quinta-feira, 19 de julho de 2018

Krishnamurti: Os anos do Despertar



“Em  minha  vida,  até  este  momento, tudo  tem  chegado  na  hora  certa. Minha  mente  está  serena, porém  concentrada,  e  eu  a  observo  como  o  gato  observa  o  camundongo.”

Tudo  faz  crer  que  foi  mais  ou  menos nessa  ocasião,  quando  alcançara  uma  nova  fase  de  consciência,  que  ele perdeu  quase  que  de  todo  a  memória  do  passado.  Isso  se  coadunava com  os  seus  ensinamentos,  segundo  os  quais  a  memória  era  um  peso morto  que  não  devia  ser  carregado  de  um  dia  para  o  outro,  a  não ser  com  finalidades  práticas;  a  morte  a  cada  dia  era  um constante renascer.

Lady Emily,  contudo,  e  outras  pessoas  como  ela  achavam  que  os seus ensinamentos  tinham  ficado  tão  abstratos  que    não podiam  servir de  auxílio  real  aos que eram obrigados  a viver  num  mundo  competitivo com  responsabilidades  de  família —  e  achavam  por  isso  que ele  estava, na  realidade,  fugindo  da  vida  como  esta  realmente  era.  Muitas  pessoas que  não  conseguiram  compreendê-lo  sentiram,  e  continuam  sentindo, o  mesmo.  Ele  tentou  convencer Lady Emily  em  algumas  cartas  que são  hoje  tão  válidas  quanto  o  eram  então:

Lamento  muito  que  você  se  sinta  dessa  maneira  a  respeito  do  que eu  digo.   O  êxtase  que  sinto  é  o  resultado  deste  mundo.   Eu  queria compreender,  queria  vencer  o  sofrimento,  a  dor  do  apego  e  do  desapego, da  morte,  da  continuidade  da  vida,  de  tudo  aquilo  por  que  o  homem passa,  todos  os  dias.  Eu  o  queria  compreender  e  vencer.  Compreendi  e venci.  Portanto,  meu  êxtase  é  real  e  infinito,  não  é  uma  fuga.  Conheço a  saída  desta  aflição  incessante  e  quero  ajudar  as  pessoas  a  safar-se  desse pântano  de  dor.  Não,  isto  não  é  uma  fuga.  [30  de  dezembro  de  1931.]



(citado por Mary Lutyens sobre Krishnamurti, em “Krishnamurti: Os Anos do Despertar”)


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