segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Aprender com os erros e prosseguir no caminho



No livro A Arte da Felicidade, Howard Cutler perguntou ao Dalai Lama se havia feito alguma coisa na vida da qual se arrependia, ou lamentasse. Ele disse que sim, e contou a história de um monge idoso que o procurou um dia e lhe falou que gostaria de realizar uma prática de alto nível budista. O Dalai Lama, sem refletir, disse ao homem idoso que essa prática seria muito difícil de fazer e talvez fosse mais apropriada para alguém mais jovem, porque, tradicionalmente, era uma prática que deveria começar na adolescência. Depois, soube que o monge se suicidara para renascer em um corpo mais jovem, a fim de realizar melhor a prática.

Cutler ficou atônito. Ele perguntou ao Dalai Lama como havia conseguido lidar com esse arrependimento. Também perguntou como se libertara dele. O Dalai Lama fez uma longa pausa e refletiu profundamente. Depois disse: “Eu não me libertei desse sentimento. Ainda está presente”. E continuou: “Embora esse sentimento de arrependimento ainda esteja presente, não está associado a um sentimento de opressão ou um motivo para eu recuar”.

Fiquei muito comovida com essas palavras. Temos a ideia errônea de que ou nos arrependemos ou nos livramos da culpa. Trungpa Rinpoche disse que devíamos guardar a tristeza da vida em nosso coração, mas sem esquecer a beleza do mundo e a maravilha de estar vivo. Então, chegará um momento em que seremos capazes de sentir o coração dilacerado pelos nossos sofrimentos e os de outras pessoas, sem nos deprimirmos. O Dalai Lama disse ainda que a atitude de se deprimir ou de se retrair por causa de arrependimentos não beneficia ninguém e, por isso, aprendeu com seus erros e prosseguiu em seu caminho fazendo todo o possível para ajudar os outros. Creio que podemos dizer que ele é um grande professor porque enfrenta seus desafios. Ele não passa pela vida imune, sem tristeza ou remorso. Porém, ele não transforma esses sentimentos no que chamamos “culpa” ou a vergonha que nos deprime e nos faz sentir impotentes em relação a nós mesmos e aos outros.

Pema Chodron
(em "O Salto: Um Novo Caminho Para Enfrentar as Dificuldades")



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