sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Mudar o foco




Acreditar no enredo – é algo profundamente arraigado em nós. Declaramos nossas opiniões como se fossem indiscutíveis: “ Jane é intrinsecamente horrível. Isso é um fato. ” “Ralph é intrinsecamente cativante. Não há nenhuma dúvida quanto a isso. ” O modo de enfraquecer o hábito de se agarrar as ideias fixas é mudar o foco para uma perspectiva mais ampla. Em vez de ficar preso ao drama, veja se consegue sentir a energia dinâmica dos pensamentos e emoções. Veja se consegue experimentar o espaço ao redor dos pensamentos: experimente o modo como eles surgem no espaço, permanecem por um tempinho e depois retornam ao espaço. Se você não reprime os pensamentos e emoções e não corre com eles, estará numa posição interessante. A posição de não rejeitar nem justificar fica bem no meio de lugar nenhum. É lá que você poderá finalmente abraçar o que está sentindo. É lá que você poderá ver o céu.

Enquanto você medita, podem surgir lembranças de algo angustiante que ocorreu no passado. Ver tudo isso pode ser bem libertador. Mas, se você está sempre visitando a memória de algo angustiante, reprocessando o que aconteceu, e fica obcecado com o enredo, ela se torna parte de sua identidade estática. Você só está fortalecendo sua propensão a se experimentar como o ofendido, a vítima. Está fortalecendo uma propensão pré-existente de culpar os outros – seus pais e alguém mais – como aqueles que o trataram injustamente. Continuar a reciclar o velho enredo é um modo de evitar a essencial ambiguidade. As emoções vão ficando, sem interrupção quando as abastecemos com palavras. É como derramar querosene numa brasa para inflamá-la. Sem as palavras, sem os pensamentos repetitivos, as emoções não duram mais que um minuto e meio.


Pema Chodron
(em “A Beleza da Vida”)


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