Pema Chödrön: Rinpoche, como você já vive na América do
Norte há algum tempo e conhece bem a mente e a cultura ocidentais, na sua
opinião, qual é o conselho mais útil que se pode dar aos estudantes do dharma
aqui?
Ven. Dzigar Kongtrul Rinpoche: A coisa mais importante que
eu percebo que os alunos ocidentais precisam compreender é a ausência de culpa.
PC: Ausência de culpa?
VDKR: Sim, ausência de culpa. Eles precisam compreender que
uma pessoa ou a sua mente é inocente por natureza.
PC: Pode explicar o que quer dizer com “inocente”?
VDKR: Quero dizer que, do ponto de vista do budismo,
podemos entender que tudo o que fazemos de mal a nós mesmos e aos outros tem
origem em confusões e ignorância profundamente enraizadas, mas que a mente é
naturalmente pura e iluminada. Quando sentimos uma culpa muito grande, nos
esquecemos dessa perspectiva.
PC: Acho que às vezes os alunos ocidentais têm dificuldade
de acreditar nessa perspectiva.
VDKR: O fato de que todos os seres sencientes desejam a
felicidade e a liberdade prova que a natureza de suas mentes é pura e inocente.
PC: Mas, aparentemente, nós nos identificamos mais com o
“nosso lado mau” do que com a pureza e a inocência.
VDKR: Essa noção de um “lado mau” vem da não compreensão da
ideia de ausência de eu que é tão central ao caminho budista. A compreensão de
que não existe um “eu” sólido, singular ou permanente torna possível acolhermos
o que quer que surja na vida sem nos sentirmos tão intimidados pela nossa
experiência, sem nos rendermos como um cão derrotado em uma briga. Podemos
perceber que as coisas surgem devido ao nosso carma que se desdobra, e isso não
tem necessariamente que ser algo tão pessoal. Assim, podemos nos identificar
com algo maior – que é a nossa própria natureza. Dessa perspectiva, como não
existe um eu sólido, singular, permanente, não há um eu “do mal” pelo qual
sentir culpa. A mente é inocente, mas é influenciada pela ignorância e por
crenças conceituais equivocadas que projetam um eu. Mas não existe um eu.
PC: Então, como podemos compreender a ausência de eu?
VDKR: A mente possui uma inteligência inata, e essa
inteligência pode ser cultivada, a fim de que possamos compreender a ausência
de eu, que é o oposto desse “eu” projetado. Essa é a nossa verdadeira natureza.
(Conversa entre Pema
Chodron e Dzigar Kongtrul Rinpoche – Publicado originalmente na Revista
Tricycle. Tradução de Lilian Moreira Mendes. Retirado do site Buda Virtual)
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