quarta-feira, 23 de julho de 2014

A coisa mais simples e mais profunda

Lembro-me de quando recebi pela primeira vez uma orientação de como meditar.  Parecia tão simples: sente-se, coloque-se em uma posição confortável, e respire conscientemente. Quando a mente devanear, retorne com suavidade e concentre-se em sua respiração. Pensei, “Isso será fácil”. Então, alguém bateu em um gongo marcando o início da meditação. Só descobri que divagara sem me concentrar na respiração quando bateram o gongo de novo para encerrar a sessão. Passei o tempo inteiro com o pensamento perdido.

Na ocasião, pensei que era alguma falha minha, e se persistisse na meditação logo a faria com perfeição, atenta a cada respiração. Talvez, às vezes, eu me distraísse com alguma coisa na maior parte do tempo queria estar presente. Passaram-se cerca de 30 anos desde então. Algumas vezes, minha mente está inquieta. Em outras, está tranquila. Às vezes, a energia agita-se. Algumas vezes, acalma-se. Tantas coisas acontecem quando meditamos, desde pensamentos, diminuição de respiração a imagens visuais, desconforto físico e angústia para atingir a máxima vivência. Tudo isso, acontece, e a atitude básica é: “Nada de especial”. O ponto decisivo é que, durante todo esse processo, exercitamo-nos a sermos abertos e receptivos a qualquer coisa que surgir.

Observei o seguinte nas pessoas atentas: elas têm plena consciência do que acontece em torno. Suas mentes não devaneiam. Elas permanecem alertas no caos, no silêncio, em um parque de diversões, em um pronto-socorro, na encosta de uma montanha: são completamente receptivas e abertas ao que está acontecendo. Isso é, ao mesmo tempo, a coisa mais simples e mais profunda, assim como a pausa contínua.

Mas, sem dúvida, precisamos de enorme estímulo e conselho prático para estar presente aqui e agora e nos abrirmos para a vida. Definitivamente, não é nossa reação habitual.

Pema Chodron

(em “O Salto: Um Novo Caminho Para Enfrentar as Dificuldades”)

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