Quando nos protegemos para não sentir dor, essa proteção
transforma-se em uma espécie de armadura, uma couraça que aprisiona a suavidade
de nosso coração. Fazemos tudo o que vem à mente para não nos sentirmos
ameaçados. Tentamos prolongar a sensação de estar bem consigo mesmo. Quando
vemos nas revistas fotografias coloridas de pessoas se divertindo na praia,
muitos de nós sinceramente desejam que a vida pudesse ser assim tão boa.
Quando inspiramos a dor, de algum modo, ela penetra nossa
couraça. Nossa proteção vai sendo suavizada. Aquela armadura pesada,
enferrujada e rangente começa, enfim, a parecer menos monolítica. Com a
inspiração, ela começa a ruir e percebemos que podemos respirar profundamente e
relaxar. Bondade e ternura começam a emergir. Não precisamos mais ficar tensos,
como se estivéssemos o tempo todo na cadeira do dentista.
Quando expiramos alívio e sensação de espaço, também
estamos promovendo a desintegração da couraça. A expiração é uma metáfora para
expressar a abertura total de nosso próprio ser. Quando sentimos que algo é
precioso, em vez de nos apegarmos fortemente, podemos abrir as mãos e dividi-lo
com os demais. Podemos dar tudo. Podemos compartilhar a riqueza desta
insondável experiência humana.
Pema Chodron
(em”Quando Tudo se Desfaz”)
(em”Quando Tudo se Desfaz”)