Então, em uma noite, como não conseguia dormir, fui para a
sala de meditação e sentei-me lá a noite inteira. Estava apenas sentada,
sentindo uma dor crua e quase vazia de pensamentos. De repente, algo aconteceu:
tive um insight de extrema clareza de que toda a minha personalidade, toda a
minha estrutura ególatra, baseava-se em não querer ir para esse lugar instável.
Tudo o que fiz, meu modo de sorrir, de falar com as pessoas, de tentar agradar
a todos, foi uma estratégia para evitar esse sentimento. Percebi que a nossa
fachada, nossa pequena canção e dança que todos fazemos, fundamenta-se na
tentativa de evitar a instabilidade que permeia nossas vidas.
Com o aprendizado da impermanência, tornamo-nos muito
familiarizados com esse lugar instável e, pouco a pouco, ele deixa de ser
ameaçador. Em vez da ansiedade, permanecemos presentes. Não mais investimos em
tentativas constantes de nos afastar da insegurança. Achamos que encarar nossos
demônios trará à lembrança algum acontecimento traumático ou a descoberta de
que não temos nenhum valor. Mas, ao contrário, é justamente enfrentando essa
sensação desconfortável e inquietante de não ter um lugar para fugir que
descobriremos – imagine o quê? – que sobrevivemos e não iremos desmoronar,
sentimos um profundo alívio e uma sensação de liberdade.
Pema Chodron
(em “O Salto: Um Novo
Caminho Para Enfrentar as Dificuldades”)
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