Às vezes sentimos culpa. Às vezes somos arrogantes. Em
outras, nossos pensamentos e lembranças nos aterrorizam e nos tornam muito
infelizes. Os pensamentos cruzam nossa mente o tempo todo e, quando sentamos,
estamos dando a todos eles muito espaço para que surjam. Como nuvens em um céu
amplo ou ondas em um vasto mar, estamos dando a todos os nossos pensamentos
espaço para que apareçam. Quando um deles atrai nossa atenção e nos arrebata,
quer seja agradável ou desagradável, devemos perceber "estou pensando",
com toda a abertura e bondade que pudermos reunir e deixar que ele se dissolva
no amplo céu. Não há problema se as nuvens e ondas imediatamente retornam.
Simplesmente reconhecemos sua existência mais uma vez, com amizade
incondicional, "estou pensando", e deixamos que elas se dissolvam
continuamente.
Às vezes as pessoas usam a meditação para tentar evitar
mais sentimentos ou pensamentos perturbadores. Tentamos usá-la como uma forma de afastar o que nos incomoda e quando nos conectamos com algo prazeroso
ou inspirador, podemos achar que finalmente conseguimos, e tentamos ficar nesse
ponto onde há paz, harmonia e onde não temos nada a temer.
Portanto, desde o início, é bom lembrar sempre que meditar
relaciona-se com abrir e relaxar, surja o que surgir, sem selecionar ou
escolher. Definitivamente não significa reprimir nada e também não tem a
finalidade de estimular o apego. Milarepa, um yogui tibetano do século XII, cantava canções maravilhosas sobre a forma correta de meditar. Uma delas dizia
que há mais projeções na mente que partículas de poeira num raio de sol, e que
nem mesmo centenas de lanças podem pôr fim a isso. Portanto, como meditadores, podemos parar de lutar contra nossos pensamentos e perceber que a honestidade e o senso de humor são muito inspiradores e úteis (...).
Pema Chodron
(em "When Things Fall Apart")
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