sexta-feira, 10 de setembro de 2021

 

O que havia acabado de acontecer no trem? Meu ouvido havia detectado um som, não um som bom, nem um som ruim, apenas som, apenas o contato entre o órgão sensorial e o objeto. E depois? Minha mente foi engolida por uma história negativa a ponto de eu ter esquecido que as palavras, imagens e impressões que criaram a história não eram verdadeiras para nenhuma outra realidade além da que estava na minha mente. O fato de ter sido fisgado pela história significa que perdemos o contato com a percepção. A associação obscureceu a simplicidade do som apenas. É por isso que dizemos: o corpo é a morada da mente que agarra.

Ocorrem interpretações equivocadas sobre a fonte da sensação porque a percepção e a interpretação surgem quase que simultaneamente, tão próximas que se cria uma impressão forte, porém incorreta, de que a realidade interpretativa — seja ela boa ou má, cativante ou aversiva — está alojada dentro do próprio objeto e não na mente. Isso pode ser muito difícil. Quando ficamos com a cabeça presa nas nuvens — nuvens bonitas, nuvens feias — não conseguimos ver que elas são impermanentes, que têm vida própria e que vão passar, se deixarmos. Quando nos relacionamos com o mundo com uma mente cheia de prejulgamentos, erigimos uma barreira entre nós e a realidade como ela é.

 

Yongey Mingyur Rinpoche

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