O que havia acabado de
acontecer no trem? Meu ouvido havia detectado um som, não um som bom, nem um
som ruim, apenas som, apenas o contato entre o órgão sensorial e o objeto. E
depois? Minha mente foi engolida por uma história negativa a ponto de eu ter
esquecido que as palavras, imagens e impressões que criaram a história não eram
verdadeiras para nenhuma outra realidade além da que estava na minha mente. O
fato de ter sido fisgado pela história significa que perdemos o contato com a
percepção. A associação obscureceu a simplicidade do som apenas. É por isso que
dizemos: o corpo é a morada da mente que agarra.
Ocorrem interpretações
equivocadas sobre a fonte da sensação porque a percepção e a interpretação
surgem quase que simultaneamente, tão próximas que se cria uma impressão forte,
porém incorreta, de que a realidade interpretativa — seja ela boa ou má,
cativante ou aversiva — está alojada dentro do próprio objeto e não na mente.
Isso pode ser muito difícil. Quando ficamos com a cabeça presa nas nuvens —
nuvens bonitas, nuvens feias — não conseguimos ver que elas são impermanentes,
que têm vida própria e que vão passar, se deixarmos. Quando nos relacionamos
com o mundo com uma mente cheia de prejulgamentos, erigimos uma barreira entre
nós e a realidade como ela é.
Yongey Mingyur Rinpoche
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