quinta-feira, 24 de julho de 2014

Estratégias inúteis

Então, em uma noite, como não conseguia dormir, fui para a sala de meditação e sentei-me lá a noite inteira. Estava apenas sentada, sentindo uma dor crua e quase vazia de pensamentos. De repente, algo aconteceu: tive um insight de extrema clareza de que toda a minha personalidade, toda a minha estrutura ególatra, baseava-se em não querer ir para esse lugar instável. Tudo o que fiz, meu modo de sorrir, de falar com as pessoas, de tentar agradar a todos, foi uma estratégia para evitar esse sentimento. Percebi que a nossa fachada, nossa pequena canção e dança que todos fazemos, fundamenta-se na tentativa de evitar a instabilidade que permeia nossas vidas.

Com o aprendizado da impermanência, tornamo-nos muito familiarizados com esse lugar instável e, pouco a pouco, ele deixa de ser ameaçador. Em vez da ansiedade, permanecemos presentes. Não mais investimos em tentativas constantes de nos afastar da insegurança. Achamos que encarar nossos demônios trará à lembrança algum acontecimento traumático ou a descoberta de que não temos nenhum valor. Mas, ao contrário, é justamente enfrentando essa sensação desconfortável e inquietante de não ter um lugar para fugir que descobriremos – imagine o quê? – que sobrevivemos e não iremos desmoronar, sentimos um profundo alívio e uma sensação de liberdade.

Pema Chodron
(em “O Salto: Um Novo Caminho Para Enfrentar as Dificuldades”)

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