quarta-feira, 25 de abril de 2018

Denegrindo o presente



Eu me tornei monge 24 anos atrás. Estava com 21 anos. Me sentia incrivelmente atormentado pelo estresse, pela infelicidade, pela dor física e emocional. Por isso vim ao monastério aprender a meditar. Para livrar-me da dor.

E aconteceu que, para livrar-me da dor, comecei a tornar-me uma espécie de viciado em meditação. Participava das sessões mas me sentia cada vez mais deprimido. Sentia um imenso peso no coração, como se estivesse sem ar. Um profundo desânimo, uma imensa tristeza.

Dirigi-me ao instrutor, um lama tibetano, e disse, “Estou me esforçando muito, e no entanto sinto-me ainda mais deprimido”. E ele disse: “A meditação não está te deixando deprimido. É que você está meditando como quem usa drogas. Você quer sentir algum tipo de êxtase, quer sentir experiências agradáveis. Está procurando ansiosamente, forçando, tentando sentir alguma coisa especial.”

Reconheci que ele tinha razão e isso mudou completamente minha atitude em relação à meditação. Compreendi que estamos sempre buscando alguma coisa a mais em nossas vidas, e que nossa cultura incentiva o exagero dos sentidos: sentir-se bem, sentir-se agitado, sentir-se ocupado. Vi que ao ansiar por essas coisas, estamos na verdade dizendo a nós mesmos que não temos nada disso. Ao procurar felicidade e satisfação criamos carência, sensação de incompletude, de que nos faltam essas coisas.  Por acreditar que a felicidade não está aqui, que ela encontra-se em outro lugar, denegrimos o nosso presente.  E é assim que vivemos, acreditando que a felicidade está em algum outro lugar que não aqui. “Se eu for magro, se eu for bonito, se eu for rico... só assim serei feliz!”

Penso que conseguiremos progredir se aprendermos a abandonar esses desejos e descobrirmos que a felicidade e o contentamento estão exatamente aqui e agora.


Lama Gelong Thubten



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