Digamos
por exemplo, que você esteja meditando e apareça uma sensação de raiva.
Imediatamente, a reação da mente é de identificar a raiva como
"minha" raiva, ou de dizer que "eu estou" com raiva. Em
seguida você elabora sobre a sensação, quer seja procurando encaixá-la dentro
do seu histórico ou como parte das suas idéias gerais sobre quando e onde a
raiva pode ser justificada. O problema com tudo isso, sob a perspectiva do Buda,
é que essas estórias e idéias causam muito sofrimento. Quanto mais você se
envolve nelas, mais você desvia a atenção de enxergar a verdadeira causa do
sofrimento: os rótulos de "eu" e "meu" que colocam todo o
processo em movimento. Como resultado, você não consegue encontrar a forma de
desemaranhar a causa e dar um fim ao sofrimento.
Se, no
entanto, você conseguir adotar o vazio - não agindo ou reagindo em relação à
raiva, mas simplesmente observando-a como uma série de eventos em si mesmos -
você verá que a raiva está vazia de qualquer coisa com a qual valha a pena se
identificar ou possuir. A medida que você domine o vazio com mais consistência,
verá que essa verdade não se aplica somente a emoções mais grosseiras como a
raiva, mas também, até para os eventos mais sutis na esfera da experiência.
Esse é o sentido de vazio em todas as coisas. Quando você enxergar isso,
compreenderá que rótulos como "eu" e "meu" são inadequados,
desnecessários e que causam nada além de estresse e sofrimento. Então você
poderá abandoná-los. Quando você os abandonar completamente, descobrirá uma
forma de experiência ainda mais profunda que é completamente livre.
Para
obter domínio sobre a modalidade vazio de percepção é necessário treinamento em
sólida virtude, concentração e sabedoria. Sem esse treinamento, a mente tende a
ficar na modalidade que cria estórias e idéias sobre o mundo. E sob a
perspectiva dessa modalidade, o ensinamento sobre o vazio soa simplesmente como
mais uma estória ou idéia sobre o mundo, com novas regras.
Ajaan Thanissaro
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