sábado, 1 de setembro de 2018

À deriva



Geralmente estou à deriva entre o que eu era antes de começar a meditar e o que sou agora, meditando. “À deriva” é a expressão exata: ás vezes aqui, meditando, ás vezes quem sabe onde, para onde minha incontáveis distrações tenham me levado. Sou então como um barco, porém mais um frágil barquinho que um sólido transatlântico. A ondas brincam comigo caprichosamente, porém à medida que vejo como elas vem e vão, começo a me transformar nessas mesmas ondas e a não saber o que há sido de meu pobre barquinho. Até que o encontro: Sim, aí está ele, digo a mim mesmo, à deriva. Cada vez que entro nesse barquinho, deixo de ser eu; cada vez que me lanço ao mar, me encontro.


Pablo D’Ors
(em “Biografía del Silencio”)



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