quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O Vazio

Digamos por exemplo, que você esteja meditando e apareça uma sensação de raiva. Imediatamente, a reação da mente é de identificar a raiva como "minha" raiva, ou de dizer que "eu estou" com raiva. Em seguida você elabora sobre a sensação, quer seja procurando encaixá-la dentro do seu histórico ou como parte das suas idéias gerais sobre quando e onde a raiva pode ser justificada. O problema com tudo isso, sob a perspectiva do Buda, é que essas estórias e idéias causam muito sofrimento. Quanto mais você se envolve nelas, mais você desvia a atenção de enxergar a verdadeira causa do sofrimento: os rótulos de "eu" e "meu" que colocam todo o processo em movimento. Como resultado, você não consegue encontrar a forma de desemaranhar a causa e dar um fim ao sofrimento.
 
Se, no entanto, você conseguir adotar o vazio - não agindo ou reagindo em relação à raiva, mas simplesmente observando-a como uma série de eventos em si mesmos - você verá que a raiva está vazia de qualquer coisa com a qual valha a pena se identificar ou possuir. A medida que você domine o vazio com mais consistência, verá que essa verdade não se aplica somente a emoções mais grosseiras como a raiva, mas também, até para os eventos mais sutis na esfera da experiência. Esse é o sentido de vazio em todas as coisas. Quando você enxergar isso, compreenderá que rótulos como "eu" e "meu" são inadequados, desnecessários e que causam nada além de estresse e sofrimento. Então você poderá abandoná-los. Quando você os abandonar completamente, descobrirá uma forma de experiência ainda mais profunda que é completamente livre.  
 
Para obter domínio sobre a modalidade vazio de percepção é necessário treinamento em sólida virtude, concentração e sabedoria. Sem esse treinamento, a mente tende a ficar na modalidade que cria estórias e idéias sobre o mundo. E sob a perspectiva dessa modalidade, o ensinamento sobre o vazio soa simplesmente como mais uma estória ou idéia sobre o mundo, com novas regras. 

Ajaan Thanissaro
 

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