Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão
certos.
Ter pressa é crer que a gente passa
adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima
da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exatamente
aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades
absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós
pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque
estamos aqui.
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)
(em “Poemas Inconjuntos”)
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