "estou pensando", com toda a abertura e bondade que pudermos reunir e deixar que ele se dissolva no amplo céu. Não há problema se as nuvens e ondas imediatamente retornam. Simplesmente reconhecemos sua existência mais uma vez, com amizade incondicional, "estou pensando", e deixamos que elas se dissolvam continuamente.

Às vezes as pessoas usam a meditação para tentar evitar mais sentimentos ou pensamentos perturbadores. Tentamos usá-la como uma forma de afastar o que nos incomoda e quando nos conectamos com algo prazeroso ou inspirador, podemos achar que finalmente conseguimos, e tentamos ficar nesse ponto onde há paz, harmonia e onde não temos nada a temer.

Portanto, desde o início, é bom lembrar sempre que meditar relaciona-se com abrir e relaxar, surja o que surgir, sem selecionar ou escolher. Definitivamente não significa reprimir nada e também não tem a finalidade de estimular o apego. Milarepa, um yogui tibetano do século XII, cantava canções  maravilhosas sobre a forma correta de meditar. Uma delas dizia que há mais projeções na mente que partículas de poeira num raio de sol, e que nem mesmo centenas de lanças podem pôr fim a isso. Portanto, como meditadores, podemos parar de lutar contra nossos pensamentos e perceber que a honestidade e o senso de humor são muito inspiradores e úteis (...).

Pema Chodron
(em "When Things Fall Apart")

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