Quando vejo a neve, eu me lembro de um poema. Ele se chama “Neve
que cai”, de Misuzu Kaneko, uma jovem que partiu deste mundo com 26 anos.
A neve do alto
Que frio que ela deve
sentir!
Pois o luar cai gélido
sobre ela
A neve de baixo
Que peso que ela deve
sentir!
Pois centenas de pessoas
pisam nela
A neve do meio
Que solidão que ela deve
sentir!
Pois não consegue ver
nem o céu nem o chão
Como uma pessoa consegue ter uma sensibilidade tão grande
para descrever os sentimentos da neve? (...) Misuzu aniquilou totalmente o seu
ego, tornando-se uma com a neve e sentindo com ela o frio, suportando com ela o
peso das pessoas e chorando com ela por causa da solidão
Existe outro poema de Misuzu Kaneko chamado “Pesca Farta”.
É alvorada, o sol está
raiando
E a pesca é farta
Muitas sardinhas grandes
Caindo na rede
A praia toda
Está em festa
Mas nas águas do mar
São rezadas missas pelos
espíritos
Das milhares de
sardinhas pescadas pelos humanos
É possível até visualizar Misuzu chorando ao ouvir o pranto
das sardinhas, enquanto observa as pessoas explodindo de alegria pela pesca
farta.
Misuzu Kaneko faleceu muito jovem, com 26 anos.
Acredito que ela tinha olhos para ver o que não pode ser
visto e ouvidos para ouvir que não pode ser ouvido.
Shundo Aoyama Roshi
(em “A Coisa Mais Preciosa da Vida”)
(em “A Coisa Mais Preciosa da Vida”)
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