sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Quando nos protegemos para não sentir dor

Quando nos protegemos para não sentir dor, essa proteção transforma-se em uma espécie de armadura, uma couraça que aprisiona a suavidade de nosso coração. Fazemos tudo o que vem à mente para não nos sentirmos ameaçados. Tentamos prolongar a sensação de estar bem consigo mesmo. Quando vemos nas revistas fotografias coloridas de pessoas se divertindo na praia, muitos de nós sinceramente desejam que a vida pudesse ser assim tão boa.

Quando inspiramos a dor, de algum modo, ela penetra nossa couraça. Nossa proteção vai sendo suavizada. Aquela armadura pesada, enferrujada e rangente começa, enfim, a parecer menos monolítica. Com a inspiração, ela começa a ruir e percebemos que podemos respirar profundamente e relaxar. Bondade e ternura começam a emergir. Não precisamos mais ficar tensos, como se estivéssemos o tempo todo na cadeira do dentista.

Quando expiramos alívio e sensação de espaço, também estamos promovendo a desintegração da couraça. A expiração é uma metáfora para expressar a abertura total de nosso próprio ser. Quando sentimos que algo é precioso, em vez de nos apegarmos fortemente, podemos abrir as mãos e dividi-lo com os demais. Podemos dar tudo. Podemos compartilhar a riqueza desta insondável experiência humana.

Pema Chodron
(em”Quando Tudo se Desfaz”)