Quando eu trabalhava no Instituto
Pasteur e estava mergulhado na vida parisiense, os poucos momentos que
reservava todos os dias para a contemplação traziam-me benefícios enormes. Eles
se prolongavam como um perfume nas atividades do dia e lhes devam um valor
inteiramente novo. Por contemplação, aqui, quero dizer não um mero momento de
relaxamento, mas voltar o olhar para dentro.
É muito fecundo observar como os
pensamentos surgem, e contemplar o estado de serenidade e simplicidade que está
sempre presente por trás da trama que tecem, sejam eles sombrios, sejam
otimistas. Isso não é tão complicado quanto parece à primeira vista. Basta que
você dedique um pouco de seu tempo a esse exercício para sentir seu impacto e
apreciar sua fertilidade. Adquirindo gradualmente, por meio da experiência
introspectiva, uma compreensão melhor de como nascem os pensamentos, aprendemos
a nos proteger dos venenos mentais. Uma vez que encontremos um pouco mais de
paz interior, é muito mais fácil assistir ao desabrochar da vida emocional e
profissional. De forma semelhante, à medida que nos libertamos de inseguranças
e medos interiores (que em geral estão ligados a um autocentramento excessivo e
a uma compreensão muito limitada do funcionamento da mente), tendo menos a
recear, tornamo-nos mais abertos aos outros e melhor instrumentalizados para
enfrentar os altos e baixos da vida.
Matthieu Ricard
(em “Felicidade – A Prática do Bem-Estar”)
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