Geralmente estou à deriva entre o que eu era antes de
começar a meditar e o que sou agora, meditando. “À deriva” é a expressão exata:
ás vezes aqui, meditando, ás vezes quem sabe onde, para onde minha incontáveis
distrações tenham me levado. Sou então como um barco, porém mais um frágil
barquinho que um sólido transatlântico. A ondas brincam comigo caprichosamente,
porém à medida que vejo como elas vem e vão, começo a me transformar nessas
mesmas ondas e a não saber o que há sido de meu pobre barquinho. Até que o
encontro: Sim, aí está ele, digo a
mim mesmo, à deriva. Cada vez que entro
nesse barquinho, deixo de ser eu; cada vez que me lanço ao mar, me encontro.
Pablo D’Ors
(em “Biografía del
Silencio”)
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