terça-feira, 29 de julho de 2014

Colocar os olhos de Buda

Pergunta– Gostaria que o Senhor comentasse um pouco sobre o Sutra do Coração.

Monge Genshô – “Oh Shariputra, forma é vazio e vazio é forma. Vazio nada mais é do que forma, forma nada mais é do que vazio”. Este é o centro do Sutra do Coração da Sabedoria. Se você entender esta frase, promete o Sutra, livra-se de toda dor e sofrimento. Toda vida é um ciclo, um fluxo. Nós olhamos inícios, mortes, etc., mas na verdade a vida é um ciclo. Nós morremos, viramos adubo, crescem plantas, plantas viram frutos, comemos o fruto, etc… Nós olhamos uma floresta e vemos um reciclar contínuo. Quem olha os eventos particulares vê nascimento e morte. Em uma floresta há muita morte acontecendo, certo? Troncos apodrecendo, animais que nascem e morrem. No entanto, nós olhamos a floresta e vemos sua beleza. Da mesma forma a vida humana, nós vemos os inícios e fins. Por não observarmos a continuidade das coisas, vemos tudo começando e terminando, e tudo tão sofrido, logo, achamos que a vida não vale a pena. Perdemos, de fato, a visão do todo.

Seria como uma pessoa na floresta chorando a folha que cai, ou outra na beira da praia chorando as ondas que quebram. A beleza nada tem a ver como começos e fins, a beleza da vida está na continuidade. Então o vazio de um eu é forma, as formas são todas manifestações da vacuidade. A vacuidade é ausente de um eu, logo, não há eu em coisa alguma. Só existe o vazio, que é belíssimo, pois é o próprio céu azul. Despertar é trocar nossos olhos e colocar os olhos de Buda. Aqueles que colocam os olhos de Buda, vêem o nirvana, que é aqui. A diferença não está no mundo e sim nos olhos.

Monge Genshô
(em seu blog “O Pico da Montanha é onde estão os meus pés”)

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